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- TREM MOVIDO A ENERGIA SOLAR DA AUTRÁLIA FUNCIONA SEM COMBUSTÍVEL E SEM FIOS
É o primeiro do tipo no mundo e já transporta passageiros. A Austrália introduziu um trem totalmente movido a energia solar, que funciona exclusivamente com energia renovável, sem usar combustível, fios aéreos ou emitir qualquer tipo de poluição. Este trem elétrico leve desliza silenciosamente pela cidade costeira de Byron Bay, alimentado por painéis solares instalados no teto e por estações de recarga localizadas em ambas as extremidades dos trilhos. Até mesmo o sistema de freios ajuda a recarregar as baterias de bordo. Inicialmente desenvolvido como uma iniciativa turística, o trem agora está atraindo a atenção global como um modelo de transporte público sustentável. Embora atualmente cubra apenas uma rota curta, ele demonstra que o transporte público limpo pode ser prático, eficiente e atraente. O futuro energético da Austrália está se tornando mais sustentável, e este trem silencioso, movido a energia solar, marca um passo significativo em direção à mobilidade com emissão zero. Não se trata mais apenas do destino; trata-se de mudar a forma como viajamos. O trem movido a energia solar na Austrália não representa apenas um avanço tecnológico, mas um símbolo de transformação no modo como pensamos a mobilidade. Ele nos lembra que cada trajeto pode ser mais do que um simples deslocamento: pode ser um ato de responsabilidade ambiental, de inovação e de compromisso com as futuras gerações. Viajar, nesse novo cenário, não é apenas chegar lá — é repensar o caminho, os recursos que utilizamos e o legado que deixamos. Autor: Fernando Braz
- SENADO APROVA PROPOSTA QUE ACABA COM FIANÇA PARA MOTORISTAS BÊBADOS QUE MATAREM NO TRÂNSITO
O ano era 2010, mas lembro como se fosse hoje. Havia há pouco tomado posse do cargo de agente de trânsito e estava ainda em período de monitoria. Em apoio ao plantão noturno, aproximadamente às 23 horas de uma noite de verão, meu monitor e eu recebemos um pedido de apoio com o etilômetro (conhecido popularmente como bafômetro) para uma ocorrência de danos materiais que era atendida por colegas da área central da cidade. Ao chegarmos ao local, um veículo sobre a calçada parecia beijar a parede do prédio onde funciona uma escola particular, àquele horário, felizmente, já sem movimento. Muito agitado e visivelmente alcoolizado, o condutor aguardava do lado de fora do veículo, próximo aos agentes que atendiam a ocorrência, balbuciava algo a eles tentando se explicar. Há uns dois metros de distância do condutor, eu segurava o aparelho, enquanto meus colegas explicavam para ele sobre como procederiam com o teste. Durante a explicação, percebi que o condutor não prestava muita atenção ao que o colega dizia e parecia um tanto incomodado com a minha presença. "Será que ele me conhece?" - pensei. Mas logo notei que a razão do incômodo estava nas minhas mãos. Completamente alheio ao que o colega dizia, ele o interrompe olhando em minha direção e exclamando: Oh rapaz, vira isso pra lá! - como se o etilômetro fosse capaz de denunciá-lo daquela distância. Nos anos que seguiram, atendi diversas outras ocorrências como aquela, nem todas tão cômicas, é verdade. Para ser sincero, a maioria com o final bem mais triste. Mas uma notícia que li recentemente me fez lembra dessa história e reacendeu a esperança de que cenas como essas não voltem a se repetir. O Projeto de Lei apresentado pelo senador Fabiano Contarato (PT-ES), aprovado recentemente no Senado. A proposta acaba com a possibilidade de pagamento de fiança para motoristas embriagados, que provoquem mortes no trânsito e responderem em liberdade. Na prática, o texto endurece a punição para quem mistura álcool e direção, garantindo a prisão preventiva nesses casos. Agora, o projeto segue para análise da Câmara dos Deputados. A medida pode até soar óbvia para quem já presenciou as consequências trágicas dessa combinação, mas representa um avanço importante no sentido de valorizar vidas. Afinal, se o etilômetro sempre denunciou com números, talvez, daqui pra frente, a lei consiga denunciar com consequências.
