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  • FINADOS DO TRÂNSITO

    Desde o século II, alguns cristãos já rezavam pelos falecidos, visitando os túmulos dos mártires para rezar pelos que morreram. No século V, a Igreja dedicava um dia do ano para rezar por todos os mortos, pelos quais ninguém rezava e dos quais ninguém lembrava. Mas foi apenas no século XIII que esse dia anual passou a ser comemorado em 2 de novembro, porque no dia 1º de novembro é comemorado o Dia de Todos os Santos. Da minha infância, trago algumas memórias peculiares do dia de Finados. Passei boa parte dela morando ao lado de um cemitério. Dessa experiência, criei um ditado que costumo repetir a vizinhos e amigos quando enfrentam algum conflito com seus vizinhos: não há vizinhança mais tranquila que a de um cemitério! Porém, essa máxima não se aplicava aos dias 2 de novembro de cada ano. Aquela que costumava ser uma rua tranquila, de tráfego local, transformava-se completamente. Antes mesmo do amanhecer, um número incontável de vendedores de flores amontoavam-se sobre as calçadas esperando seus clientes que não tardavam a aparecer. E, aos poucos, uma silenciosa e cabisbaixa procissão surgia para prestar suas condolências. Entretanto, ainda que silenciosa, aquela multidão causava um grande rebuliço no trânsito local, suscitando bloqueios, desvios e sinalizações provisórias. E, no que diz respeito ao trânsito, talvez pouca gente saiba (exceto aqueles que trabalham na área, é claro), mas existe uma espécie de dia dos Finados específico para vítimas de trânsito. Instituído pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 2005, o terceiro domingo de novembro marca o Dia Mundial em Memória das Vítimas de Trânsito . Sobre esse assunto, o grande mestre J. Pedro Correa escreveu recentemente um ótimo artigo , no qual ele expõe sua frustração diante da inação dos órgãos gestores de trânsito, da banalização das fatalidades no trânsito e da falta de reconhecimento da data em memória daqueles que perderam a vida em tais eventos. Frustração a qual eu compreendo e compartilho fortemente. Mas, deixando o pessimismo de lado por um momento (ou não), se o dia de reza cristã pelos que ninguém lembrava no século V só no século XIII foi render um feriado que merecesse ser lembrado e reconhecido mundialmente, talvez, na melhor das hipóteses, o Dia Mundial em Memória das Vítimas de Trânsito nos próximos 50 anos receba também algum reconhecimento…

  • DURACELL QUER TORNAR A RECARGA DE CARROS ELÉTRICOS TÃO FÁCIL QUANTO TROCAR AS PILHAS DE UM CONTROLE REMOTO

    Há algum tempo escrevi um artigo falando sobre aquela que poderia ser a “ Duracell dos carros elétricos ”, sem imaginar que a própria marca entraria nesse mercado. Pois bem: isso acaba de acontecer. A Duracell anunciou o lançamento de sua rede de recarga ultrarrápida para veículos elétricos, batizada de Duracell E-Charge , com operação 24 horas por dia e potência impressionante de até 1.000 kW  — o suficiente para colocá-la entre as mais rápidas do Reino Unido. O investimento inicial é de cerca de 200 milhões de libras , e a operação será feita em parceria com a Elektra Charge  e a The EV Network , responsáveis pela implantação dos pontos em locais estratégicos, como rodovias, hotéis e centros comerciais. A marca promete uma experiência de recarga simples e prática, com múltiplas opções de pagamento e o sistema Plug & Charge , que reconhece automaticamente o veículo e realiza o pagamento de forma instantânea. Segundo o diretor-geral Mark Bloxham, a ideia é que “carregar um carro elétrico seja tão fácil quanto trocar as pilhas do controle remoto” — uma frase que, convenhamos, sintetiza perfeitamente o espírito da Duracell. Estação de recarga no UK. Fonte: Duracell Mais do que um movimento de mercado, essa entrada reforça como a transição energética e a mobilidade elétrica estão deixando de ser terreno exclusivo das montadoras. Marcas tradicionais de energia e baterias passam a ocupar um papel central nessa transformação, e isso tem reflexos diretos também na forma como planejamos o trânsito e a mobilidade. Uma infraestrutura de recarga ampla e confiável reduz a ansiedade de autonomia, evita improvisos perigosos e contribui para uma convivência mais segura nas vias. Se antes a Duracell era sinônimo de durabilidade nas pequenas pilhas do nosso cotidiano, agora parece querer estender essa energia — literalmente — às estradas do futuro.

