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  • "TODOS TÊM AS MESMAS 24 HORAS”. SERÁ MESMO?

    Costuma-se dizer, sobretudo em postagens de coachs motivacionais espalhados pela internet, que “todos têm as mesmas 24 horas”. Será mesmo? À primeira vista, essa afirmação parece fazer sentido. O relógio é, de fato, democrático. Cada pessoa, não importa quem seja, recebe a mesma quantidade de horas por dia. Porém, quando olhamos mais de perto, percebemos que essa igualdade é, na verdade, apenas matemática — e não social. Basta observar a dinâmica da mobilidade urbana. Para algumas pessoas, o deslocamento diário entre casa e trabalho consome cerca de 45 ou 50 minutos. Para outras, esse mesmo trajeto leva mais de duas horas — só de ida. Quando somamos o tempo da volta, não é raro encontrar pessoas que gastam quatro ou até cinco horas por dia dentro de ônibus, trens, metrôs e terminais superlotados. Agora imagine o impacto disso acumulado ao longo dos dias, meses e anos. Enquanto uns podem dedicar seu tempo livre aos estudos, ao autocuidado, à família, ao lazer ou até a projetos que ampliam suas oportunidades de vida, outros têm suas horas drenadas pelo transporte precário, pelo trânsito e pela falta de opções acessíveis. Isso sem mencionarmos fatores financeiros... Habitualmente, sou usuário do transporte público. A passagem onde moro custa 5 reais. Gasto duas passagens por dia, uma para ir e outra para voltar do trabalho. Dia desses, em função de um compromisso, precisei ir de carro para o trabalho e o resultado no final do dia foi espantoso: cheguei uma hora antes do horário que chego em casa de costume! Motivado por aquela conhecida máxima capitalista, decidi fazer um cálculo simples: se "tempo é dinheiro", quanto custaria essa economia de tempo que o carro me proporcionou? Dividindo o valor do meu salário pelo número de horas trabalhadas, consegui achar o valor recebido por hora. Se eu tivesse aplicado mensalmente o valor dessa hora diária de trabalho economizada desde que eu tirei minha carteira de motorista, atualmente teria uma quantia de mais de R$ 600 mil ! É fácil cair na tentação de defender a meritocracia quando se olha apenas o ponto de partida e o destino, ignorando os caminhos percorridos. Difícil é sustentar esse argumento quando se percebe que algumas pessoas começam a corrida já exaustas, porque seus dias têm, na prática, três ou quatro horas a menos . E o tempo, como sabemos, é o recurso mais valioso que possuímos. Tempo é qualidade de vida. Tempo é oportunidade. Tempo é dinheiro — e, acima de tudo, tempo é vida. E em tempos de “quem vê o close não vê o corre”, cultivar empatia e compreensão torna-se uma prática urgente. Como bem disse Caetano, “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é” . E é na escuta, na reflexão e no olhar atento para essas desigualdades invisíveis que podemos construir não apenas cidades mais justas, mas também relações mais humanas.

  • CHANGAN: ENERGIA QUE DÁ FORÇA

    Imagine você entrando em uma estação, seu carro elétrico para, em menos de dois minutos você troca a bateria e sai dirigindo como se nada tivesse acontecido. Sem cabos, sem espera, sem dor de cabeça. Parece coisa do futuro? Pois já é realidade na China, e tem nome apetitoso: Choco-SEB ( Swapping Electric Blocks, ou troca de blocos elétricos). O nome é uma sacada genial da fabricante de baterias CATL. O motivo? O design modular da bateria se assemelha a uma barra de chocolate — daquelas que dá vontade de quebrar quadradinho por quadradinho. E, convenhamos, tem coisa mais simbólica do que associar energia a algo que nos dá prazer e disposição? Talvez os publicitários da CATL tivessem na cabeça aquele velho slogan do Nescau que marcou a infância de muitos: “Energia que dá força!” . Do achocolatado ao elétrico — uma conexão que faz sentido Se no passado o achocolatado prometia turbinar nossas manhãs e tardes de energia para as brincadeiras, hoje, a Choco-SEB faz o mesmo por veículos elétricos. O conceito é simples: em vez de recarregar, você troca a bateria em apenas 100 segundos.  É como se fosse parar num pit stop da Fórmula 1... só que na vida real, na sua cidade, no seu dia a dia. O protagonista dessa revolução é o sedã elétrico Changan Oshan 520 , recém-lançado na China. Com uma autonomia de 520 km e um motor de 141 cv, ele chega ao mercado não só como carro, mas como símbolo de uma nova etapa da mobilidade elétrica. Changan Oshan 520 - Foto: Divulgação Energia na medida, sem desperdício O sistema Choco-SEB não é só uma solução prática — é também sustentável. As estações de troca funcionam como unidades de armazenamento de energia, ajudando a equilibrar a rede elétrica. E quando a bateria chega ao fim da vida útil, entra um processo de monitoramento e reciclagem inteligente, que garante que nada seja desperdiçado. A proposta é ambiciosa: 30 mil estações de troca espalhadas pela China até 2025 , sendo mil delas já neste ano. Imagine isso chegando aqui, nas nossas cidades, nas rodovias. Adeus filas em postos de carregamento, adeus ansiedade olhando o percentual da bateria descendo! O futuro tem gosto de chocolate? A verdade é que, olhando para essas soluções, fica claro que o futuro da mobilidade não é só tecnológico — é também criativo. Um nome divertido, uma ideia simples e uma execução genial podem transformar completamente nossa relação com os veículos e a energia. E se você acha que isso ainda está distante, lembre-se: as grandes revoluções começam assim — com alguém olhando fixamente para uma barra de chocolate e pensando... “Por que não?”

