Recentemente compartilhei um artigo que, embora tenha sido escrito há alguns anos, causou certa polêmica, sobretudo entre instrutores de trânsito. Nele, discorro sobre a possibilidade da chegada dos carros autônomos extinguir os atuais Centros de Formação de Condutores (CFCs).
No ano de 2005 passei no meu primeiro concurso público: cobrador de ônibus em uma empresa de transporte público de Porto Alegre. Poucos anos depois, um grande investimento foi feito por parte da prefeitura para a implantação da bilhetagem eletrônica na cidade, com o objetivo de diminuir a circulação de papel moeda e, dessa forma, trazer mais segurança à tripulação e uma maior agilidade à operação. Poucos imaginariam, no entanto, que em pouco mais de uma década essa profissão seria extinta como vem sendo feito gradualmente pela prefeitura.
Atualmente, enquanto Agente de Trânsito, essa é uma perspectiva que volta a me preocupar. Com uma possível automação dos veículos a necessidade de fiscalização de trânsito será posta em cheque. Obviamente que, assim como muitos se manifestaram, essa é uma tecnologia que levará algum tempo para chegar ao país. Mas certamente em algum momento chegará. Seria ingenuidade pensar que todos os investimentos feitos pela prefeitura na bilhetagem eletrônica seria apenas para tornar a vida dos cobradores de ônibus mais cômoda e segura. Assim como é ingenuidade pensar que gigantes como Tesla, Google e Uber investem rios de dinheiro em automação veicular visando apenas os mercados Europeu e Norte-americano e não vão querer abocanhar os países em desenvolvimento também…
Porém, além da aparente distância de tais tecnologia da realidade do nosso trânsito, o que parece ter criado polêmica maior foi o fato de ter contestado a efetividade no processo de aprendizagem dos alunos que advém dos CFCs. Um dos principais objetivos do meu trabalho é tecer críticas às atuais contribuições (ou falta delas) da Psicologia para com a área do trânsito. Isso, em momento algum, significa desacreditar ou descredibilizar o trabalho realizado por esses profissionais. Muito pelo contrário. Minha intenção é refletir sobre formas de contribuição mais efetivas.
A mesma lógica se aplica aos CFCs. Em diversos momentos no artigo em questão expressei a importância que vejo dessas instituições para o trânsito. No entanto, isso não quer dizer que elas não possam melhorar. E se há pontos a serem melhorados, esses não são apenas no que diz respeito à atuação dos instrutores, mas também dos psicólogos, médicos, diretores de ensino… enfim, minha crítica é direcionada ao processo de formação como um todo, não apenas a um ou outro profissional.
Pois, sejamos razoáveis. Colocar apenas nas costas dos instrutores o pesado fardo de formar condutores exemplares num país onde, tendo nosso atual código de trânsito já mais de 20 anos e, até então, a educação segue sendo delegada às 45 horas/aulas do CFC, seria tão lógico como ensinar medicina a um universitário que chegou na faculdade sem sequer saber ler!
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