Há uma semana, enquanto me dirigia com minha esposa para o show da Banda Jota Quest, passei por uma dupla de colegas Agentes de Trânsito que tentavam organizar o fluxo do entorno do estádio Beira Rio, auxiliando no desembarque de passageiros em meio a um caos formado por uma multidão de pedestres, carros de aplicativo e cambistas a oferecerem ingressos.
Lembro de pensar no quanto estavam expostos aqueles profissionais em meio aquele mar de pessoas. Rapidamente, um filme composto por fragmentos de diversas cenas, assim como flashbacks, passou diante dos meus olhos. Memórias de tantos outros shows, jogos de futebol, blitz e apoios noturnos a pinturas viárias nos quais me senti exposto como eles durante meus anos na fiscalização. Exposto não apenas às intempéries e aos riscos do próprio trânsito, mas também à violência urbana.
Sentimento esse que, felizmente, se tornou menos frequente após minha transferência para o setor de educação, no qual atuo atualmente. Em muitas das palestras as quais ministro, ao falar sobre a importância de comportamentos seguros no trânsito, me dirijo ao público perguntando "quanto vale uma vida?" Aproveito a ocasião para falar dos custos sociais dos sinistros de trânsito, bem como das mortes e sequelas por esses causadas.
Entretanto, principalmente quem já perdeu um ente querido, seja no trânsito, seja em outras circunstâncias, sabe que não há valor que traga essa pessoa de volta. Portanto, invariavelmente a resposta que recebo é que "uma vida não tem preço!"
Mas de que vida estamos falando aqui, Rodrigo?
E se essa vida for a de um Agente de Trânsito? Qual é o valor dessa vida? Recentemente descobri que essa vida custa exatamente R$130,16, que é o valor de uma multa por estacionar em local irregular.
No último sábado, a notícia do assassinato de um Agente de Trânsito durante um procedimento de remoção de um veículo na cidade de São Luís do Maranhão chocou o país inteiro. Enquanto procedia com o guinchamento, o condutor infrator se afastou do local, voltando logo após com um revólver calibre 38 e, fria e covardemente, efetua um disparo fatal pelas costas, atingindo a cabeça do Agente Wiryland de Oliveira, de 40 anos de idade.
Esse fato revoltante e lamentável me remeteu novamente à genial analogia feita pelo amigo, Mestre Rômulo Tadeu, já citada em outro artigo e me fez refletir: atualmente já não me parece tão claro quem exatamente é o Carrasco na nossa sociedade...
O que nos resta, por fim, assim como dizia uma das conhecidas música daquela banda durante o show, é viver nessa esperança:
Vivemos esperando dias melhores. Dias de paz, dias a mais. Dias que não deixaremos para trás.
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