  • O T(IPI)CO SONHO BRASILEIRO.

    Uma notícia recente reacendeu a esperança de muitos brasileiros que ainda sonham com o carro zero: a promessa de redução de IPI dos veículos "populares". Ainda hoje, o carro zero segue sendo objeto de desejo de muitas famílias brasileiras. Receba novas postagens direto no seu WhatsApp. Confesso que, do ponto de vista econômico, ainda que não seja essa uma área na qual eu tenha um vasto entendimento, essa me pareceu uma proposta discutível, ainda mais depois de assistir à postagem a seguir no Instagram: A primeira ideia que fui levado a pensar ao ouvir tal notícia (e posteriormente o vídeo acima) foi aquela que dá sentido a diversos contos, fábulas e até filmes, que diz "cuidado com o que você deseja, você pode acabar sendo atendido!". O que acabou por me remeter a outro artigo escrito há algum tempo, onde discorro sobre a responsabilidade do Estado de impor limites aos desejos da população através da uma analogia de uma criança diante da prateleira de doces em um supermercado. Entretanto, é preciso analisar com alguma cautela a diferença entre desejo e carência... Será mesmo que para nossa jovem chamada Mobilidade, no atual momento desse mercado que é o trânsito, o mais saudável seja atender a seus sonhos de deleitar-se diante de guloseimas como a redução do IPI de veículos populares? Ou o mais lógico seria suprir suas necessidades mais urgentes, mesmo que com uma boa sopa de investimentos no transporte público? Tem interesse pelo assunto? Gostaria de ler mais textos como esse? Então adquira agora o meu livro!

  • O RISCO DE NÃO INOVAR: UMA REFLEXÃO QUE VAI MUITO ALÉM DA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA

    Imagem: Publicação de Ricardo Xavier de Oliveira Confesso que acordei hoje com uma certa tristeza ao me deparar com um texto que circula nas redes, relatando a derrocada da Nissan em 2025. Triste por dois motivos bem pessoais. O primeiro deles é o carinho que sempre tive pela marca. Não é aquele amor distante, platônico, de quem admira à distância. É coisa vivida, sentida. Há alguns anos, tive um verdadeiro “ amor de verão ” por um SUV da montadora japonesa — paixão breve, mas marcante, que deixou lembranças ótimas. E hoje, ironicamente, meu carro atual é também um modelo da mesma marca. E digo, sem medo de errar: é, de longe, o melhor carro que já tive. Confortável, robusto, seguro, econômico e extremamente prazeroso de dirigir. Ver uma marca com esse histórico, essa tradição e esse significado pessoal chegar a esse ponto de colapso dói, sim. O segundo motivo da minha tristeza vem do fato de eu ser, assumidamente, um entusiasta da inovação. Isso, mesmo tendo construído as últimas duas décadas da minha vida profissional dentro do serviço público. E, quem vive ou transita por esse universo, sabe bem: inovar, por aqui, muitas vezes soa como ofensa. Como se questionar processos engessados fosse um desrespeito à experiência de quem sempre fez assim. A palavra “inovação” costuma ser recebida com desconfiança, quase como uma ameaça. Ler sobre o colapso da Nissan não é apenas constatar o fim de uma montadora — é observar o colapso de um modelo mental. E essa reflexão não se restringe à indústria automotiva. Ela serve, com força e clareza, para o setor público. Porque os riscos de não inovar no serviço público são tão — ou mais — graves quanto no setor privado. E eles estão aí, escancarados: Perda de eficiência e desperdício de recursos , com processos lentos, burocráticos e caros que não acompanham a velocidade que a sociedade exige. Desconexão com a população , que passa a não enxergar mais sentido ou valor nos serviços que deveriam atendê-la. Erosão da confiança nas instituições , o que abre espaço para descrédito, insatisfação e até movimentos de desobediência social. Desperdício do potencial humano , com servidores desmotivados, presos em rotinas que não estimulam criatividade nem desenvolvimento. Incapacidade de reagir rapidamente a crises , sejam elas sanitárias, climáticas, econômicas ou sociais. Fuga de talentos e desinteresse das novas gerações , que querem trabalhar em ambientes dinâmicos, tecnológicos e conectados com causas. Aprofundamento das desigualdades sociais , já que soluções engessadas não alcançam quem mais precisa. E, talvez o mais cruel: a substituição silenciosa do público pelo privado , onde quem pode paga, e quem não pode… fica para trás. Inovar no setor público não é uma escolha. É uma questão de sobrevivência institucional, de responsabilidade social e de compromisso com o futuro. Quem não entende isso, está fadado a se tornar o equivalente burocrático do que a Nissan se tornou hoje: uma marca que teve tudo para ser protagonista, mas que foi tragada pela própria resistência em mudar. Que essa triste notícia do mercado automotivo nos sirva de alerta — e de espelho.