  • DA COZINHA PARA A GARAGEM: A SHARP E A NOVA REVOLUÇÃO ELÉTRICA

    Tinha apenas uns cinco anos de idade, mas lembro como se fosse ontem: minha mãe chegando em casa com aquela novidade tecnológica chamada “forno de micro-ondas”, da marca Sharp. Uma caixa de madeira do tamanho de um televisor (os de tubo da época, é claro!) e tão pesada quanto. Ver a xícara de água sair fervendo daquele aparelho, após alguns botões apertados e um alerta sonoro pra lá de escandaloso, parecia mágica para aquela criança deslumbrada. E hoje volto ao blog para contar algo parecido em termos de surpresa tecnológica: a Sharp — sim, aquela mesma que por décadas fez parte das nossas salas com televisores, videocassetes e outros eletrônicos — acaba de anunciar sua entrada no mundo dos carros elétricos. A empresa pretende revelar, no Salão de Tóquio de 2025, um conceito de minivan elétrica que deve chegar ao mercado em 2027, com apoio da Foxconn, sua controladora. O modelo promete ser um veículo acessível para famílias, com interior pensado quase como uma sala de estar sobre rodas, equipado com portas deslizantes, projetor, tela retrátil e arquitetura de 800 volts — mais próximo de um ambiente doméstico do que de um automóvel tradicional. A aposta surge em meio a um momento de reinvenção da marca, que busca se reposicionar no cenário tecnológico após dificuldades financeiras. Como psicólogo do trânsito, não consigo deixar de observar o simbolismo desse movimento. A Sharp, que um dia levou a inovação para dentro das casas, agora quer levar essa mesma sensação para as ruas. A linha que separava o “aparelho doméstico” do “meio de transporte” vai se tornando cada vez mais tênue. Se antes o micro-ondas trouxe praticidade e encantamento à cozinha, agora o carro elétrico promete uma nova relação com a mobilidade — mais silenciosa, confortável e conectada. Essa transformação muda não apenas o modo de nos deslocarmos, mas também nossa percepção do tempo, do espaço e das interações no trânsito. Lembro da sensação de magia diante do micro-ondas, e é curioso perceber que, décadas depois, ela ressurge no mesmo lugar: na promessa de que a tecnologia pode simplificar, humanizar e até emocionar. A Sharp quer provar que o futuro da mobilidade pode ser tão familiar quanto um eletrodoméstico — e talvez seja justamente aí que mora a verdadeira revolução.

  • GOVERNO CRIA SECRETARIA DE MOBILIDADE ELÉTRICA PARA ACELERAR ELETRIFICAÇÃO NO BRASIL

    No âmbito da mobilidade sustentável, o Brasil dá um passo significativo: foi criada a Secretaria de Mobilidade Elétrica, vinculada ao Ministério de Minas e Energia (MME), com o objetivo de estruturar e acelerar a eletrificação do parque veicular e fortalecer o diálogo entre poder público e indústria automotiva. Por que esse avanço importa A mobilidade elétrica não é apenas uma opção tecnológica: ela carrega implicações profundas para a segurança no trânsito, para o meio ambiente e para as dinâmicas sociais que regem como nos deslocamos. A nova secretaria responde a uma demanda antiga da cadeia produtiva de veículos elétricos, justamente num momento de crescimento acelerado desse mercado no país — a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) estima que as vendas em 2025 devem crescer cerca de 20%, com aproximadamente 220 mil veículos híbridos e elétricos. Produção local e importância industrial O movimento também reforça a relevância da produção nacional: com empresas como BYD, na Bahia, e GWM, em São Paulo, o Brasil busca consolidar uma base local de fabricação, reduzindo a dependência de importações e fortalecendo o setor automotivo como ator estratégico na mobilidade elétrica. A manutenção da alíquota de importação (35% sobre veículos completos) reforça esse esforço. Infraestrutura e segurança Do ponto de vista da operação e da segurança no trânsito, a expansão da infraestrutura de recarga é um fator crítico. O Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea) já publicou diretrizes técnicas para instalação de carregadores, com foco em evitar riscos como curtos-circuitos ou instalações improvisadas. Além disso, a eletrificação de frotas — especialmente de ônibus em modal público — e o uso de fontes renováveis como solar ou eólica também despontam como estratégias para interiorizar a mobilidade elétrica no Brasil, concentrada até agora em grandes capitais. Reflexão para o trânsito e para a psicologia social Do ponto de vista da segurança no trânsito, a transição para veículos elétricos implica mudanças de paradigma. Quando falamos de mobilidade, não estamos apenas falando de “meios de transporte”, mas de como essa mobilidade se insere no sistema de tensões sociais, econômicas e ambientais que moldam os comportamentos no trânsito. Por um lado, veículos elétricos podem contribuir para um ambiente menos poluído, menos ruidoso, o que pode alterar o estado psicológico dos usuários — menos estresse, menos agressividade. Por outro lado, essa transição exige adaptação: o comportamento do motorista, do pedestre, do ciclista, todos precisarão revisar referências (tempo de recarga, autonomia, acesso à infraestrutura, prioridades de modal). Sobre a psicologia social: a mudança estrutural — criação de uma secretaria, incentivos, produção local — funciona como um “macro-símbolo” de que a mobilidade elétrica deixa de ser exceção e passa a compor o cenário normativo da mobilidade urbana. Isso gera efeitos de expectativa, identidade social (“sou usuário de veículo elétrico/prefiro mobilidade sustentável”) e, especialmente, de responsabilidade coletiva (refletindo sobre emissões, uso de energia, qualidade urbana). Considerações finais A criação da Secretaria de Mobilidade Elétrica não é apenas uma boa notícia para a indústria automobilística ou para o mercado de veículos: ela representa um gatilho para transformações mais amplas — de comportamento, de percepção de risco e de mobilidade mais consciente e integrada. Para nós que atuamos no trânsito — como condutores, usuários vulneráveis, operadores de modais — isso significa estar atento às mudanças, aproveitar o momento para educar, promover a transição e pensar a mobilidade sob uma lente mais humana e sustentável.