- TRANSPORTE PÚBLICO: O MAIS NOVO JOGO DE AZAR
Jogos de azar são jogos nos quais os que têm sorte são os que ganham com o azar dos outros jogadores, devido à diferença de probabilidades entre a sorte e o azar. Como as chances da sorte são escassas, são muitos mais os que têm azar, daí que tais jogos são sustentáveis através das perdas dos jogadores que financiam os que vão ter a sorte. Não é nenhuma novidade que o transporte público passa por uma profunda crise, que vem perdendo passageiros há anos consecutivamente e que precisa urgentemente de novas fontes de financiamento. Mas a notícia da aprovação do projeto de lei nº 009/22 no último dia 1º de Junho pela Câmara Municipal de Porto Alegre, confesso, me deixou um tanto preocupado com os caminhos tomados pelo executivo. O projeto em questão visa a criação de uma Loteria Municipal e tem como objetivo incrementar receitas para a qualificação e redução dos custos do sistema de transporte coletivo. Desde 2015, quando foi aprovada a Emenda Constitucional 90, de autoria da deputada federal Luiza Erundina (PSOL-SP), o transporte passou a ser um direito social, assim como são a saúde e a educação. No entanto, é necessário que haja a regulamentação para que a emenda comece a valer na prática. Atualmente, segundo estudo produzido pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), os usuários arcam com quase 90% da receita do sistema de transporte público urbano no Brasil. A partir disso, fico me perguntando: quem é o maior público usuário de jogos de loteria no nosso país? Em estudo recente foi levantado o perfil dos apostadores de Loteria no Brasil , que apontou que 51% dos apostadores tinha renda pessoal de até R$ 2.800,00 mensais, aproximadamente. Ou seja, mais da metade dos usuários são de baixa renda. Não é preciso refletir profundamente para perceber quem vai seguir financiando o sistema de transporte... O que me faz lembrar de uma clássica cena do Chaves, na qual ele fica incumbido por cuidar de uma banca de churros e acaba comprando dele mesmo. Espero sinceramente estar errado, mas receio que essa proposta venha a contribuir com pouco (ou nada) para reduzir a crise do transporte público. E que, infelizmente, o transporte público parece estar longe de deixar de ser um "jogo de azar", no qual, ao contrário dos tradicionais, poucos financiam seu próprio bolão. Mas nesse, na hora de receberem seu "prêmio", os apostadores são deixados à própria sorte.
- SE SUA VIDA ANDA DE CABEÇA PARA BAIXO, ESSE CARRO É PERFEITO PARA VOCÊ!
McMurtry Spéirling rodando em plataforma giratória - Foto: Divulgação McMurtry Boletos que não param de chegar, reunião que poderia ter sido um e-mail, fila no banco, problema no encanamento, aquela conta surpresa no cartão de crédito, ligações de telemarketing... a vida adulta é uma coleção de pequenos (e grandes) aborrecimentos. No meio de tudo isso, muitos encontram um refúgio: dirigir . Para alguns, é um momento de liberdade, de se desligar do mundo, de respirar fundo e curtir o simples prazer de estar ao volante. Uma pausa na correria. Mas e quando o carro, em vez de trazer paz, vira só mais um problema? Quando as idas à oficina se tornam mais frequentes que os passeios de fim de semana? Quando a manutenção, o consumo e os imprevistos transformam seu automóvel em mais um motivo para sua vida estar de cabeça para baixo? Pois bem, se esse é o seu caso, tenho a solução perfeita: o McMurtry Spéirling — o carro que, literalmente, consegue andar de cabeça para baixo. McMurtry Spéirling rodando em plataforma giratória - Foto: Divulgação McMurtry Esse esportivo elétrico, cujo nome significa “tempestade” em irlandês, é uma verdadeira revolução sobre rodas. Compacto, monoposto e com tecnologia de ventiladores que criam um downforce absurdo de até duas toneladas, o Spéirling tem tanta aderência que pode se manter grudado até mesmo no teto de um túnel. E não é só truque de engenharia: ele já provou ser o primeiro carro capaz de rodar de ponta-cabeça. Ah, e não pense que é só excentricidade. O McMurtry Spéirling acelera de 0 a 100 km/h em menos de 2 segundos, superando até carros de Fórmula 1. É o atual recordista da famosa subida de Goodwood e também destronou o “Top Gear Test Track”, batendo marcas que resistiam há duas décadas. Ou seja: se a sua vida anda de cabeça para baixo, nada mais justo do que ter um carro que acompanhe o ritmo. Só que, nesse caso, com muita tecnologia, potência e estilo.
- QUEM DIRIA QUE A MOBILIDADE DO FUTURO PODERIA CAUSAR ENJOO?