  • PEDESTRE E O GAME DA VIDA DIÁRIA

    Recentemente, fui agraciado com uma daquelas belas coincidências que a vida nos presenteia volta e meia. Ao chegar no trabalho, fui escalado para acompanhar outros dois colegas em uma ação , na qual, através de uma parceria com uma universidade, foi criado um jogo eletrônico sobre educação para o trânsito. Na ocasião, alunos da rede municipal de ensino foram convidados para visitarem o campus da universidade e testarem o jogo em questão. Receba novas postagens direto no seu WhatsApp. “Ok, Rodrigo. Mas qual foi a coincidência?!” – você pode estar se perguntando. Naquele dia amanhecera chovendo e, por esse motivo, não pude ir de bike para o trabalho, como de costume. Enquanto caminhava na companhia de um velho guarda-chuva, me peguei calculando os próximos passos. E, entre um salto e outro em torno das poças que se formavam nas imperfeições do calçamento, me senti o próprio protagonista de um jogo de Campo Minado. Além, é óbvio, da atenção despendida com as lajotas soltas, buracos e poças de lama, nos quais estamos passíveis de um escorregão e até mesmo um tombo. Parecendo uma mistura bizarra de dançarino de balé com frevo, assim que terminei uma sequência de saltos fui forçado a dar meia volta e seguir pela beirada da rua, pois uma poça de lama cobria completamente a calçada de uma praça. Foi quando percebi outro desafio iminente: uma bela quantidade de água se encontrava empoçada alguns metros a frente, apenas esperando um pedestre desatento passar para ser lançada como um enorme tsunami sobre sua cabeça pelo primeiro veículo que passar sobre ela. E ao pensar nessa cena, me imaginei novamente como um protagonista de um jogo, mas dessa vez surfando nos jogos de verão do Califórnia Games . E mal a minha “onda” termina, já me vejo diante de uma nova fase desse game frenético. Porém, após toda a emoção, essa é uma fase de resistência e, sobretudo, paciência. Muita paciência (diga-se de passagem) é necessária para esperar até que uma alma caridosa resolva parar seu veículo para que eu possa atravessar com segurança a faixa de pedestres. Enquanto aguardo, lembro da minha sorte de poder, apesar de todos esses percalços, ir para o trabalho diariamente a pé. A grande maioria passa por desafios bem maiores e mais extensos. É o caso daqueles que dependem de transporte público para tais deslocamentos. Jogadores que, além de todos essas lutas, ainda se vêem frequentemente como uma espécie de Sonic , correndo até a parada para não perderem seus ônibus. E que, depois do embarque, precisam se deslocar numa espécie de Pitfall pelos balaústres dos ônibus superlotados, desviando dos demais passageiros para conseguirem chegar até a porta de saída. Mas logo sou despertado dos meus devaneios por uma buzina, como a me lembrar que, nesse Jogo de Paciência, quem dá as cartas não é o pedestre. É nesse exato momento que percebo estar diante do derradeiro desafio. A fase mais difícil e perigosa de todas, na qual se encontra o chefão do jogo. Em face da espera que parece não ter fim, tento uma jogada que, pode não ser a mais segura, mas certamente é a mais utilizada pela maioria dos jogadores. E como a galinha no jogo Freeway , me lanço em meio aos veículos tentando chegar ao lado oposto da via. Segundo dados do OBSERVAMOB DA EPTC, das 72 mortes no trânsito ocorridas durante o ano de 2021 em Porto Alegre, 22 (mais de 30%) foram de pedestres, todos por atropelamento. E dessas 22 vítimas, 12 tinham mais de 60 anos (problema já mencionado em outro artigo ). Vale lembrar que, ainda que a vida de um pedestre em um grande centro urbano possa ser comparada a um grande desafio de videogame , após o game over nenhuma dessas 22 pessoas tinha vidas extras, password nem puderam dar um continue .

