Sempre tive certa dificuldade em guardar nomes. Porém, sou um ótimo fisionomista. Quando estou em casa assistindo à alguma série ou filme, frequentemente me pego pausando o mesmo para procurar na internet por algum ator que eu reconheci, mas não lembro exatamente de qual outra obra. Acredito que muito dessa "habilidade" seja proveniente dos anos nos quais trabalhei no transporte público. Ainda hoje, vez que outra, reconheço na rua alguma pessoa que era meu passageiro nos tempos de rodoviário. Durante aquela época, constatei que grande parte dos passageiros eram "cativos", como tínhamos o hábito de chamar. Ou seja, costumavam pegar todos os dias o mesmo ônibus, no mesmo horário.
Diante de tal constatação, há algum tempo me questiono se, com o atual nível tecnológico que chegamos, não seria possível implantar um sistema de agendamento de viagens para o transporte público, tornando-o dessa forma mais previsível, racional e, principalmente, mais confortável.
Eis que, recentemente, tive acesso a uma notícia que me deixou orgulhoso e ao mesmo tempo preocupado. Orgulhoso, já que um sistema de transporte sob demanda, que será chamado de Teu Bus, será implantado de forma experimental, visando complementar o transporte público na cidade de Cachoeirinha, na região metropolitana de Porto Alegre. O sistema nem de longe chega a ser uma novidade, pois diversas cidades Brasil afora vêm utilizando-o há alguns anos. No entanto, fiquei preocupado por não estar a capital gaúcha sequer cogitando tal alternativa. Cidade que já foi há alguns anos reconhecida nacionalmente como uma referência em transporte público.
Coincidentemente, no mesmo dia que recebi essa notícia, participei do 4º Fórum Gaúcho de Secretários e Dirigentes de Mobilidade Urbana, no qual foram discutidos, dentre outros assuntos, a eletrificação da frota, sistema de isenções e fontes alternativas de subsídios. Na chegado do evento, tive a grata satisfação de reencontrar um ex-colega que trabalha atualmente em uma das empresas responsáveis pela parceria com a prefeitura da cidade de Cachoeirinha para a implantação do sistema. Conversamos brevemente a respeito do sucesso do projeto. Segundo palavras dele, ele tentou sem sucesso pelos últimos dois ou três anos a aprovação para a implantação do mesmo sistema em Porto Alegre.
Na capital existe um sistema de transporte seletivo, chamado de lotação, criado em meados da década de 70, que conta atualmente com uma frota de 200 micro-ônibus com capacidades que variam de 21 a 38 passageiros, conforme a linha e modelo do veículo. Todas as 26 linhas que compõem o sistema têm terminais no Centro da cidade, agravando ainda mais o problema da sobreposição de linhas de ônibus já existentes, sejam elas municipais, sejam vindas da região metropolitana.
Ora... com o devido respeito, não é preciso de nenhum Fórum, nem ser Secretário, Dirigente ou sequer especialista na área para entender o problema e pensar em soluções. Soluções que nem mesmo precisam ser criadas, pois já existem e, em muitos locais, já estão até mesmo sendo implementadas. Basta que nossos nobres representantes do executivo ajam com seriedade e lembrem que estão onde estão para representar e lutar pelos interesses da população como um todo e não apenas parte dela.
A nós, cabe a responsabilidade de reclamar menos e refletir melhor na hora de escolhermos esses representantes. Particularmente, estou certo em quem não votar nas próximas eleições municipais. Ainda que eu não lembre exatamente o nome do candidato... felizmente, eu sou um ótimo fisionomista!
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Parabéns pelo artigo Rodrigo! Fico muito feliz em ver o primeiro sistema de transporte do Rio Grande do Sul a implementar o transporte sob demanda para a população.