BRASIL É O 3º PAÍS MAIS CARO DO MUNDO PARA TER UM CARRO
- Rodrigo Vargas

- há 1 dia
- 3 min de leitura

Se você trabalha ou se interessa por mobilidade — como eu, que atuo na área de trânsito e segurança viária — vai concordar que o automóvel deixou de ser apenas um meio de transporte e passou a representar, em muitos casos, um grande peso financeiro. Um estudo recente da Scrap Car Comparison apontou algo que confirma essa percepção: no Brasil, o custo total de ter um carro equivale a cerca de 461,9% do salário anual médio — ou seja, mais de 4,5 vezes o rendimento médio de um brasileiro por ano para comprar e manter um veículo.
O que o estudo mediu
A investigação comparou 98 países ao redor do mundo e considerou variáveis como: preço de compra, manutenção, seguro e combustível. O resultado? O Brasil ficou em 3º lugar na lista dos países onde ter carro é mais caro — atrás apenas das Filipinas (470,7%) e da Colômbia (466,1%). Além disso, o continente latino‐americano aparece majoritariamente entre os mais onerosos: 7 dos 10 países mais caros para ter carro estão na América Latina.

Por que o custo é tão alto aqui?
São vários fatores interligados:
Impostos e tarifas elevadas.
Altos custos de combustível e seguro.
Juros elevados nos financiamentos. Tudo isso significa que, para muitos, o carro deixa de ser uma “necessidade” de mobilidade e se aproxima mais de um “luxo” do ponto de vista financeiro.
Qual o contraponto internacional?
Para termos uma comparação: nos Estados Unidos, por exemplo, o custo de ter um carro equivale a apenas 56,4% do salário anual médio. Ou seja: em países onde a mobilidade individual por automóvel é mais acessível, o impacto financeiro para o indivíduo é muito menor.

Por que isso interessa à psicologia do trânsito?
Como profissional que atua na interface entre trânsito, comportamento e mobilidade, identifico algumas implicações importantes:
O custo elevado pode gerar frustrações, escolhas de transporte menos seguras ou abandono do uso do automóvel por quem não consegue sustentar.
Pode influenciar a escolha modal — por exemplo, o indivíduo pode optar por modalidades mais baratas, porém talvez menos seguras ou confortáveis.
Também há uma dimensão psicológica: quando o carro se torna algo que pesa no orçamento, o que antes simbolizava liberdade e autonomia pode passar a representar ansiedade ou limitação econômica.
O que podemos refletir (e agir)
Para políticas de mobilidade: esse tipo de estudo reforça a necessidade de reformas tributárias, incentivos fiscais e de políticas que favoreçam modalidades alternativas mais acessíveis.
Para o cidadão: entender esse panorama pode ajudá-lo a tomar decisões mais conscientes sobre possuir ou não um carro — avaliar custo total de propriedade, alternativas de transporte, impacto no orçamento pessoal.
Para nós, profissionais de trânsito e mobilidade: é mais um elemento para a reflexão interdisciplinar — mobilidade, finanças, psicologia e segurança viária se conectam de forma profunda.
Quando consideramos o que significa realmente possuir um automóvel em nosso cotidiano — conforme evidenciado no artigo que escrevi há algum tempo sobre “que espaço ele ocupa na sua casa” — percebemos que o carro não se limita apenas ao espaço físico da garagem ou ao impacto no nosso orçamento mensal. Ele ocupa também um lugar simbólico nas nossas vidas: como extensão da liberdade, expressão de status, elemento de mobilidade ou até mesmo de stress. Agora, ao observarmos o estudo que mostra que o Brasil figura entre os países onde ter um carro é mais caro do mundo, somos convidados a refletir: o veículo deixa de ser simplesmente um meio para se tornar uma carga emocional, financeira e existencial. Em outras palavras, o carro entra tanto na sala de estar quanto no extrato bancário, bem como na subjetividade de quem dirige — e, por isso, vale perguntar: qual espaço ele deve ocupar, de fato, na nossa vida?















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