  • OS SOLDADOS INVISÍVEIS DA GUERRA NO TRÂNSITO

    Imagine, por um instante, um exército sendo enviado para uma guerra... mas sem armas, sem coletes, sem qualquer proteção. Soldados com a missão de defender, de garantir a ordem, mas sem o devido reconhecimento, respaldo ou os instrumentos necessários para cumprir sua função. Parece impensável, não é? No entanto, por muitos anos, essa tem sido a realidade dos agentes de trânsito  no Brasil. Profissionais que, diariamente, estão nas ruas enfrentando não apenas o caos da mobilidade, mas também situações de extremo risco, tensão e violência — muitas vezes vistos apenas como "multadores", quando na verdade são verdadeiros guardiões da segurança viária. É nesse contexto que surge a Proposta de Emenda à Constituição nº 37, de 2022 (PEC 37/2022) , aprovada recentemente no Senado e agora em análise na Câmara dos Deputados. Esta PEC propõe incluir as guardas municipais  e os agentes de trânsito  no artigo 144 da Constituição, que trata dos órgãos que compõem a segurança pública. Por que isso importa? Porque, até aqui, os agentes de trânsito eram, paradoxalmente, fundamentais para a segurança pública... sem, no entanto, serem formalmente reconhecidos como tal. Viviam a contradição de serem cobrados pela eficiência na proteção da vida no trânsito, mas sem o devido amparo constitucional, legal e social. A PEC 37/2022 rompe esse ciclo de invisibilidade institucional. Ela reconhece, na Constituição, que os agentes de trânsito não apenas regulam fluxos, aplicam multas ou organizam veículos. Eles são, de fato, parte da engrenagem da segurança pública — uma segurança que não está restrita às fronteiras do crime convencional, mas que se manifesta, também, no campo do trânsito, onde vidas são ceifadas todos os dias. O trânsito como campo de batalha Talvez nem todos percebam, mas o trânsito é, sim, uma das maiores expressões da violência cotidiana em nosso país. Mortes, mutilações, agressões, fugas, embriaguez, imprudências diversas. O agente de trânsito, quando está nas ruas, não está apenas fiscalizando; ele está mediando conflitos, prevenindo tragédias e, muitas vezes, sendo a primeira linha de resposta em emergências. Por isso, enviar agentes de trânsito para as ruas sem o devido respaldo é como enviar soldados desarmados para uma guerra que, infelizmente, mata mais do que muitos conflitos armados. O que muda com a aprovação da PEC? Reconhecimento:  Os agentes passam a ser reconhecidos como integrantes da segurança pública, com status constitucional. Valorização:  Fortalece a luta por melhores salários, condições de trabalho, formação continuada e proteção legal. Proteção:  Amplia direitos, como aposentadoria especial, adicionais de risco e possibilidade de porte de arma institucional (quando regulamentado). Fortalecimento da segurança viária:  O trânsito deixa de ser visto apenas como problema de mobilidade e passa a ser tratado, de forma clara, como questão de segurança pública. Respostas mais eficazes:  O cidadão poderá contar com agentes mais preparados, respaldados e integrados às demais forças de segurança. E quais os desafios? Toda mudança estrutural exige cautela. A integração dos agentes de trânsito ao sistema de segurança pública precisa ser acompanhada de regulamentações claras, formações específicas e, sobretudo, de uma compreensão social sobre seu real papel. Não se trata de militarizar o trânsito, tampouco de transformar o agente em policial. Trata-se de reconhecer que sua missão — que é proteger vidas — é, sim, uma missão de segurança pública. Reflexão final Se queremos, de fato, construir um trânsito mais seguro, humano e digno, não podemos mais aceitar que aqueles que cuidam da vida no espaço viário sejam tratados como meros aplicadores de penalidades. Eles são, na prática, verdadeiros defensores da ordem, da paz e da segurança. A PEC 37/2022 não resolve tudo — mas é um passo simbólico e concreto na direção de uma sociedade que entende que trânsito é, sim, uma questão de vida. E quem protege a vida precisa ser protegido também.

  • O FIM DOS AGENTES DE TRÂNSITO?

