O MENINO QUE SONHAVA DIRIGIR UM ÔNIBUS
- Rodrigo Vargas
- 14 de mai.
- 2 min de leitura

Quem nunca teve um sonho de infância? Quando eu era criança, por muitos anos, sonhei em ser motorista de ônibus. Não era um desejo passageiro. Era sonho mesmo — com direito a volantes imaginários feitos com os cabides de roupa ou com as bacias da minha mãe; sons dos diferentes motores imitados com a boca, por vezes mais barulhentos quando o motor era dianteiro, por vezes mais silenciosos quando o motor era traseiro; e olhos atentos aos espelhos que só eu via.
Tinha um vizinho que era motorista de uma empresa de transportes. Nos finais de semana, ele estacionava o ônibus da empresa na frente de casa e, generosamente, me deixava brincar dentro do veículo. Aquilo era um parque de diversões particular. Eu me sentava no banco do motorista, girava botões, simulava paradas. Sentia, ali, um tipo de poder manso: o de conduzir, o de levar os outros com segurança ao destino. Era como se aquele ônibus me ensinasse, sem palavras, que ser adulto era isso — guiar com responsabilidade.
Hoje entendo melhor. O ônibus era mais que um brinquedo gigante: era metáfora do que eu buscava. Desde pequeno, queria ser adulto logo. Ter autonomia, poder escolher meu caminho, assumir responsabilidades. O ônibus representava isso. E também rotina, previsibilidade, horário certo, itinerário claro. Características que sempre valorizei e que, até hoje, guiam meus passos.
Nunca realizei esse sonho de verdade — ao menos, não no sentido literal. Mas cheguei perto. Fui cobrador de ônibus por um tempo. Vi o trânsito de dentro, escutei as histórias que sobem e descem com as pessoas, entendi o vaivém da cidade com outro olhar. E o fascínio pelo trânsito ficou. Cresceu comigo.
Hoje, não dirijo ônibus. Mas sigo envolvido com trajetos. Dedico meu trabalho a entender por que as pessoas se deslocam, como se deslocam e por que, às vezes, até se perdem, por que certos destinos se tornam armadilhas. Troquei o volante pela escuta, a catraca pela palavra. Mas continuo, de certo modo, ajudando a conduzir.
O menino que sonhava dirigir um ônibus não realizou exatamente o que queria. Mas talvez tenha conseguido algo ainda mais bonito: transformar o sonho de conduzir pessoas em propósito de vida.
Realize o seu sonho! Torne-se motorista de Transporte Coletivo!
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