PORTO SEGURO TERÁ "PEDÁGIO AMBIENTAL" EM 2026
- Rodrigo Vargas
- 26 de set.
- 3 min de leitura

A Prefeitura de Porto Seguro, no extremo sul da Bahia, sancionou a Lei Municipal nº 2.164/25 que cria a Taxa de Preservação Ambiental (TPA) para veículos que entrem no município e seus distritos turísticos (como Trancoso e Arraial d’Ajuda). O "pedágio ambiental" entra em vigor em 2026. Os valores diários variam de R$ 3 a R$ 90, dependendo do tipo de veículo.
Haverá isenção para veículos que ficarem até 8 horas na cidade ou distrito; se permanecerem além desse prazo, a taxa será aplicada. Moradores e trabalhadores locais com cadastro prévio também serão isentos. Prestadores de serviço de cidades vizinhas poderão se cadastrar para isenção. Veículos de cidades vizinhas terão 50% de desconto, quando não forem totalmente isentos. Turistas hospedados em Santa Cruz Cabrália não pagarão, se o veículo não ficar em Porto Seguro.
A fiscalização será feita por meio de leitura automática de placas (OCR/ANPR), sem pedágios físicos. Não pagar poderá gerar multa de 50% do valor da taxa devida. O pagamento poderá ser feito online ou em pontos credenciados. Há um teto de cobrança de até 10 dias corridos por mês, por veículo. Mesmo que o veículo circule por mais dias, não se cobrará além desse limite.
A medida tem como objetivos controlar o fluxo de veículos turísticos para diminuir congestionamentos, financiar obras de infraestrutura, mobilidade urbana e ações ambientais, além de ordenar o trânsito em épocas de alta demanda turística.
Há várias cidades no Brasil que já cobram ou estudam cobrar taxas ou tarifas semelhantes para turistas, para preservar o meio ambiente ou controlar impactos do turismo. Aqui vão alguns exemplos:
Local / Município | O que cobram / como funciona |
Ubatuba (SP) | Taxa de Preservação Ambiental (TPA) para turistas com veículos. Os valores variam conforme o tipo de veículo — motocicleta, carro pequeno, micro-ônibus etc. |
Bombinhas (SC) | Cidade litorânea que também possui taxas para veículos turísticos conforme categoria. |
Fernando de Noronha (PE) | Taxa ambiental cobrada por pessoa, levando em conta dias de permanência no arquipélago. |
Jericoacoara (CE) | Taxa de turismo sustentável, válida por um período, com diárias adicionais dependendo de extensão da estada. |
Santo Amaro (MA) | Local de acesso aos Lençóis Maranhenses — cobra uma taxa por visitante, válida por dias determinados. |
Abrolhos (BA) | Taxa para visitantes do arquipélago, variando conforme origem do visitante (estrangeiros, brasileiros etc.), com desconto para moradores locais. |
Exemplos de locais que estão propondo taxas semelhantes
São Sebastião (SP): Projeto de lei para cobrar taxa ambiental para entrada de veículos turistas, com valores altos para ônibus, caminhões, etc.
Aparecida (SP): Proposta de Taxa de Turismo Sustentável para veículos que entrarem com finalidade turística ou religiosa.
Caldas Novas (GO): Projetos para instituir taxa-visitação de veículos de turista para ajudar na preservação ambiental.
Li muitos comentários negativos a respeito da cobrança dessa taxa. É interessante, entretanto, pensar que muitas vezes há muitos serviços e experiências do dia a dia em que o pagamento de uma taxa ou entrada é visto como natural, mas quando se trata de turismo e mobilidade a reação costuma ser bem mais crítica. Exemplos comuns de cobrança “aceita socialmente”:
Cobrança de ingresso em museus, parques temáticos ou zoológicos — mesmo quando o espaço é público, muitas vezes há cobrança de entrada ou de uma taxa de manutenção.
Estacionamentos de shoppings, estádios e hospitais — o usuário paga para deixar o carro, mesmo já consumindo dentro do estabelecimento.
Cobertura artística (couvert) — bares e restaurantes cobram taxa extra por música ao vivo, independentemente de a pessoa consumir ou não gostar do artista.
Entrada em clubes e balneários — além do consumo de comida e bebida, paga-se pelo acesso ao espaço.
Ingressos para festas, shows e boates — o cliente paga apenas para entrar, antes mesmo de consumir qualquer produto.
Cadeiras de praia alugadas — em muitas cidades turísticas, paga-se pelo uso de uma cadeira ou guarda-sol, mesmo que a praia seja pública.
Taxa de embarque em aeroportos — incluída no valor da passagem, é aceita sem maiores questionamentos.
Estadias em hotéis com “taxa de resort” ou taxa de turismo municipal — adicionadas ao valor da diária, muitas vezes sem destaque claro.
A diferença está muito mais na percepção de legitimidade do que na cobrança em si. Enquanto a taxa do turismo ambiental é vista como “um custo extra para algo que antes era gratuito”, outras taxas já estão naturalizadas no imaginário coletivo. No fundo, não é a taxa em si que incomoda, mas o sentido que atribuímos a ela. Quando sentimos que o pagamento “nos dá algo em troca” — como uma entrada em show ou o direito de usar uma estrutura — aceitamos. Mas quando o benefício é difuso e coletivo, a cobrança vira alvo de resistência.
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