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O FIM DOS ÔNIBUS ARTICULADOS. SERÁ?

O FIM DOS ÔNIBUS ARTICULADOS. SERÁ?


Durante 4 anos, trabalhei como cobrador de ônibus em uma empresa pública de transporte aqui de Porto Alegre. Profissão que está aos poucos sendo extinta, em função da tecnologia da bilhetagem eletrônica, dentre outras coisas. Boa parte desses anos, atuei em linhas nas quais eram utilizados ônibus articulados.


Esses gigantes do asfalto sempre chamaram atenção — tanto pelo tamanho, por vezes passando dos 20 metros de comprimento, quanto pela função que desempenham: transportar mais de 160 passageiros em um único veículo, aliviando o fluxo nos horários de pico e viabilizando sistemas de transporte como o BRT (Bus Rapid Transit) em cidades onde o metrô sempre foi um sonho distante. De fato, comparados a um sistema metroviário, os articulados exigem investimentos muito menores, são mais rápidos de implantar e podem operar com certa flexibilidade de rotas.


Mas nem tudo são vantagens. O motor potente, necessário para empurrar essa “baleia urbana”, consome mais combustível e emite mais poluentes. E quando esses veículos circulam quase vazios fora do horário de pico, a ineficiência salta aos olhos — tanto do ponto de vista ambiental quanto econômico. Manter um articulado em operação com baixa ocupação é como manter um teatro aberto para uma plateia de cinco pessoas.

Diante disso, uma nova proposta começa a ganhar força: a tecnologia de acoplamento virtual, que pode tornar obsoleta a atual frota de articulados. Como mostrou o Diário do Transporte (confira a matéria aqui), a ideia é revolucionar o conceito de “ônibus grande” sem precisar fabricá-lo como tal. Com o acoplamento virtual, dois ou mais ônibus podem circular de forma coordenada, como se fossem um único veículo — e com apenas um motorista dirigindo — desacoplando-se de maneira automática quando a demanda é menor. Isso permite uma adequação muito mais eficiente da oferta à demanda real.

A proposta é promissora: reduz custos, polui menos e ainda dá ao sistema uma flexibilidade inédita. Mas ela também sinaliza o fim de uma era. Se os articulados — símbolo da robustez e da força do transporte de massa — estão com os dias contados, o que dizer de quem os dirige?

A resposta talvez esteja na pergunta que deixei no ar em um outro texto: Na vida, tudo é passageiro. Até o motorista. Porque se a bilhetagem já não precisa do cobrador, e os ônibus podem agora operar em comboios coordenados digitalmente, talvez os próximos a deixarem o posto sejam os motoristas, pelo menos os da categoria.

E aí, será que estamos prontos para viajar sem eles?



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