Quem é que não gosta de se movimentar com praticidade e agilidade? É para isso que alguns meios de transporte foram inventados e evoluíram tanto em nossa sociedade. Ainda que tenha havido alguma resistência no início, me parece que os carros elétricos vieram pra ficar. Mesmo que alguns contratempos ainda não tenham sido completamente resolvidos, principalmente aqueles relacionados às baterias e ao processo de carregamento, o futuro da indústria automobilística parece a cada dia mais inclinado à substituição dos motores à combustão interna. Entretanto, recentemente li uma notícia que achei no mínimo curiosa: que muitas pessoas estão queixando-se de enjoo quando utilizam veículos elétricos. Isso ocorre por uma confusão sensorial no cérebro, que recebe sinais conflitantes entre a visão (que não prevê o movimento devido à falta de som e vibrações) e o ouvido interno/corpo (que sente a aceleração imediata e a frenagem regenerativa sem os estímulos habituais). A ausência de ruído e trepidação, comum em carros a combustão, e o uso de dispositivos como celulares agravam essa sensação. Soluções incluem usar ruídos artificiais, focar no exterior do veículo e, em alguns casos, usar um som constante antes da viagem para estimular o sistema vestibular. Hoje, além dos que podemos ver nas ruas, como carros, ônibus, motos e bicicletas, temos meios de transporte utilizados dentro das construções, como elevadores e escadas rolantes. É interessante pensar em como essa evolução pode parecer desconfortável para algumas pessoas. Fiquei aqui imaginando como teria sido a primeira vez que uma escada rolante ou um elevador foram utilizados... Talvez alguém, no início do século passado, ao subir em uma escada rolante pela primeira vez, tenha sentido a mesma vertigem que hoje sentimos em um carro elétrico silencioso. Quem sabe até pensou: “Isso não vai pegar, prefiro minhas pernas mesmo, são mais confiáveis.” No fundo, a história da mobilidade parece sempre repetir o mesmo roteiro: primeiro, a estranheza; depois, a adaptação; por fim, a vida seguindo tão naturalmente que mal conseguimos imaginar como era antes. Talvez daqui a algumas décadas alguém leia que um dia existiram motoristas enjoados em veículos elétricos e ache essa curiosidade tão pitoresca quanto nós achamos engraçado imaginar o susto de quem pegou o primeiro elevador - que por sinal é considerado o meio de transporte mais seguro do mundo.
- DOUTOR NO TRÂNSITO: O MÉDICO QUE FALTAVA NAS ESTRADAS BRASILEIRAS SERÁ LANÇADO EM SETEMBRO
Projeto inédito une tecnologia, escuta ativa e acolhimento humano para transformar a saúde dos motoristas e a segurança viária do país. Há anos, o trânsito brasileiro convive com estatísticas alarmantes, acidentes evitáveis, mortes prematuras, condutores adoecidos, desorientados, cansados, emocionalmente instáveis, sem orientação, sem suporte, sem acolhimento. A frota cresce, paralelamente, o aumento da pressa, da produtividade a qualquer custo, da invisibilidade de quem está por trás do volante. E a saúde de quem dirige, muitas vezes, continua esquecida, invisível, negligenciada. Nesse contexto, nasce uma iniciativa que carrega um propósito maior do que tecnologia. O Doutor No Trânsito, idealizado pelo médico do tráfego Alysson Coimbra, é um assistente virtual gratuito com inteligência artificial, que atende motoristas e passageiros diretamente pelo WhatsApp, com linguagem simples, acessível, atualizada e funcional, e que promete ser um divisor de águas no cuidado com quem vive a rotina das ruas, avenidas e rodovias do país. “Esse é um projeto inédito no Brasil e no mundo, que busca resolver um problema real da nossa população e, principalmente, reforçar o alinhamento do nosso país com as metas da ONU para redução de mortes no trânsito até 2030”, relata Alysson Coimbra, médico do tráfego, diretor científico da Associação Mineira de Medicina do Tráfego e criador do projeto. Ao contrário de soluções criadas atrás de mesas ou planilhas, o Doutor No Trânsito nasceu na escuta, na presença, na vivência real do transporte brasileiro, durante mais de um ano de visitas técnicas, atendimentos em campo, rodas de conversa com motoristas de caminhão, de ônibus, de aplicativo, com