  • BRASIL É O 3º PAÍS MAIS CARO DO MUNDO PARA TER UM CARRO

    Se você trabalha ou se interessa por mobilidade — como eu, que atuo na área de trânsito e segurança viária — vai concordar que o automóvel deixou de ser apenas um meio de transporte e passou a representar, em muitos casos, um grande peso financeiro. Um estudo recente da Scrap Car Comparison apontou algo que confirma essa percepção: no Brasil, o custo total de ter um carro equivale a cerca de 461,9% do salário anual médio  — ou seja, mais de 4,5 vezes o rendimento médio de um brasileiro por ano para comprar e manter um veículo. O que o estudo mediu A investigação comparou 98 países  ao redor do mundo e considerou variáveis como: preço de compra, manutenção, seguro e combustível. O resultado? O Brasil ficou em 3º lugar  na lista dos países onde ter carro é mais caro — atrás apenas das Filipinas (470,7%) e da Colômbia (466,1%). Além disso, o continente latino‐americano aparece majoritariamente entre os mais onerosos: 7 dos 10 países mais caros para ter carro estão na América Latina. Por que o custo é tão alto aqui? São vários fatores interligados: Impostos e tarifas elevadas. Altos custos de combustível e seguro. Juros elevados nos financiamentos. Tudo isso significa que, para muitos, o carro deixa de ser uma “necessidade” de mobilidade e se aproxima mais de um “luxo” do ponto de vista financeiro. Qual o contraponto internacional? Para termos uma comparação: nos Estados Unidos, por exemplo, o custo de ter um carro equivale a apenas 56,4%  do salário anual médio. Ou seja: em países onde a mobilidade individual por automóvel é mais acessível, o impacto financeiro para o indivíduo é muito menor. Por que isso interessa à psicologia do trânsito? Como profissional que atua na interface entre trânsito, comportamento e mobilidade, identifico algumas implicações importantes: O custo elevado pode gerar frustrações, escolhas de transporte menos seguras  ou abandono do uso do automóvel por quem não consegue sustentar. Pode influenciar a escolha modal — por exemplo, o indivíduo pode optar por modalidades mais baratas, porém talvez menos seguras ou confortáveis. Também há uma dimensão psicológica : quando o carro se torna algo que pesa no orçamento, o que antes simbolizava liberdade e autonomia pode passar a representar ansiedade ou limitação econômica. O que podemos refletir (e agir) Para políticas de mobilidade: esse tipo de estudo reforça a necessidade de reformas tributárias, incentivos fiscais  e de políticas que favoreçam modalidades alternativas mais acessíveis. Para o cidadão: entender esse panorama pode ajudá-lo a tomar decisões mais conscientes sobre possuir ou não um carro — avaliar custo total de propriedade, alternativas de transporte, impacto no orçamento pessoal. Para nós, profissionais de trânsito e mobilidade: é mais um elemento para a reflexão interdisciplinar — mobilidade, finanças, psicologia e segurança viária se conectam de forma profunda. Quando consideramos o que significa realmente possuir um automóvel em nosso cotidiano — conforme evidenciado no artigo que escrevi há algum tempo sobre “ que espaço ele ocupa na sua casa ” — percebemos que o carro não se limita apenas ao espaço físico da garagem ou ao impacto no nosso orçamento mensal. Ele ocupa também um lugar simbólico nas nossas vidas: como extensão da liberdade, expressão de status, elemento de mobilidade ou até mesmo de stress. Agora, ao observarmos o estudo que mostra que o Brasil figura entre os países onde ter um carro é mais caro do mundo, somos convidados a refletir: o veículo deixa de ser simplesmente um meio para se tornar uma carga emocional, financeira e existencial. Em outras palavras, o carro entra tanto na sala de estar quanto no extrato bancário, bem como na subjetividade de quem dirige — e, por isso, vale perguntar: qual espaço ele deve ocupar, de fato, na nossa vida?