    Categoria extremamente estigmatizada e desvalorizada por grande parte da sociedade, os Agentes de Trânsito desempenham um importante papel junto ao Sistema Nacional de Trânsito: o de fazer cumprir a legislação de trânsito. No entanto, assim como já ocorreu com diversas profissões e ainda ocorrerá com outras tantas, essa profissão pode estar com seus dias contados. Receba novas postagens direto no seu WhatsApp. Fato que já abordei em outro artigo , e que talvez venha a acontecer em breve devido a duas tecnologias. A primeira chama-se Internet das coisas , um conceito que se refere à interconexão digital de objetos cotidianos com a internet. Em outras palavras, a internet das coisas nada mais é que uma rede de objetos físicos capaz de reunir e de transmitir dados. O que nos leva diretamente à segunda: Cidades Inteligentes . Uma Cidade inteligente é uma cidade que usa tipos diferentes de sensores eletrônicos para coletar dados e usá-los para gerenciar recursos e ativos eficientemente. Dessa forma, imagine que, no futuro, você não precisará mais de agentes de trânsito para multá-lo, pois o próprio semáforo poderá fazer isso, assim como sensores sobre as faixas de segurança, no meio-fio das calçadas… Até mesmo o seu próprio carro terá essa capacidade! A verdade é que , diferentemente do que pensa o senso comum, as atribuições dos agentes vão muito além da autuação. Como costumo sempre mencionar nas palestras que ministro, “enquanto agentes, fazemos tantas, mas tantas coisas na rua que, às vezes, até sobra tempo para multar!”. Um exemplo é o atendimento de sinistros, sejam envolvendo vítimas, sejam apenas envolvendo danos materiais, como já citei em diversos outros textos. Já ouvi, entretanto, em palestras ou em comentários nas redes sociais, reclamações de condutores que, ao envolverem-se em sinistros apenas com danos materiais, solicitaram o atendimento do órgão gestor e foram informados de que esse não teria efetivo para atender à ocorrência (sobretudo em horário de pico, onde a prioridade é a fluidez viária e situações envolvendo vítimas) e foram orientados a procurarem a delegacia mais próxima ou mesmo realizarem a ocorrência de forma virtual. Há algum tempo, mandei, via banco de ideias, para a direção do órgão gestor do trânsito da cidade um projeto que previa a criação de um formulário eletrônico para o preenchimento de ocorrências desse tipo, uma vez que todos os agentes já trabalham com um talonário eletrônico. Além de ser ecologicamente mais sustentável por dispensar o uso de papel, podendo ser enviadas por e-mail as cópias da ocorrência para cada uma das partes envolvidas, possibilitaria, nestes mesmos e-mails, enviar avaliações dos atendimentos dos agentes. Mas, pensando de forma prática, estando esse formulário disponível em formato digital, teria necessidade de um agente no local para preenchê-lo? Não poderiam as próprias partes envolvidas realizarem esse preenchimento? Foi quando conheci, através das redes sociais, o advogado especialista em trânsito Dr. Eduardo Camargos Couto, sócio diretor da Bateu Resolveu . A empresa proporciona, través de um aplicativo, que o condutor envolvido no sinistro seja orientado a tirar fotos do local e dos veículos envolvidos, colete dados das outras partes e veículos e até mesmo colha depoimentos de testemunhas. Após o envio dos dados, o aplicativo promete encaminhar em até 48 horas um laudo técnico pericial. Além disso, a empresa ainda disponibiliza assessoria jurídica através de uma equipe de experientes advogados e peritos. Tal serviço me fez lembrar do vídeo a seguir, o qual compartilhei há algum tempo nas minhas redes sociais: Se ainda estamos um tanto longe de chegarmos a tal nível de evolução tecnológica, é fato que estamos ainda mais longe de vermos extinta a função dos agentes de trânsito. Não apenas por não termos ao nosso dispor tecnologias que os substituam. Mas, principalmente, por estarmos a anos-luz de uma sociedade suficientemente madura eticamente, na qual seja dispensável a necessidade de fiscalização. Nesse ponto, receio que ainda seguiremos sendo fiscalizados por mais muito tempo, seja por máquinas, seja por outros seres humanos. Tem interesse pelo assunto? Gostaria de ler mais textos como esse? Então adquira agora o meu livro!

  • O (DES)EQUILÍBRIO DE UMA SOCIEDADE ENTRE A REPRESSÃO E A INSURGÊNCIA

    Dois casos recentes envolvendo polícias rodoviários federais chocaram não apenas a quem trabalha com trânsito, mas a toda a sociedade. O primeiro, no último dia 18, resultou em dois policiais cearenses mortos a tiros após um deles ser desarmado durante o atendimento de uma ocorrência na BR 101. Menos de 10 dias depois, um homem morreu asfixiado após uma abordagem de três agentes da PRF em Sergipe. Ele foi revistado, algemado, amarrado e colocado no porta-malas da viatura, dentro da qual foi acionada uma bomba de gás. Receba novas postagens direto no seu WhatsApp. O que mais me intrigou foi que, entre um acontecimento e outro, debatíamos, alguns colegas e eu, exatamente sobre isso. Como a história, de maneira geral, é cíclica, repleta de momentos de maior repressão e seguida de momentos de maior permissividade. Como se a humanidade não fosse capaz de alcançar um equilíbrio entre esses dois extremos. E essa característica, obviamente, não deixa de ser expressa no trânsito. Um exemplo que trago muito vivo na memória remete à minha adolescência. Na época, tinha alguns amigos que moravam na Avenida Princesa Isabel, avenida de movimento diuturno na cidade de Porto Alegre, na qual encontravam-se diversos bares, lancherias e casas noturnas. Era comum passar a noite no apartamento desses amigos. Como sempre fui detentor de um sono extremamente leve, encontrava grande dificuldade quando precisava dormir lá, passando inúmeras noites em claro. Tudo porque, naquela época, essa avenida era palco de constantes pegas e rachas durante a madrugada. Esse, me parece, é um retrato fidedigno da ética que impera na nossa sociedade. O que me remete à Teoria do Desenvolvimento Moral, de Jean Piaget, a qual já abordei em outro artigo . Segundo ele, o desenvolvimento moral e ético estaria dividido ao longo da vida em três grandes fases, a Anomia Moral, a Heteronomia Moral e culminariam em uma Moralidade Autônoma . Nesta fase derradeira, o indivíduo deveria adquirir princípios morais e éticos a ponto de cumprir com seus deveres simplesmente pela consciência de sua necessidade, significação e importância, ainda que não esteja na presença de uma autoridade. Trocando em miúdos, seria, por exemplo, aquele condutor que respeita os limites de velocidade da via, mesmo quando não há nenhum equipamento eletrônico de fiscalização, pelo simples fato de ter consciência de que a alta velocidade pode gerar riscos a sua vida e a de outrem. E no que se refere a deveres, se tratando esse um ano eleitoral, cabe lembrar deste que é um dos principais deveres cívicos: votar conscientemente para escolher seus governantes e representantes nos poderes legislativo e executivo. Em uma sociedade onde reina uma inconcebível lógica dicotômica, ainda sigo o bom e velho ensinamento aristotélico, que diz: “A virtude consiste em saber encontrar o meio-termo entre dois extremos.” Tem interesse pelo assunto? Gostaria de ler mais textos como esse? Então adquira agora o meu livro!