motoboys, com taxistas, com trabalhadores que nunca tiveram acesso a nenhum tipo de orientação preventiva, de acolhimento, de apoio médico, de suporte humano. Cada funcionalidade foi inspirada em uma dor real, sentida, ouvida, compartilhada em solução prática. “Cada serviço dentro do assistente foi fruto de uma escuta ativa e de uma imersão real no contexto do transporte brasileiro, eu consegui converter dores em soluções, e isso fez toda a diferença”, cita Coimbra A plataforma oferece testes gratuitos sobre TDAH e sono, roteiros prontos para quem vai pegar estrada, checklists de segurança e manutenção preventiva, orientações para passageiros de ônibus rodoviário, dicas práticas de autocuidado físico, emocional e mental. Mas o grande diferencial, a geolocalização inteligente, permite ao usuário localizar, em tempo real, unidades do SUS, postos de combustível, locais de descanso, hotéis, pontos de apoio e serviços essenciais, tudo integrado ao WhatsApp, por texto ou por voz, acessível até mesmo em situações de emergência. Atualmente, o projeto segue em uso restrito para fase de testes com transportadoras, empresas de fretamento, companhias rodoviárias e mútuas de transporte, mas os primeiros resultados já revelam o seu potencial de impacto, inclusive do ponto de vista econômico. “Cada real investido no Doutor no Trânsito já está retornando cinco vezes mais em economia direta, com redução de sinistros e gastos operacionais para as empresas”, afirma Coimbra O lançamento oficial está previsto para setembro, durante a Semana Nacional do Trânsito, quando o assistente será disponibilizado gratuitamente para toda a população brasileira, com ainda mais funcionalidades e parcerias estratégicas, com disponibilização de tele consultas e conteúdos exclusivos. “Esperamos que, brevemente, na Semana Nacional do Trânsito, já com mais inovações e com mais parcerias para a disponibilização de novos serviços, esse assistente já se apresente para uso por toda a população brasileira como uma solução definitiva”, conclui Coimbra Enquanto isso, os brasileiros já podem acompanhar os bastidores do projeto, os depoimentos dos primeiros usuários e os testes em andamento pelos canais oficiais: Instagram: @doutornotransito YouTube: youtube.com/@doutornotransito O trânsito brasileiro pede socorro há décadas, agora, ele recebe um médico, gratuito, disponível, com supervisão humana, no WhatsApp, e aonde você estiver. Fonte: Portal TransitoWeb
- "ASFALTO FERIDO"
Foto: Estadão Não é à toa que os dias andam pesados em Florianópolis. Cada metro quadrado de calçada, cada faixa de ciclovia, cada espaço reservado para quem se move com o corpo e não com motor, é uma conquista diária arrancada do concreto armado. E, ainda assim, há quem insista em invadir. A construtora chega como quem não vê. Alega progresso, aponta cifras, ergue muros que não deveriam existir. Avança sobre a ciclovia, espreme o pedestre contra o meio-fio, desrespeita as linhas pintadas com suor e insistência da sociedade civil. Eu passo de bicicleta e sinto o baque: não é só o pneu que trepida no asfalto maltratado, é a cidade que geme. Mobilidade não é luxo, é direito. Ciclovia não é sobra de espaço, é pulsação urbana. Calçada não é obstáculo, é passagem de vidas. E quando a obra ergue sua sombra, eu entendo: se a cidade é um corpo, cada construção irregular é uma ferida aberta. Mas há um detalhe que as paredes de concreto ignoram: eu também posso fiscalizar. Eu também posso denunciar. A cidade não pertence às construtoras, mas a quem a vive todos os dias, a quem pedala, caminha, respira. É árduo escrever com indignação, mas mais árduo é pedalar entre grades e buracos. O que deveria ser paisagem de convivência vira prova de resistência. Chega de construções irregulares em Florianópolis. Quem insiste em ocupar espaço público com ganância não constrói: corrói. E eu, cidadã, insisto: não há muro que cale minha denúncia. Autora: Laura Lidia Rosa
- INDEPENDÊNCIA OU MORTE: REFLEXOS DE UMA SOCIEDADE PATERNALISTA NO TRÂNSITO