  • QUANDO A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL ENTENDE O MOTORISTA MELHOR QUE ELE MESMO

    Recentemente, uma influenciadora ganhou destaque nas redes sociais ao postar um Reels onde compartilha dois prompts utilizados no ChatGPT que a deixaram de boca aberta pela precisão nas respostas: “Chat, existe algo, que a partir de nossas interações, você enxerga sobre mim e que talvez eu não tenha consciência?” “Considerando tudo o que já conhece sobre mim, quais seriam as 5 principais perguntas que me fariam refletir sobre meu futuro ideal?” Obviamente, não resisti à possibilidade de ter uma leitura baseada nas minhas próprias trocas com o Chat. E, de fato, a precisão é impressionante! Me peguei pensando que, talvez, mesmo após mais de 15 anos de casamento, nem minha própria esposa me conheça tão bem! Passados alguns dias, me deparei com uma notícia que me fez traçar um paralelo interessante. A Volvo apresentou o novo FH 2026 , um caminhão que utiliza inteligência artificial no acelerador para “entender o pé do motorista” .Segundo a montadora, o sistema analisa em tempo real a forma como o condutor acelera, ajustando o desempenho do motor para otimizar consumo e segurança. A ideia é simples — e brilhante: quanto mais o veículo aprende sobre o motorista, mais eficiente e confortável se torna a condução. Mas o que me chamou atenção não foi apenas o avanço tecnológico. Foi a simbologia por trás disso. Estamos diante de máquinas que aprendem sobre nós  — nossos hábitos, ritmos e até nossos impulsos — e devolvem esse conhecimento em forma de performance e eficiência. Ao mesmo tempo, quantos de nós realmente dedicamos tempo para aprender sobre nosso próprio modo de dirigir a vida ? No trânsito e fora dele, somos muitas vezes guiados por automatismos: repetimos trajetos, comportamentos e reações sem perceber o quanto disso vem do hábito e o quanto vem de uma escolha consciente. Se a inteligência artificial já consegue reconhecer padrões sutis de aceleração, talvez esteja na hora de cada motorista (e cada pessoa)  reconhecer os próprios padrões emocionais — aqueles que aceleram, freiam ou desviam nossos rumos sem que percebamos. Talvez o futuro da mobilidade não esteja apenas em veículos que entendem o condutor, mas em condutores que se compreendem o suficiente para conduzir melhor suas escolhas . E, quem sabe, com o tempo, essa parceria entre humano e máquina não se torne menos sobre controle e mais sobre consciência  — tanto da estrada quanto de si mesmo. Se você também acredita que a tecnologia pode ser uma aliada no autoconhecimento e na condução segura, conheça os Cursos de Trânsito e Transporte  do meu site. Afinal, quanto mais aprendemos sobre nós mesmos, melhor dirigimos — no volante e na vida.

  • VOCÊ É UM EXEMPLO A SEGUIR?

