Ainda que Porto Alegre não tenha em proporção uma das maiores frotas de motocicletas do país (torno de 12% do total de veículos), essas estão envolvidas em praticamente metade dos sinistros fatais do município. Em função disso, há alguns dias compartilhei nas minhas redes sociais a notícia de uma ação educativa realizada em um cruzamento de grande circulação da cidade que visava conscientizar sobre o uso correto dos bolsões para motos.
Trata-se de uma área delimitada com sinalização viária específica para que as motos se posicionem próximo aos semáforos para dar mais agilidade ao trânsito. O objetivo é qualificar o deslocamento com agilidade e segurança dos motociclistas, trabalhando a questão do respeito e empatia mútua entre os usuários.
Assim que eu compartilhei a notícia no meu LinkedIn, o professor do curso de Arquitetura da UFRGS, Júlio Celso Borello Vargas, fez o seguinte comentário:
É mesmo dessa "educação" que precisamos?
Tão instigante quanto o seu comentário (com o qual concordo completamente, diga-se de passagem) foi a imagem anexa ao mesmo (a mesma do banner do artigo). Achei o registro fotográfico de tamanha genialidade que não poderia deixar de homenageá-lo com algumas reflexões. A imagem esclarece de maneira tão sutil e, ao mesmo tempo, tão estrondosa uma triste realidade e seus reflexos na sociedade, que só quem conhece o local sabe do que se trata.
Àqueles que não conhecem, segue um breve resumo: A avenida em questão é a Osvaldo Aranha, importante via que liga a zona leste à região central da capital. Ao fundo, é possível visualizar o prédio do Instituto de Educação General Flores da Cunha, que é apenas o mais antigo estabelecimento de ensino secundário e de formação de professores do estado. Fundado em 1869 e desde 1937 em sua atual sede, desempenhou um papel central na educação no Rio Grande do Sul.
Ocorre que o prédio, que é tombado pela Prefeitura e pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado do Rio Grande do Sul, foi negligenciado durante anos, e desde 2016 está fechado para reformas, que foram paralisadas várias vezes. O governo apresentou em 2022 um novo projeto para seu funcionamento e pretende transformar o prédio histórico em um centro cultural, em parte gerenciado pela iniciativa privada, despertando o protesto dos professores, alunos, comunidade e uma série de organizações civis.
Se a educação para o trânsito pode ser considerada a ARTE DE ENXUGAR GELO, então o motociclista da imagem, atravessando o corredor exclusivo para ônibus através de uma ciclovia, é, infelizmente, apenas a ponta do iceberg. Um enorme e centenário iceberg, tombado pelo Patrimônio Histórico e que está, inclusive, em vias de se tornar um belo Museu para celebrarmos a memória de uma educação que já foi referência para todo o país. E ainda há quem jure que o aquecimento global não existe...
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