Em 2022 completaremos 200 anos que o Brasil deixou de ser uma colônia portuguesa e passou a ser uma nação independente. No dia 7 de setembro de 1822, às margens do rio Ipiranga, D. Pedro I declarava a independência do Brasil, tornando-se pouco tempo depois seu primeiro imperador. Mas será que o brasileiro tornou-se realmente um povo independente? Após uma breve pesquisa sobre possíveis aplicações para o termo “ independente “, me deparei com uma definição que certamente confirma esse questionamento, pois se aplica perfeitamente a nós, sobretudo no âmbito do trânsito: Caráter da pessoa que não segue ideias determinadas, regras preestabelecidas. Condição da coletividade que não se submete a outra autoridade e se governa por suas próprias leis. No entanto, esse termo sempre me remete a um sinônimo, sobre o qual eu já escrevi recentemente: autonomia . Segundo o filósofo Kant, é a faculdade do ser humano de se autogovernar de acordo com seus padrões de conduta moral sem que haja influência de outros aspectos exteriores. Foi do que lembrei quando li, surpreso, um comentário em uma notícia recentemente publicada no Portal do Trânsito . O Projeto de lei da deputada Flavia Arruda pretende conceder pensão vitalícia às vítimas de crimes de trânsito ou às suas famílias, em caso de morte, a ser paga pelo autor do crime. Eis que, navegando pelas redes sociais, me deparo com o seguinte comentário a respeito dessa notícia: …agora eu terei que pagar pela omissão de gestores políticos do Estado que não fazem a prevenção de acidentes porque não dá voto… Então, quer dizer que, segundo essa linha de raciocínio, se eu saio e encho a cara, pego meu carro e no caminho de volta para casa eu atropelo e mato alguém a culpa é do Estado por não ter investido em prevenção? Ora, sejamos adultos… o Estado até pode ser omisso em diversas das suas atribuições, mas todos sabemos o que é certo ou errado no trânsito, não é preciso terceirizar a culpa . Quem sabe, analisemos essa situação sob um diferente ponto de vista? O da vítima ou de seus familiares. Nesse caso, às reflexões seriam mais ou menos assim: … agora eu terei que viver o resto da vida numa cadeira de rodas por conta da irresponsabilidade daquele condutor… Ou ainda: … minha mãe terá que prover o sustento de seus quatro filhos sozinha, porque aquele condutor irresponsável tirou a vida do meu pai… Às vezes, é muito fácil e cômodo julgar as omissões do Estado. Mas avaliar a nossa própria responsabilidade sobre os acontecimentos nem sempre é uma prática tão fácil. E, sobre responsabilização, eu acho esse Projeto de Lei até muito brando… sempre defendi que, além de pensão à vítima ou aos familiares, quem comete crime de trânsito deveria pagar pela hora de trabalho de todos os órgãos públicos envolvidos no atendimento do acidente, desde agentes de trânsito, policiais militares, até socorristas da ambulância, bem como os custos de manutenção de qualquer mobiliário urbano que possa ter sido danificado em função da ocorrência. Claro que alguém sempre vai rebater dizendo “ ah, mas não é pra isso que pagamos impostos como INSS, DPVAT e tantos outros ?!”. A esses eu trago a seguinte reflexão: … por que eu, que nunca sequer me acidentei, tenho que pagar pela irresponsabilidade dos outros no trânsito?! E sobre essa reflexão, eu trago uma triste notícia ao caro amigo leitor: nós já pagamos e um valor bem alto, diga-se de passagem! Porém, é igualmente fácil cair na tentação de refutar esse tipo de medida proposta pelo PL por conta da cobrança de impostos já existentes, como o INSS, por exemplo. Não quero me ater às questões previdenciárias, pois só essas já dariam um outro artigo, mas apenas às de saúde pública. Estima-se que 2 a cada 3 leitos de hospitais de pronto atendimentos sejam ocupados por vítimas de acidentes de trânsito. Vítimas que lá estão não por omissão do Estado, mas porque alguém escolheu ultrapassar o limite de velocidade da via, escolheu responder àquela mensagem de texto enquanto dirigia ou escolheu pensar que as doses que havia consumido não influenciariam na sua capacidade de condução. Sendo assim, na semana da Independência, vamos nos munir desse espírito, libertarmo-nos dessa cultura paternalista que coloniza nossa consciência e terceiriza nossas responsabilidades, para a construção de um trânsito mais seguro, uma sociedade mais justa e um povo realmente independente.