    Hoje venho falar sobre algo que já mencionei em outro artigo : constrangimento . Gosto de falar nas minhas palestras que no trânsito existe algo que eu chamo de Efeito Gramado , que é a facilidade com que nos sentimos constrangidos por deixar fazer algo quando todos estão fazendo. No entanto, esse sentimento também pode surgir em situações opostas, ou seja, quando fazemos aquilo que todos (ou quase todos) também fariam. CONSTRANGIMENTO : Situação moralmente desconfortável, vexatória; vergonha, vexame, embaraço. Timidez diante de outras pessoas; acanhamento, encabulamento, vergonha. Fato, situação, atitude desagradável e embaraçosa; aborrecimento, incômodo, embaraço. Na dúvida do que estava sentido naquele momento, fui buscar algumas definições. E, diante do exposto acima, sim, foi muito constrangedor passar pelo que passei naquela manhã, de treinamento na empresa. Periodicamente, os agentes de trânsito de Porto Alegre passam pelo que chamamos de “TAP” (Terças de Aperfeiçoamento Profissional), onde geralmente são abordados temas como legislação, atualização de procedimentos, abordagem segura, etc. Porém, naquela manhã, aprenderia algo de forma bem menos formal. Mas, nem por isso, menos intensa. Estávamos em um grupo de 40, talvez 50 agentes. Aguardávamos o horário de início do curso em meio a conversas descontraídas, seja de colegas que trabalham juntos diariamente, seja daqueles que não se viam há anos. Eis que, dentre os diversos colegas que chegavam a todo o momento, um vem na minha direção e, ao me cumprimentar, exclama: Mas que vergonha, hein! Logo tu, que trabalha na educação e deveria dar exemplo, atravessando no sinal vermelho?! Instantaneamente, como em um filme antigo em VHS sendo rebobinado, comecei a traçar na minha mente o caminho inverso ao que havia percorrido da para de ônibus até o auditório em que me encontrava, chegando à travessia de pedestres junto ao corredor de ônibus. Faltavam uns 10 minutos para as 8 horas da manhã. Além de mim e algumas outras duas ou três pessoas que deviam provavelmente estar indo para seus serviços, mais uma dúzia de jovens encaminhavam-se para a escola que ficava exatamente do outro lado da rua. Como o fluxo de veículos àquela hora era bem intenso, aquela pequena multidão começou a se aglomerar rente ao meio fio, esperando uma oportunidade de atravessar. Até que a mudança semafórica do cruzamento anterior, há uns 50 metros de onde estávamos, fez surgir um intervalo no fluxo de veículos. E, assim como nesse outro artigo , mesmo com o sinal para pedestres fechado, iniciei a travessia. Entretanto, diferentemente da situação citada no artigo acima, nessa oportunidade eu não estava sozinho na rua e o fluxo já era intenso. E, embora não tenha olhado para trás, percebi que outras pessoas atravessaram atrás de mim, tanto pelo som dos passos, quanto pela buzina do carro que se aproximava. Obviamente que os xingamentos de alguns jovens que atravessavam logo atrás em resposta à buzina do condutor que se aproximava ajudaram nessa minha conclusão. Felizmente concluímos a travessia em segurança, ainda que de forma imprudente. Mas, e se a situação não tivesse sido assim? Tão logo a cena terminou na minha memória, começou a retroceder novamente. E, ao estilo Efeito Borboleta , comecei a imaginar alguns outros finais possíveis para essa história. Final 1: E se eu tivesse esperado o sinal verde? Nada garante que aquelas pessoas não teriam atravessado, mesmo que eu não tivesse iniciado a travessia. Embora, se esse fosse o caso, muito provavelmente o constrangimento seria de quem atravessou, não meu. Final 2: E se ao invés de jovens fosse um idoso? Como também mencionado no artigo acima, Porto Alegre é a capital do idoso e é evidente a diferença entre um jovem e um idoso no que diz respeito tanto à percepção visual e auditiva, quanto ao tempo de resposta e ao tempo necessário para uma travessia. Final 3: E se eu tivesse conseguido atravessar, mas os jovens atrás de mim não? Certamente esse seria o pior desfecho possível. Conviver com a ideia de que aqueles jovens só iniciaram a travessia porque eu também havia feito seria algo extremamente doloroso. Pensar que, no lugar dos xingamentos para a buzina do condutor, poderia ter ouvido o som da frenagem do veículo e o estrondo dos corpos daqueles jovens chocando-se contra a lataria do carro me deixou aterrorizado. O constrangimento diante daquele auditório repleto de colegas passou depois de alguns minutos. Mas a culpa, provavelmente, eu levaria comigo para o resto da vida.