  • PSICOLOGIA AMBIENTAL: UMA ALTERNATIVA À SUSTENTABILIDADE HUMANA

    Há alguns dias recebi uma indicação para uma palestra em um seminário, no qual o tema seria Inovação e Desenvolvimento Socioambiental. Durante as tratativas com a responsável pela organização do evento, referi que minha linha de trabalho era muito mais inovação que desenvolvimento socioambiental, mesmo assim me pus a disposição pelo desafio de falar sobre algo que foge da minha zona de conforto. Quando propus o título análogo ao do presente artigo, a mesma pessoa me questionou: “Mas Rodrigo, e quanto à INOVAÇÃO?”. Ao que eu respondi: “Mas o que é INOVAÇÃO para você?”. Ela, acertadamente, respondeu que uma inovação não precisa necessariamente estar ligada à tecnologia. A inovação, no contexto de mobilidade urbana, por exemplo, poderia ser uma intervenção realizada nas calçadas da cidade, no intuito de dar um maior conforto e/ou segurança ao pedestre. “Perfeito” – respondi. Era exatamente essa a minha intenção na palestra (e também nesse artigo): Propor a inovação no sentido de uma quebra de paradigma, uma nova forma de entender a relação do ser humano com a natureza, bem como do ser humano com ele mesmo. E essa desconstrução começa pelo próprio conceito de tecnologia. Quando usamos o termo tecnologia tendemos a pensar em ferramentas ou componentes eletrônicos, como computadores, smartphones ou aplicativos, quando na verdade o conceito de tecnologia é muito mais amplo. Na verdade, ele refere-se à qualquer conhecimento que, aplicado através de um processo técnico e científico, se possa chegar a uma determinada transformação. Desse ponto de vista, se você que está lendo e compreendendo esse texto é devido a uma determinada tecnologia. Não necessariamente à transmissão de dados pela internet, nem pela projeção da imagem no seu monitor ou na tela do seu celular, mas devido ao processo de escrita, que também pôde, em algum momento da história da humanidade, ser considerado uma inovação tecnológica. E, em se tratando da história da humanidade, é inegável a insignificância humana perante toda a história da Terra. Historiadores estimam que a Terra tenha por volta de 4,5 bilhões de anos, enquanto a humanidade, apenas 2 milhões de anos. Se considerarmos a história da civilização atual, aí teríamos míseros 10 mil anos. O historiador inglês Christopher Lloyd traz de forma bastante elucidativa em seu livro O que aconteceu na Terra um interessante comparativo da história da Terra com a da humanidade. Segundo ele, se a história da terra pudesse ser expressa nas 24 horas de um relógio, a história da humanidade começaria apenas às 23:59:57, ou seja, apenas 3 segundos é todo o tempo que levaria da pré-história até os dias atuais. Diante de tal cenário e dos avanços constantes das biotecnologias e da inteligência artificial, os questionamentos do homem acerca da sua “humanidade” – e mesmo de sua centralidade – passam a ser cada vez mais constantes. Quando há a possibilidade de que uma máquina se iguale ou até mesmo supere o desempenho de quem a criou, que o homem possa ser clonado ou mesmo ter seu código genético modificado, o sentido da “humanidade” tende a ser repensado. Nesse sentido, em um estudo de 1917, Freud propôs que ao longo da história o homem teria sofrido três grandes golpes ao seu amor-próprio, o primeiro denominado Cosmológico, o segundo Biológico e o terceiro Psicológico (saiba mais lendo RECALL NARCÍSICO ). Cada uma dessas “feridas narcísicas”, como foram referidas, levou a uma reestruturação da sua relação com o mundo em busca de um equilíbrio. E, no que tange à psicologia, há uma área de estudo denominada Psicologia Ambiental, a qual pode ser definida como o estudo do inter-relacionamento entre comportamento e ambiente físico, tanto o construído quanto o natural. Pode não ser o exemplo mais preciso, mas isso me faz lembrar da Teoria das Janelas Quebradas , uma teoria criada em 1982 por cientistas sociais norte americanos, chamados James Q. Wilson e George Kelling, que basicamente defendem que se uma janela de um edifício for quebrada e logo não receber reparo, a tendência é que passem a arremessar pedras nas outras janelas e posteriormente passem a ocupar o edifício e destruí-lo. No que diz respeito à sustentabilidade humana, a relação me parece bastante óbvia: se o prédio for o Condomínio Residencial Planeta Terra e as vidraças os recursos naturais (aos quais nós, estimados seres humanos, estamos incluídos), parece estar mais do que na hora de pararmos de esperar pelo síndico (ou seja lá qual outra autoridade for), arregaçarmos as mangas e começarmos a trocar nós mesmos essas vidraças, antes que sejamos despejados de vez… Tem interesse pelo assunto? Gostaria de ler mais textos como esse? Então adquira agora o meu livro!