- ETERNOS MORADORES DE RUA
Morando há aproximadamente um ano numa região mais central da cidade, como já mencionei em outro artigo , passamos a conviver com algumas realidades que em bairros mais periféricos não nos afetavam. Uma delas se deu pela existência de uma consolidada malha cicloviária, que nos impôs o costume de, ao atravessar as ruas, cuidar, além do fluxo de automóveis, também o de bicicletas. Essa, porém, é uma realidade que nos afeta positivamente. No entanto, nem tudo são flores. Dia desses, ao entrar no quarto da minha filha mais nova (então com nove anos), minha esposa se deparou com uma cena no mínimo inusitada: ela brincava no chão, sob uma barraca improvisada. Até aí, nada de inusitado, por ser essa uma brincadeira bem comum entre crianças dessa idade. Inusitada mesmo foi a resposta dela quando questionada pela mãe sobre o que ela fazia: "estou brincando de morador de rua". Segundo dados da Fundação de Assistência Social e Cidadania (FASC), existem atualmente na cidade cerca de 2.500 pessoas em situação de rua, a grande maioria na região central. Número esse que, segundo outras entidades que trabalham com essa causa, não são lá muito precisos. O que me parece não haver dúvidas é de que, durante a pandemia, esse número aumentou sensivelmente. Recentemente, ouvia um episódio do podcast Perimetral, no qual era entrevistado Júlio Celso Borello Vargas, professor do Departamento de Urbanismo da UFRGS e doutor em Engenharia de Transportes. Na entrevista, falou-se sobre a tensa relação de Porto Alegre com as bicicletas e, fatalmente, mencionou-se outros temas, como transporte público, urbanismo tático e o uso racional do espaço viário. Sobre isso, o professor Júlio fez uma analogia que me fez refletir profundamente. Imagine que você, por um motivo qualquer, resolve, assim como a minha filha, brincar de morador de rua e montar uma barraca debaixo de uma marquise na calçada ou mesmo junto ao meio fio. É bem provável que a sua brincadeira não dute muito tempo e você seja logo convidado a "brincar" em outro lugar pela polícia militar ou mesmo pela guarda municipal. Agora imagine que, ao invés da sua barraca, você resolva deixar o seu veículo nesse local. É curioso pensar que, em se tratando de um local onde não seja proibido o estacionamento, seu carro possa, legalmente, ficar lá por meses até que seja recolhido por abandono. Mas não antes de que uma denúncia seja feita ao órgão gestor de trânsito, os agentes estejam no local e coloquem uma placa de aviso sobre a irregularidade e voltem após mais de um mês para, só então, constatar-se que o veículo realmente está em condições de abandono e possa ser recolhido. Segundo dados da GZH , nós últimos 10 anos, 6 mil carros foram abandonados nas ruas de Porto Alegre. Entre os anos de 2019 e 2021, das 2.551 ocorrências registradas pela EPTC, somente 123 resultaram em recolhimento ao depósito. Isso me fez lembrar imediatamente um antigo pensamento meu, que diz: "Vivemos em uma sociedade onde é mais comum pessoas passarem a noite na rua do que carros."
- TERCEIRIZAÇÃO DA CULPA E O RELATIVISMO MORAL NO TRÂNSITO
Há algum tempo, enquanto deixava minha filha na escolinha, fui interpelado pela dona da escola. Por saber do meu cargo no órgão gestor do trânsito da cidade, ela me questionou o que poderia ser feito a respeito de alguns conflitos que estavam havendo com a moradora da casa ao lado da instituição de ensino infantil. Basicamente estava ocorrendo que alguns pais, enquanto iam deixar ou buscar seus filhos na escolinha, deixavam seus veículos em frente a saída da garagem da moradora. Alguns, muito em função da largura da via e pelo trânsito de ônibus e caminhões, estacionavam com metade do carro sobre a calçada. A moradora, obviamente sentindo-se desrespeitada, foi cobrar a dona da escolinha que tomasse providências. Até aí, tudo bem. O problema é que, além de a moradora, segundo a dona da escolinha, por vezes entrar escolinha adentro, com dedo em riste atrás dos pais e desrespeitá-los, começou a utilizar das redes sociais para denegrir a imagem da escola por esses conflitos. Minha resposta ao seu questionamento sobre o que ser feito a respeito foi de que a escola em si pouco ou nada teria a fazer. No máximo emitir avisos solicitando que não utilizassem aquela área para embarque e desembarque dos filhos, uma vez que a escola não tem nenhuma ingerência daquilo que os pais fazem no lado de fora da escola. Alguns dias depois, ao buscar minha filha no final da tarde, me deparo com a seguinte cena: na entrada