  • MOTORISTAS DO UBER PODERÃO TREINAR SEUS SUCESSORES

    A Uber anunciou um projeto curioso — e um tanto simbólico dos tempos em que vivemos. A empresa vai permitir que motoristas realizem pequenos “bicos” dentro do próprio aplicativo, mas dessa vez fora das ruas: serão tarefas ligadas à inteligência artificial, como o treinamento de modelos de IA que futuramente poderão... substituí-los. Em outras palavras, os motoristas poderão ajudar a ensinar a tecnologia que, um dia, pode dirigir no lugar deles. O programa, chamado Uber Works AI , está sendo testado nos Estados Unidos. A proposta é que, durante períodos de inatividade entre corridas, os motoristas possam realizar microtarefas digitais, como identificar objetos em imagens ou revisar respostas automáticas. O pagamento seria feito diretamente pela plataforma, somando-se à renda obtida com as corridas. A iniciativa levanta uma reflexão interessante: até que ponto estamos colaborando com a automação que ameaça nossas próprias funções? No caso da Uber, há uma espécie de metáfora viva — o motorista humano alimentando a inteligência que o “estuda”, aprendendo com seus padrões de comportamento e, aos poucos, se tornando capaz de reproduzi-los. É claro que, do ponto de vista econômico, a proposta pode representar uma renda extra em tempos de incerteza. Mas, do ponto de vista simbólico e social, ela nos convida a pensar sobre a relação entre humanos e tecnologia: quem treina quem? No trânsito, já vemos esse dilema surgir de várias formas. A promessa dos veículos autônomos avança, enquanto seguimos tentando encontrar o ponto de equilíbrio entre eficiência e humanidade. Talvez o futuro da mobilidade não dependa apenas de máquinas mais inteligentes — mas de pessoas mais conscientes sobre o papel que desejam ocupar nessa nova engrenagem. Em meio a tantas transformações tecnológicas, manter-se atualizado é o melhor caminho para continuar relevante e preparado para o futuro da mobilidade . Para motoristas profissionais, isso significa ir além do volante: compreender o comportamento humano no trânsito, as novas exigências da profissão e as mudanças que a tecnologia vem impondo. Se você quer aprofundar seus conhecimentos e ampliar suas oportunidades, conheça os Cursos de Trânsito e Transporte  disponíveis no meu site. Aprender é, mais do que nunca, a melhor forma de seguir em movimento.

  • PROTESTO EM PORTO ALEGRE CONTRA O FIM DA OBRIGATORIEDADE DE AULAS PARA CNH

    Foto : Camila Cunha - Correio do Povo Dezenas de representantes de autoescolas da região Metropolitana de Porto Alegre e Serra fizeram um protesto na manhã da última quinta-feira, Dia Nacional do Instrutor de Trânsito , com carreata a partir do Laçador até a Praça da Matriz, na Capital. Em seguida, eles foram à Assembleia Legislativa, onde entregaram um documento à deputada estadual Laura Sito, da Mesa Diretora da Casa, e ao Palácio Piratini, onde se reuniram com a Casa Civil do governo do Estado. Eles manifestam contrariedade ao projeto de lei do Ministério dos Transportes que desobriga aulas em autoescolas para obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH), exigindo apenas o exame prático. O assunto está em consulta pública, válido até o próximo dia 2 de novembro . Intitulado “Manifesto em Defesa da Vida, do Trânsito Seguro e dos Empregos”, assinado pelo Fórum das Centrais Sindicais do RS, o material afirma que nove mil trabalhadores com emprego formal serão diretamente atingidos no Rio Grande do Sul, caso a medida seja aprovada. O tema une o Sindicato dos Empregados de Agentes Autônomos no Comércio do Estado do RS (Seeacom), representante dos trabalhadores, e patronal, o Sindicato dos Centros de Formação de Condutores do RS (SindiCFC/RS). “ No formato que o ministério está querendo implantar, vai atingir duramente aqui no RS. Sabemos que tem de haver mudanças, que o valor da CNH é alto, mas não podemos de uma hora para outra tirar todas as aulas, teóricas e práticas. A educação para o trânsito será praticamente extinta ”, disse o presidente do Seeacom, André Fonseca da Silva. O presidente do SindiCFC/RS, Vilnei Sessim, acrescentou que a proposta é um “retrocesso” e uma “grande falha do governo”. “ O conhecimento sobre a condução é adquirido realmente durante as aulas, e acredito que a habilitação vem em três fases. Uma delas é ter o documento, o segundo é aprender a dirigir, e o terceiro é o aprendizado do comportamento no trânsito ”, comentou ele. Ainda segundo Sessim, “não existe um CFC que seja uma grande empresa”, ou seja, o projeto deverá prejudicar somente pequenos empresários, salientou. Já Laura, ao final da reunião na Assembleia, disse que o importante é a abertura de um canal de diálogo entre a categoria e o Legislativo. “ Temos um desafio muito grande do ponto de vista do desenvolvimento do Brasil, de modernizar o processo, baratear o custo e sem colocar em risco a vida da população. Obviamente, não podemos retroceder nos avanços do Código de Trânsito Brasileiro, que garantiu vidas, e faz com que tenhamos um dos sistemas mais avançados do mundo. Este é um debate nacional, mas somos solidários ao tema, e queremos estabelecer uma mesa de mediação ”, afirmou ela. O que dizem ministério e DetranRS De acordo com o ministro dos Transportes, Renan Filho, o modelo atual é “excludente, caro e demorado, impedindo milhões de pessoas de terem acesso à habilitação”, com potencial de redução no valor para obtenção da CNH, que pode cair em até 80% para as categorias A e B. Procurado, o DetranRS disse em nota que “reconhece a importância da modernização e da desburocratização dos serviços públicos, mas reforça que eventuais mudanças devem preservar o caráter pedagógico e social do processo, garantindo qualidade, padronização e responsabilidade na formação”. Disse ainda que “defende a manutenção de empresas credenciadas ao Detran, assegurando supervisão pedagógica, rastreabilidade e segurança viária”. Leia nota completa do DetranRS NOTA À IMPRENSA O DETRAN/RS, instituição comprometida com a segurança viária e a valorização da vida, contribui com Consulta Publica apresentadas pela Secretaria Nacional de Trânsito (SENATRAN) para a reestruturação da formação de condutores no País, com o seguinte posicionamento: O órgão reconhece a importância da modernização e da desburocratização dos serviços públicos, mas reforça que eventuais mudanças devem preservar o caráter pedagógico e social do processo, garantindo qualidade, padronização e responsabilidade na formação. O DETRAN/RS defende a manutenção de empresas credenciadas ao Detran, assegurando supervisão pedagógica, rastreabilidade e segurança viária. Por fim, o órgão reafirma que a Carteira Nacional de Habilitação deve ser compreendida não apenas como um documento, mas como um certificado de preparo e respeito à vida, resultado de um processo formativo sólido e responsável. Direção-Geral do DETRAN/RS Departamento Estadual de Trânsito do Rio Grande do Sul Fonte: Correio do Povo