  • TECNOLOGIA: A PERFEIÇÃO LEVA TEMPO?

    Nessa semana, me preparava para uma palestra para uma construtora. Obviamente que, devido à atual pandemia, virtualmente. Durante os preparativos, no auge das lives que se disseminaram através da internet, refletia sobre as possibilidades que a tecnologia tem nos proporcionado nos últimos anos. Quem imaginaria, em meados dos anos 80 ou 90, que um dia teríamos a capacidade de termos uma reunião, um treinamento ou uma palestra com alguém, mesmo estando do outro lado do mundo, através de dispositivos que cabem na palma da mão? A não ser, é claro, nos filmes de ficção científica da época… A tecnologia tem evoluído em velocidade exponencial, fazendo com que ferramentas como essa, que um dia foram imaginadas apenas no âmbito cinematográfico, tornem-se hoje realidade. Essa evolução, no que diz respeito ao trânsito, tem influência direta, sobretudo quando o assunto gira em torno de um tema que já dediquei diversos artigos: veículos autônomos. Recentemente, tive o prazer de contatar via redes sociais o consultor Sebastião Souza , que me agraciou com um excelente material em alusão ao Maio Amarelo. Um deles, que refere-se ao uso de celular ao dirigir, toca nesse exato ponto: Eis que, ao compartilhar o vídeo em um dos grupos que participo nas redes sociais, eu recebo o seguinte comentário de um seguidor: É inevitável a chegada dos autônomos, mas a perfeição vai levar um bom tempo. Eu não confio hahahaha Deixo aos amigos leitores o mesmo questionamento que fiz ao caro seguidor: será que mais tempo do que nós, seres humanos, levaremos pra chegar à perfeição? É bem provável que enfrentemos alguns percalços, que acidentes aconteçam, que vidas se percam durante esse processo de aperfeiçoamento da máquina. O que não me parece motivo suficientemente plausível para defendermos que continuemos a perder essa quantidade exorbitante de vidas no trânsito. Pelo menos até que aconteça algo que, no meu humilde ponto de vista, se não ocorreu até o presente momento, muito provavelmente nunca irá ocorrer: evoluirmos em educação e consciência ao ponto de termos um trânsito harmônico, seguro e civilizado. Diferentemente da tecnológica, essa perfeição sim levará muito tempo. Tem interesse pelo assunto? Gostaria de ler mais textos como esse? Então adquira agora o meu livro!

  • CONDUTOR REBORN: O MOTORISTA QUE VOCÊ GOSTARIA DE ENCONTRAR NO TRÂNSITO

    Nos últimos dias, as redes sociais ficaram em polvorosa com o caso da “mãe de bebê reborn” que tentou marcar uma consulta médica para sua boneca. A cena rendeu memes, debates acalorados e, claro, muita reflexão sobre os limites entre fantasia e realidade. Cuidar de um boneco como se fosse um bebê pode funcionar, em nível inconsciente, como uma tentativa de corrigir algo que falhou no passado: uma maternidade que não se realizou, uma infância negligenciada ou a perda de alguém. O reborn se torna um palco simbólico onde dramas afetivos internos são encenados e, de certa forma, reparados. Essa prática, embora simbólica, pode ser emocionalmente reguladora para algumas pessoas, mas também pode indicar a presença de traumas não elaborados ou necessidades psíquicas não resolvidas — especialmente quando a fantasia precisa ser compartilhada com o mundo real (como exigir atendimento médico para o boneco). Além do mais, o bebê reborn não chora, não adoece, não desobedece. Para quem viveu relações familiares disfuncionais ou experiências traumáticas, ele representa uma chance de “reparar” um passado afetivo e exercer um papel cuidador sem os riscos inerentes às relações humanas reais. A propósito, em se tratando de riscos, que contexto cotidiano nos expõe mais do que o trânsito?Inspirado por esse episódio fascinante da psique coletiva, venho apresentar uma inovação que pode — quem sabe — salvar algumas vidas (ou ao menos nossa paciência): o Condutor Reborn . Trata-se de um boneco, é claro. Mas não um boneco qualquer. Este é um motorista exemplar: nunca bebe antes de dirigir, não ultrapassa pelo acostamento, respeita pedestres (mesmo os que atravessam fora da faixa!) e jamais toca no celular ao volante. O Condutor Reborn é programado para seguir à risca o Código de Trânsito Brasileiro — algo que muitos condutores reais tratam como ficção científica. Imagine só: você vai renovar sua CNH, mas está cansado da burocracia? Envie seu Condutor Reborn no seu lugar. Ele é discreto, obediente e, diferentemente de alguns humanos, sabe que seta não é item decorativo . Ele nunca buzina por impulso, não xinga ciclistas e tem uma paciência quase zen no congestionamento. Enquanto alguns pais esquecem seus filhos dentro de carros estacionados, como se fossem bonecos largados no fundo de uma prateleira, outros oferecem a bonecos um tratamento digno de realeza — com consultas médicas, roupas de grife e berços sob medida. Ironias à parte, talvez seja esse o ponto: reborn  significa "renascido", e é possível que episódios como esse sirvam não apenas para nos divertir ou chocar, mas para nos lembrar da urgência de um "renascimento' — de um trânsito mais humano e, sobretudo, de seres humanos mais conscientes, empáticos e presentes.

