A ESTÉTICA SALTOU AOS OLHOS… E ATROPELOU A SEGURANÇA
- Rodrigo Vargas
- há 12 minutos
- 2 min de leitura

É interessante pensar em como a natureza, na sua imensa sabedoria, foi capaz de adaptar, ao longo de milhares e milhares de anos, até mesmo detalhes tão pequenos como a cor dos olhos. Uma dança silenciosa entre genética, ambiente e necessidade. Tudo milimetricamente moldado para garantir nossa sobrevivência. Aí, hoje, alguém olha no espelho e pensa: “acho que ficaria melhor com olhos violeta”. E pronto: um par de lentes coloridas resolve.
Nada contra a vaidade — pelo contrário, ela movimenta indústrias inteiras. Mas é curioso como alteramos, com enorme facilidade, o que levou milênios para ser aperfeiçoado. A coloração dos olhos é resultado de adaptação ambiental (principalmente à luz solar), mutações genéticas e dinâmicas sociais e sexuais ao longo da história evolutiva humana. Essa variação tem uma forte base geoevolutiva, ou seja, está ligada à adaptação humana ao ambiente ao longo do tempo e à migração das populações. Ela conta uma parte fascinante da jornada da humanidade pelo planeta.
Os primeiros humanos surgiram na África, sob intensa radiação solar. Alta concentração de melanina nos olhos (castanhos escuros) ajudava a proteger contra os raios UV, funcionando como um “filtro natural”. Por isso, olhos escuros são predominantes em regiões equatoriais e tropicais. À medida que os humanos migraram para regiões mais ao norte da Europa e Ásia, onde a luz solar é menos intensa, a seleção natural favoreceu menos melanina. Olhos claros (azuis, verdes, cinzentos) surgiram por mutações genéticas e foram mantidos por pressões ambientais reduzidas e até por seleção sexual.
E, como costumo fazer com quase todos os assuntos, isso me remete ao mundo dos carros. Sim, porque no universo automotivo também existe esse fenômeno de melhorar o que já foi melhorado. Engenheiros mecânicos estudam por anos, realizam incontáveis testes em túneis de vento, simuladores, pistas reais. Avaliam cada curva do chassi, cada centímetro de suspensão, cada ponto de distribuição de luz dos faróis. Tudo para garantir segurança, estabilidade, desempenho e conforto.
E aí… entra em cena o espírito do "customizador incompreendido".
Com ares de genialidade, ele decide que o aro 15 não é digno de sua montaria e instala um aro 22 cromado, que mais parece um moedor de milho em movimento. A suspensão? Ah, muito alta. Melhor rebaixar até o assoalho começar a lamber o asfalto. Pneus largos, escapamento cortado, faróis azuis que cegam até coruja, e pronto: temos um carro que pode não fazer curva, nem parar direito, mas pelo menos chama atenção na sinaleira.
O problema é quando a estética atropela a segurança — literalmente.
Estamos tão obcecados por personalizar tudo, do olho ao automóvel, que esquecemos de perguntar: será que essas alterações, além de agradarem o espelho ou o ego, também protegem a vida? Obviamente que uma inofensiva lente de contato não representa risco algum. Mas pense bem: quantas notícias você já recebeu nos últimos anos sobre pessoas que vieram à óbito na mesa de cirurgia para algum procedimento estético? Fica o convite à reflexão. Talvez esteja na hora de deixarmos um pouco de lado o que é só bonito... e começarmos a dar mais atenção ao que, de fato, nos mantém vivos.
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