  • DUALISMO SELETIVO

    Foto: Fabiano do Amaral - Correio do Povo Dualismo é um conceito religioso e filosófico que admite a coexistência de dois princípios necessários, de duas posições ou de duas realidades contrárias entre si, como o espírito e matéria, o corpo e a alma, o bem e o mal, e que estejam em eterno conflito. É interessante refletir sobre esse conceito, sobretudo diante do cenário político pelo qual passamos atualmente. Entretanto, o dualismo não é visível apenas na política, mas em diversos outros âmbitos de nossas vidas. No trânsito, no entanto, tenho percebido ultimamente um tipo de dualismo seletivo por parte de uma pequena parcela da sociedade. Tal percepção ficou ainda mais evidente há alguns dias, quando assisti surpreso a uma postagem nas redes sociais, onde um colega da fiscalização de trânsito era acusado de uma suposta agressão a um condutor durante uma operação. O vídeo, embora não mostre agressão alguma, viralizou rapidamente nos grupos de whatsapp e nas redes sociais, causando a indignação de várias pessoas. A tal ponto que, algumas horas após o ocorrido, eu tive acesso a esse outro material: Eis que dois dias após, recebo essa postagem do amigo Naian Meneghetti, que é bombeiro civil, multiplicador de educação para mobilidade e ex-fotógrafo do canal que postou o vídeo da suposta agressão: A realidade é uma moeda de dois lados. Pode até parecer algo óbvio, mas muitas vezes o óbvio é como um local esquecido que precisa ser revisitado: não acredite cegamente em tudo o que você encontra na internet, pesquise, investigue, procure a fonte das informações que você consome e que você compartilha. Essa situação toda só me deixou duas coisas ainda mais claras: a primeira é a responsabilidade que existe quando se está na posição de um formador de opinião. A segunda, como já abordei há algum tempo quando falei sobre HATERS , é que o ódio, infelizmente, ainda segue unindo muito mais pessoas que qualquer outro de sentimento.

  • BRASILEIRO E SEU CARRO: ESTARÁ ESSE CASAMENTO CHEGANDO AO FIM?

