"ASFALTO FERIDO"
- Rodrigo Vargas

- 29 de ago.
- 1 min de leitura

Não é à toa que os dias andam pesados em Florianópolis. Cada metro quadrado de calçada, cada faixa de ciclovia, cada espaço reservado para quem se move com o corpo e não com motor, é uma conquista diária arrancada do concreto armado. E, ainda assim, há quem insista em invadir.
A construtora chega como quem não vê. Alega progresso, aponta cifras, ergue muros que não deveriam existir. Avança sobre a ciclovia, espreme o pedestre contra o meio-fio, desrespeita as linhas pintadas com suor e insistência da sociedade civil.
Eu passo de bicicleta e sinto o baque: não é só o pneu que trepida no asfalto maltratado, é a cidade que geme. Mobilidade não é luxo, é direito. Ciclovia não é sobra de espaço, é pulsação urbana. Calçada não é obstáculo, é passagem de vidas.
E quando a obra ergue sua sombra, eu entendo: se a cidade é um corpo, cada construção irregular é uma ferida aberta.
Mas há um detalhe que as paredes de concreto ignoram: eu também posso fiscalizar. Eu também posso denunciar. A cidade não pertence às construtoras, mas a quem a vive todos os dias, a quem pedala, caminha, respira.
É árduo escrever com indignação, mas mais árduo é pedalar entre grades e buracos. O que deveria ser paisagem de convivência vira prova de resistência.
Chega de construções irregulares em Florianópolis. Quem insiste em ocupar espaço público com ganância não constrói: corrói.
E eu, cidadã, insisto: não há muro que cale minha denúncia.
Autora: Laura Lidia Rosa














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