ADEUS COM GPS: A DESPEDIDA QUE LEVOU UM TWINGO AOS ANDES
- Rodrigo Vargas

- 7 de ago.
- 2 min de leitura

Quem disse que carro velho se despede com anúncio no OLX e chave jogada na gaveta? Uma família gaúcha resolveu dar um fim digno ao seu Twingo 1994, aquele simpático carrinho de duas portas que, vamos admitir, parece mais um mascote de quatro rodas do que um veículo propriamente dito.
Mas não foi qualquer adeus. Nada de guincho, ferro-velho ou aquela lágrima contida na hora de trocar o documento no Detran. O destino escolhido foi digno de roteiro de cinema: cruzar a Cordilheira dos Andes. Sim, isso mesmo. Um carro que já estava na fase da aposentadoria rodou mais de 6.500 km numa aventura que misturou emoção, altitude e, possivelmente, um frasco de óleo reserva no porta-luvas.
Sérgio, o patriarca e idealizador da jornada de despedida, não quis apenas "se desfazer" do carro. Quis honrá-lo. Afinal, o Twingo fazia parte da família há gerações, servindo de cenário para discussões sobre boletos, trilha sonora de brigas com GPS e companheiro silencioso de cochilos infantis no banco de trás. Com ele embarcaram a esposa, Cindy, e o filho, Hugo — que provavelmente só aceitaram a empreitada depois de garantir que haveria Wi-Fi em Mendoza.
Foram R$ 7.500 investidos, o que, convenhamos, é mais barato do que muitos casamentos — e, neste caso, com certeza mais divertido. A chegada à capital gaúcha aconteceu no dia 12 de junho. Coincidência ou não, Dia dos Namorados. Talvez a data mais simbólica possível para um retorno tão afetivo. Afinal, tem coisa mais romântica do que sobreviver juntos a uma travessia de 6.000 km com o ar-condicionado funcionando só na descida?
Agora, o Twingo descansa. Mas a história continua.
E você? Vai se despediria do seu carro como? Aqui vão algumas ideias nada convencionais:
Festa de aniversário do carro: com direito a bolo no formato do modelo, velas no escapamento e “Parabéns pra você” cantado em bossa nova no rádio AM.
Enterro simbólico: uma cerimônia no quintal ou garagem, com discursos emocionados, depoimentos sobre “a vez que ele não pegou na chuva” e coroas de flores feitas com aromatizantes de retrovisor.
Carro-tour da saudade: um último passeio por todos os lugares marcantes — da autoescola onde você o arranhou pela primeira vez até o drive-thru onde ele ficou entalado na lombada.
Ritual de passagem: entregue o carro a um novo dono com direito a rito cerimonial, transmissão simbólica do manual do proprietário e um CD do Skank de brinde.
Mostra "Retratos de um Motorista": transforme as fotos de viagens, multas e estacionamentos desastrosos em uma exposição artística — com curadoria sua e legenda irônica garantida.
Porque, no fim das contas, todo carro é um pouco mais do que apenas um carro. É memória sobre quatro rodas. E algumas memórias merecem o tanque cheio, os vidros abertos e um adeus com gosto de estrada.














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