ESTRELAS QUE (NÃO) SALVAM VIDAS
- Rodrigo Vargas

- 16 de mai.
- 2 min de leitura

Recentemente, estreou mais uma temporada da série Black Mirror, da Netflix — e, como de costume, os episódios não decepcionam quem busca uma boa dose de ficção científica temperada com crítica social. Um dos capítulos que mais me marcou, ainda de temporadas anteriores, é Nosedive (ou Queda Livre), em que todos os aspectos da vida de uma pessoa são avaliados por um sistema de pontuação por estrelas. Uma interação no elevador, um sorriso no café, um elogio — tudo conta para seu score social. E, claro, esse número determina sua posição na sociedade.
Se parece exagerado, basta olhar ao redor. Nos tornamos dependentes de avaliações em praticamente todas as esferas da vida. Pedimos comida baseada nas estrelas do restaurante, escolhemos filmes por suas notas em plataformas de streaming, decidimos por um médico ou dentista pelo número de estrelinhas no Google, e seguimos essa lógica inclusive para selecionar motoristas em aplicativos de mobilidade como Uber e 99.
E foi justamente em um grupo de WhatsApp sobre segurança viária que me deparei com uma avaliação que me causou certo espanto. Um amigo compartilhou o resultado do último crash test feito pelo Latin NCAP com o Jeep Renegade, um carro de uma marca que sempre associei à robustez e força. A surpresa? Apenas uma estrela na avaliação geral de segurança (confira aqui).
A incoerência salta aos olhos: vivemos obcecados por estrelinhas em tudo, menos onde elas realmente deveriam importar — como na segurança dos veículos que dirigimos e em que transportamos nossas famílias.
Curiosamente, poucos usuários de aplicativos de transporte preocupam-se com o nível de segurança do carro em que estão entrando. E mesmo na hora de comprar um veículo, a estética, o status e os recursos tecnológicos costumam pesar mais que a estrutura de proteção ou o número de airbags. São poucos os que consultam testes de colisão antes de fechar negócio. Enquanto isso, seguimos empolgados com itens como central multimídia, teto solar ou conectividade com smartphones.
Em Nosedive, o personagem principal mergulha em uma espiral de perda de reputação até ser praticamente excluído da sociedade. Na vida real, ignorar avaliações de segurança pode nos levar a outro tipo de queda — literal e fatal.
A pergunta que fica é: por que atribuímos tanta importância a avaliações superficiais, mas negligenciamos aquelas que podem, de fato, salvar vidas? Talvez esteja na hora de olhar para as estrelas certas — e cobrar da indústria automotiva, do governo e, sobretudo, de nós mesmos, mais responsabilidade nas escolhas que fazemos sobre mobilidade.
















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