  • FLAGRANTES QUE A VIDA (OU O GOOGLE) DÁ

    Imagem: Google Street View O Google Street View já flagrou de tudo um pouco: um homem vestido de cavalo andando pelas ruas de Londres, um carro perseguido por uma gangue de pombos em Tóquio, um mergulhador de terno no meio do deserto australiano e até um sujeito fugindo de zumbi em plena calçada — tudo isso registrado sem ensaio, sem direção e sem filtro. A ferramenta, criada para nos ajudar a encontrar endereços, acabou virando um acervo involuntário de situações bizarras, divertidas e, às vezes, bastante reveladoras sobre o nosso comportamento. Foi numa dessas “viagens virtuais” que me deparei com uma cena aparentemente banal, mas que diz muito sobre os hábitos perigosamente normalizados no nosso trânsito. Dias desses, um colega me perguntou sobre o endereço de uma loja. Para garantir, fui consultar o bom e velho Google Maps. E lá estava ela: fachada simples, calçada estreita, placa visível… Tudo certo. Mas o que chamou minha atenção não foi a loja. Foi o que passava na frente  dela no exato momento em que a imagem foi capturada: um caminhão de entulho. E lá estava o motorista — mãos no volante? Não. Olhos atentos ao trânsito? Também não. Ele manuseava o celular com a maior naturalidade do mundo. Um flagrante digital congelado na eternidade por um carro do Google. Imagem: Google Street View O curioso? Eu nem estava procurando por isso. E foi aí que me dei conta: se até o Google Street View , que faz capturas pontuais e aleatórias, conseguiu flagrar esse comportamento, imagine o que está acontecendo nas ruas, o tempo todo , longe das lentes e dos cliques. A cena me arrancou um riso — daquele tipo que vem antes da indignação. Porque é tão absurdo quanto previsível. Obviamente, o Google não saiu pelas ruas com a missão de flagrar infrações. Mas conseguiu. Sem querer. E isso nos diz muito. A frequência com que motoristas manuseiam o celular ao volante é tamanha que a chance de “pegar” um no ato virou quase estatística. É como lançar uma rede no mar e puxar um peixe — só que, nesse caso, o peixe está usando o WhatsApp. Para quem dirige todos os dias, o celular no colo virou uma extensão do painel. A pessoa até se convence de que “dá conta”. Manda um áudio aqui, confere um grupo ali, responde rapidinho — tudo isso, claro, enquanto dirige toneladas de ferro em movimento. É a famosa ilusão de controle : “Eu sei o que estou fazendo”, “comigo não acontece”, “é só um segundo”. E aí vem a estatística teimosamente nos lembrar que segundos matam. A coisa piora quando falamos de motoristas profissionais. Caminhoneiros, motoristas de ônibus, de aplicativos — todos com carga (e responsabilidade) a mais. No caso do flagrante que vi, era um caminhão de entulho. Mas e se fosse um ônibus escolar? Um caminhão-tanque? Uma ambulância? O comportamento é o mesmo, mas o impacto pode ser desproporcional. Um motorista experiente que usa o celular ao volante não é só um risco ambulante — é também um mau exemplo em movimento. O mais irônico, talvez, seja isso: uma tecnologia (o carro do Google) flagrou o mau uso de outra tecnologia (o celular), que interfere negativamente na condução de outra (o veículo). Um triângulo amoroso moderno que termina, muitas vezes, em tragédia. A tecnologia, como diria um filósofo digital qualquer, não é o problema. O uso que fazemos dela, sim. Fiquei pensando que talvez esse flagrante nem devesse me surpreender tanto. Mas me surpreendeu. Porque, no fundo, a gente ainda tem a esperança de que o absurdo não seja tão comum. E foi aí que percebi: às vezes, tudo o que precisamos para enxergar um problema que está diante dos nossos olhos… é justamente olhar de verdade . Até mesmo uma simples checada no Google Maps pode se transformar num espelho da nossa cultura no trânsito. Se até o Google, que só passa uma vez por ano, flagrou um motorista ao celular, imagina quem passa por você todos os dias? Fica a reflexão — e o pedido: se for dirigir, guarde o celular. Do contrário, você pode acabar aparecendo no Street View… ou no noticiário.

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