da escolinha está um pai, aparentemente esperando seu filho, em meio a um relato e com um ar extremamente queixoso. Não pude acompanhar o início da narrativa, mas, pelos fragmentos da história, deduzi se tratar, supostamente, da venda de um veículo, pois em meio aos retalhos de conversa, me chamaram a atenção termos como transferência , multa e pagamento . Logo, inferi que a pessoa em questão havia vendido um carro e, apenas na hora da transferência, se deu conta de que existiam multas em atraso atreladas ao veículo. Assim como um padeiro, que passa o dia inteiro amassando pão, quando chega em casa não quer nem ouvir falar de pão, procurei me manter neutro quanto ao assunto. Até o momento em que o provável pai emite a seguinte pérola à dona da instituição: “…quando fui ver o que era, era uma multa por não ter dado o pisca (sinal indicador de direção)! Eles estão multando até isso agora?!”. Nesse instante, a dona da escolinha me olha sorrindo e lança um olhar de sarcasmo, dizendo para o pai: “Ele que pode te responder isso, ele trabalha na EPTC (Empresa Pública de Transporte e Circulação)!”. Como meu sinal de silêncio, com o indicador junto aos lábios, fora ignorado, me ative a sorrir de volta, como quem leva o assunto na brincadeira. Nem assim, na presença de um azulzinho (alcunha utilizada pela população porto-alegrense para referir-se aos agentes da EPTC em função da cor do uniforme), ele se conteve e seguiu verborrágico dizendo: “É impossível eu ter sido multado por isso… quando faço uma conversão já dou o sinal quase automaticamente! O pior é que, só depois, fui ver que o problema foi que a luz do pisca é que estava queimada… ou seja, muita sacanagem! Afinal, o sinal eu dei, não tenho culpa se ele não estava funcionando!” Passado o ímpeto de responder, me ative a cumprimentá-los e dirigir-me à saída, pensando comigo mesmo: Teria esse suposto pai aceitado a mesma justificativa de um condutor que, em um hipotético atropelamento, tirasse a vida do seu filho, mas dissesse: “Olha meu senhor… eu até freei, o problema é que o freio não funcionou…”, será? O CTB é bastante claro quando atribui ao condutor a responsabilidade pelas condições de conservação do veículo, prevendo, inclusive, multa para quem conduzir qualquer veículo que ponha em risco a segurança viária. Em terras onde a terceirização da culpa é tamanha que a velocidade do condutor autuado não é questionada, mas sim a visibilidade do agente autuador, vale a boa e velha máxima daquele grande “filósofo” contemporâneo, Homer Simpson, que diz: A culpa é minha, eu coloco ela em quem eu quiser!
- ENTRE A POLÍTICA E A MOBILIDADE: O QUÃO LONGO AINDA É NOSSO CAMINHO?
Enquanto esperava o semáforo abrir, observava, no canteiro central de um dos cruzamentos da avenida onde moro, amontoadas as bandeiras dos candidatos a mais uma eleição municipal que ocorrerá em breve. Eis que sou abordado por um rapaz que vem em direção à janela do meu carro com alguns panfletos em mãos. De que candidato deve ser? - penso eu. E não é que eu estava errado? Contrariando a todas as minhas expectativas (ou falta de), tratava-se apenas de uma propaganda de um novo empreendimento imobiliário que será lançado na região daqui a alguns meses. Mais impressionante do que a sua estrutura, de um verdadeiro " resort " , era um grande balão estampado em letras garrafais sobre o mapa de localização do empreendimento, na contracapa do material, com a mensagem Walk Score 95 . Ainda que a definição parecesse óbvia, até mesmo pela ótima localização do futuro condomínio, decidi pesquisar mais a respeito do tal escore. Após uma busca no Google, acessei o site https://www.walkscore.com no qual você é recepcionado pelo slogan “ Live where you love ” ou seja, “ viva onde você ama ”. Trata-se de um programa desenvolvido nos Estado Unidos e amplamente utilizado principalmente pelo mercado imobiliário. Ela utiliza dados coletados em sites abertos e sites oficiais de cada cidade, conferindo pontuações para a classificação da caminhabilidade, representando a facilidade de acesso às atividades cotidianas que um pedestre pode encontrar em tais áreas, como o acesso ao transporte público, facilidades para uso da bicicleta ou comércio próximo. Para alguém que morava até pouco tempo numa região bem mais central da cidade, confesso ter ficado curioso em saber qual o escore da minha atual residência. Rápida pesquisa pelo endereço e... escore 85. Pesquisa o nosso antigo apartamento! - sugeriu minha esposa. Surpreso, respondi: 99! Se você ainda não acessou