"TODOS TÊM AS MESMAS 24 HORAS”. SERÁ MESMO?
- Rodrigo Vargas
- há 2 dias
- 2 min de leitura

Costuma-se dizer, sobretudo em postagens de coachs motivacionais espalhados pela internet, que “todos têm as mesmas 24 horas”. Será mesmo?
À primeira vista, essa afirmação parece fazer sentido. O relógio é, de fato, democrático. Cada pessoa, não importa quem seja, recebe a mesma quantidade de horas por dia. Porém, quando olhamos mais de perto, percebemos que essa igualdade é, na verdade, apenas matemática — e não social.
Basta observar a dinâmica da mobilidade urbana. Para algumas pessoas, o deslocamento diário entre casa e trabalho consome cerca de 45 ou 50 minutos. Para outras, esse mesmo trajeto leva mais de duas horas — só de ida. Quando somamos o tempo da volta, não é raro encontrar pessoas que gastam quatro ou até cinco horas por dia dentro de ônibus, trens, metrôs e terminais superlotados.
Agora imagine o impacto disso acumulado ao longo dos dias, meses e anos. Enquanto uns podem dedicar seu tempo livre aos estudos, ao autocuidado, à família, ao lazer ou até a projetos que ampliam suas oportunidades de vida, outros têm suas horas drenadas pelo transporte precário, pelo trânsito e pela falta de opções acessíveis.
Isso sem mencionarmos fatores financeiros... Habitualmente, sou usuário do transporte público. A passagem onde moro custa 5 reais. Gasto duas passagens por dia, uma para ir e outra para voltar do trabalho. Dia desses, em função de um compromisso, precisei ir de carro para o trabalho e o resultado no final do dia foi espantoso: cheguei uma hora antes do horário que chego em casa de costume!
Motivado por aquela conhecida máxima capitalista, decidi fazer um cálculo simples: se "tempo é dinheiro", quanto custaria essa economia de tempo que o carro me proporcionou? Dividindo o valor do meu salário pelo número de horas trabalhadas, consegui achar o valor recebido por hora. Se eu tivesse aplicado mensalmente o valor dessa hora diária de trabalho economizada desde que eu tirei minha carteira de motorista, atualmente teria uma quantia de mais de R$ 600 mil!

É fácil cair na tentação de defender a meritocracia quando se olha apenas o ponto de partida e o destino, ignorando os caminhos percorridos. Difícil é sustentar esse argumento quando se percebe que algumas pessoas começam a corrida já exaustas, porque seus dias têm, na prática, três ou quatro horas a menos.
E o tempo, como sabemos, é o recurso mais valioso que possuímos. Tempo é qualidade de vida. Tempo é oportunidade. Tempo é dinheiro — e, acima de tudo, tempo é vida.
E em tempos de “quem vê o close não vê o corre”, cultivar empatia e compreensão torna-se uma prática urgente. Como bem disse Caetano, “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”. E é na escuta, na reflexão e no olhar atento para essas desigualdades invisíveis que podemos construir não apenas cidades mais justas, mas também relações mais humanas.
Comments