    No ano de 2018 eu tomei uma decisão nada fácil. Entretanto, uma das melhores decisões que eu já tomei na vida: entrei para um pequeno, porém crescente grupo de pessoas que decide não mais ter um carro, como já contei em outro artigo . Quem me conhece ou acompanha meu trabalho sabe (ou pode supor) o quão custosa me foi essa mudança, muito em função da relação que eu sempre tive com o mundo automotivo. Como você deve lembrar daquele famoso slogan publicitário de uma conhecida rede de postos de combustíveis, eu sempre me considerei um "apaixonado por carros, como todo o brasileiro". No entanto, a partir dessa decisão, minha relação não apenas com os "possantes", mas também com a cidade mudou drasticamente. Quando você sai de trás da direção, você passa a conhecer e a viver a cidade de outra forma, sob outras perspectivas que o carro não permite. De tal forma que até o próprio senso de pertencimento do espaço público muda. Mas essa pode parecer uma mudança ainda inimaginável para grande parte da população, que ainda vive submersa em uma sociedade midiática e carrocêntrica. Mas falando em mídia, dia desses recebi uma mensagem de um amigo que, sabendo da minha ligação com o mundo automotor, perguntava se eu já havia visto a propaganda de uma famosa locadora de veículos, na qual era realizado um casamento entre o motorista e seu carro. Surpreso e curioso pela proposta inusitada da campanha, fui ao Google e não foi difícil encontrar esses dois vídeos: Ainda que a ideia de carros por assinatura não seja nova e, principalmente, nem tão barata ainda a ponto de se tornar atrativa, achei a campanha publicitária genial! A equipe de marketing, ao meu ver, tocou em dois pontos cruciais: o primeiro, ao utilizar o termo casamento, já conhecido entre os "amantes" do automobilismo, que de forma figurada se refere a veículos difíceis de serem revendidos, dando a ele um sentido comicamente literal. Mas o segundo, e na minha opinião mais importante, toca em uma ferida ou pouco mais profunda. Ao fazer uso do termo casamento de forma denotativa, se apela, de forma cômica, ao momento que simboliza o ápice do amor existente em um relacionamento entre duas pessoas para explorar a personificação e humanização de um objeto que sempre fora personificado e humanizado pela própria mídia, porém, até então, de uma forma mais romântica. Obviamente que a empresa tem interesse que esse "romance" entre veículos e seus proprietários cheguem ao fim. Mas será que esses estão dispostos a discutir suas relações? É bem verdade que eu já tive minhas paixões , minhas saídas à francesa e até um amor de verão , mas tomo a liberdade de usar uma frase do meu grande amigo Carlos Augusto Elias, também conhecido por muitos como "Professor Carlão": Ultimamente tenho me importado muito menos em adquirir coisas e mais em ter experiências.

  • SEU CARRO JÁ TEVE UMA CRISE DE IDENTIDADE?

    Uma crise de identidade  é um momento de conflito interno e questionamento profundo sobre quem somos , o que valorizamos e qual é o nosso papel no mundo. Ela costuma surgir quando a pessoa percebe uma incongruência entre o que acredita ser e o que está vivendo  — seja em termos de valores, profissão, relacionamentos ou propósito de vida. Em psicologia , o conceito foi amplamente desenvolvido por Erik Erikson , que descreveu a crise de identidade  como parte natural do desenvolvimento humano, especialmente na adolescência, mas que pode reaparecer em outros momentos de transição. Agora imagine que esse momento de pane existencial acontece dentro de um carro. Pois bem, um Jeep Compass  decidiu experimentar sua crise de identidade em alto estilo: ao ligar o sistema multimídia, o SUV exibiu o logotipo da Fiat , e não o da própria Jeep. Sim, você leu certo: um Compass que acha que é Fiat. E não é obra de poetas nem de donos filosóficos: trata-se de uma “falha curiosa no software” — provavelmente um bug no sistema Uconnect — resultado direto do fato de que Jeep e Fiat compartilham, no guarda-chuva da Stellantis, plataformas, sistemas e, aparentemente, confusões existenciais. Mas o episódio é simbólico. Afinal, quem nunca teve um bug  de identidade?O Compass exibe o emblema errado, e nós, às vezes, exibimos atitudes que não combinam com quem dizemos ser. Fingimos confiança quando estamos perdidos, exibimos potência quando falta direção. O carro precisava de um “procedimento de reaprendizado” para voltar ao normal — e muita gente também. No fim das contas, esse episódio é um espelho daquilo que o trânsito reflete todos os dias: uma imensa crise de identidade coletiva  sobre rodas. Tem motociclista irresponsável  que se acha Valentino Rossi , motorista mediano  que acredita ser um Ayrton Senna , e pedestre corajoso que se imagina como um Homem de Aço , pronto para vencer a travessia com o peito aberto. O resultado? Um trânsito confuso, caótico e perigosamente narcisista — onde todo mundo quer ser alguém que, na prática, não é.

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