O RISCO DE NÃO INOVAR: UMA REFLEXÃO QUE VAI MUITO ALÉM DA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA
- Rodrigo Vargas
- há 11 minutos
- 2 min de leitura

Confesso que acordei hoje com uma certa tristeza ao me deparar com um texto que circula nas redes, relatando a derrocada da Nissan em 2025. Triste por dois motivos bem pessoais.
O primeiro deles é o carinho que sempre tive pela marca. Não é aquele amor distante, platônico, de quem admira à distância. É coisa vivida, sentida. Há alguns anos, tive um verdadeiro “amor de verão” por um SUV da montadora japonesa — paixão breve, mas marcante, que deixou lembranças ótimas. E hoje, ironicamente, meu carro atual é também um modelo da mesma marca. E digo, sem medo de errar: é, de longe, o melhor carro que já tive. Confortável, robusto, seguro, econômico e extremamente prazeroso de dirigir. Ver uma marca com esse histórico, essa tradição e esse significado pessoal chegar a esse ponto de colapso dói, sim.
O segundo motivo da minha tristeza vem do fato de eu ser, assumidamente, um entusiasta da inovação. Isso, mesmo tendo construído as últimas duas décadas da minha vida profissional dentro do serviço público. E, quem vive ou transita por esse universo, sabe bem: inovar, por aqui, muitas vezes soa como ofensa. Como se questionar processos engessados fosse um desrespeito à experiência de quem sempre fez assim. A palavra “inovação” costuma ser recebida com desconfiança, quase como uma ameaça.
Ler sobre o colapso da Nissan não é apenas constatar o fim de uma montadora — é observar o colapso de um modelo mental. E essa reflexão não se restringe à indústria automotiva. Ela serve, com força e clareza, para o setor público.
Porque os riscos de não inovar no serviço público são tão — ou mais — graves quanto no setor privado. E eles estão aí, escancarados:
Perda de eficiência e desperdício de recursos, com processos lentos, burocráticos e caros que não acompanham a velocidade que a sociedade exige.
Desconexão com a população, que passa a não enxergar mais sentido ou valor nos serviços que deveriam atendê-la.
Erosão da confiança nas instituições, o que abre espaço para descrédito, insatisfação e até movimentos de desobediência social.
Desperdício do potencial humano, com servidores desmotivados, presos em rotinas que não estimulam criatividade nem desenvolvimento.
Incapacidade de reagir rapidamente a crises, sejam elas sanitárias, climáticas, econômicas ou sociais.
Fuga de talentos e desinteresse das novas gerações, que querem trabalhar em ambientes dinâmicos, tecnológicos e conectados com causas.
Aprofundamento das desigualdades sociais, já que soluções engessadas não alcançam quem mais precisa.
E, talvez o mais cruel: a substituição silenciosa do público pelo privado, onde quem pode paga, e quem não pode… fica para trás.
Inovar no setor público não é uma escolha. É uma questão de sobrevivência institucional, de responsabilidade social e de compromisso com o futuro. Quem não entende isso, está fadado a se tornar o equivalente burocrático do que a Nissan se tornou hoje: uma marca que teve tudo para ser protagonista, mas que foi tragada pela própria resistência em mudar.
Que essa triste notícia do mercado automotivo nos sirva de alerta — e de espelho.
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