o site e pesquisou pelo seu endereço, tenho certeza que estava pensando em fazer isso agora mesmo, não é? Mas se acalme... espere só mais um minuto. Não saia sem que antes eu possa lhe provocar uma reflexão. Prometo não me alongar... É interessante pensar que, não só a caminhabilidade, como a mobilidade no geral, assim como o saneamento básico de sua região, a iluminação, o policiamento, a oferta de escolas, de centros de saúde, de comercio, ofertas de emprego, transporte... tudo isso depende de vontade política. Vontade daqueles que, a cada 4 anos, seja no âmbito municipal, estadual ou seja no federal, atrolham nossos canteiros de bandeiras, nossos carros de adesivos e inundam nossas calçadas de santinhos. Foi nesse momento que me peguei pensando: E para políticos, não deveria existir um escore também? E será que já não existe? Nova pesquisa. Eis que encontro o site https://politicos.org.br/ , o qual disponibiliza um raking dos deputados e senadores. E, para a minha total surpresa, os melhores obtiveram notas 8,86 e 8,90 , respectivamente. Ainda que seja a forma mais antiga de locomoção, no Brasil ainda não foi possível, até então, consolidar na política da mobilidade a cultura da caminhabilidade. Tudo em função da políticas adotadas historicamente. Em contrapartida, na democracia brasileira, que não é tão antiga quanto caminhar, não consolidou-se, até então, a cultura de escolher os políticos por suas ideias e projetos e não "adotá-los" (para não dizer idolatrá-los), como se tem feito historicamente. Não sei ao certo qual será o escore dessa caminhada, mas sem dúvidas será longa, repleta de bandeiras, adesivos e santinhos.
- DIREÇÃO DEFENSIVA E A FÉ QUE MOVE MONTANHAS (DE METAL)
O que é a fé? Muitos a associam à religião, como a confiança em Deus ou em forças espirituais que nos sustentam diante do incerto. Filósofos, por sua vez, já definiram fé como a capacidade humana de acreditar sem provas absolutas, de dar o chamado “salto” além da razão. Já a psicologia costuma relacioná-la à esperança e à confiança que nos impulsionam, mesmo quando não temos garantias concretas. No entanto, a fé também se manifesta no cotidiano, de formas tão comuns que às vezes nem percebemos. É fé entrar em um avião e acreditar que pousará em segurança. É fé comer algo no restaurante confiando que não fará mal. É fé sair de casa todos os dias e acreditar que voltaremos. E talvez um dos maiores atos de fé do ser humano seja viver em cidades. Afinal, sobreviver em espaços urbanos significa confiar que milhares de pessoas, diariamente, conduzirão máquinas de mais de uma tonelada, cheias de líquido inflamável, em velocidades sobre-humanas — e que todas elas seguirão minimamente as leis. No fundo, o trânsito é uma grande rede de confiança silenciosa. Confiamos que o semáforo vermelho será respeitado, que o carro à frente freará a tempo, que o ônibus manterá sua rota, que o motociclista conseguirá desviar dos buracos sem cair. São pactos invisíveis, quase nunca ditos em voz alta, mas que sustentam a vida em movimento. Essa confiança, porém, é frágil. Basta um único elo se romper — um motorista distraído, alguém apressado demais, um pedestre que calcula mal o tempo — para que toda a teia se rompa em segundos. É nesse ponto que a fé e o medo se encontram: acreditamos no outro, mas sabemos que basta um descuido para que o destino mude de forma irreversível. Talvez por isso o trânsito seja, ao mesmo tempo, fascinante e assustador. Ele nos obriga a acreditar em desconhecidos, a confiar em pessoas que nunca veremos novamente. É um exercício diário de entrega e vulnerabilidade. E, se olharmos bem, também é um convite à empatia: afinal, se eu dependo da atenção e do cuidado do outro para chegar vivo em casa, o mínimo que posso fazer é retribuir essa confiança. Dirigir, atravessar uma rua, pegar um ônibus ou uma bicicleta — nada disso é banal. São atos cotidianos carregados de fé. Fé no humano. Fé de que, apesar dos erros e das falhas, ainda conseguimos manter um pacto mínimo de cuidado uns com os outros. E é justamente para que esse pacto de fé não seja quebrado que a direção defensiva se torna fundamental. Mais do que uma técnica, ela é uma postura de responsabilidade: antecipar riscos, agir com prudência e enxergar no outro não um adversário no trânsito, mas alguém que também deseja chegar em segurança. Se você deseja aprofundar seus conhecimentos e adotar práticas que salvam vidas, convido você a conhecer o Curso Online de Direção Defensiva disponível no meu site:



















