VOCÊ JÁ PAROU PARA OUVIR SEU CARRO
- Rodrigo Vargas

- 26 de ago.
- 2 min de leitura

Ainda que não seja um músico profissional, ter aprendido noções básicas de música me deu algo valioso: uma audição mais atenta. E, curiosamente, essa habilidade não se limita apenas ao campo musical. Dia desses, dirigindo, percebi algo curioso: meu carro, já com seus respeitáveis 17 anos, vez ou outra denuncia a idade por meio de um ruído aqui, um rangido ali.
Com o pouco conhecimento de mecânica que tenho — adquirido muito mais pelos perrengues enfrentados com carros velhos do que por interesse genuíno no assunto — notei um som que me chamou atenção: um barulho de relé batendo, que faz parecer que há um ninho de pica-paus escondido dentro do painel. O mais engraçado é que ele se repete insistentemente, sobretudo quando passo por algum desnível ou rua esburacada. No fundo, tenho a nítida impressão de que meu carro está “reclamando” do caminho que escolhi.
Brincadeiras à parte, gosto de pensar que um bom condutor, para além de respeitar as normas de trânsito, dirigir de maneira defensiva e manter em dia a manutenção do veículo, deve ser também um bom ouvinte. Sim, um bom ouvinte. É só assim que se percebe aquele rolamento já cansado, a válvula desregulada ou a ventoinha que perdeu parte da eficiência. Afinal, todo carro fala — basta ter o ouvido treinado para entender o que ele está tentando dizer.
Ainda que eu nem sempre o atenda prontamente — a bucha da bandeja e os bicos ejetores que o digam — procuro estar atento aos sinais que ele me dá. Talvez seja uma habilidade que o curso de Psicologia tenha reforçado. Ou talvez eu tenha escolhido a Psicologia justamente por já ter essa facilidade. Na verdade, pouco importa. O que importa, no fim das contas, é que, mesmo muitas vezes parecendo inaudíveis, você deve sempre estar atento para ouvir seu carro e os sinais emitidos não somente por ele, mas pela sua vida. Do contrário, não é somente seu carro que vai reclamar dos caminhos que você tomar...














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