Resultados da busca
274 resultados encontrados com uma busca vazia
- QUER CONHECER UM CONDUTOR? DÊ A ELE UMA ESCOVA DE DENTES!
Calma! Antes que você se coloque em risco tentando provar sua habilidade na direção, eu advirto: Não tente fazer isso em casa! Isso não é nenhuma espécie de teste ou desafio. Não se trata de ter ou não habilidade para conduzir um veículo. A questão aqui é bem mais complexa e diz respeito a um assunto que trago constantemente nos meus textos: solidariedade. Sim, eu explico… Receba novas postagens direto no seu WhatsApp. Mas, primeiramente, algumas definições se fazem necessárias. O conceito tradicional de família refere-se ao conjunto de pessoas que possuem grau de parentesco entre si (ou não) e vivem na mesma casa formando um lar. A família é considerada uma instituição responsável por promover a educação dos filhos e influenciar o comportamento dos mesmos na sociedade. Já o de Sociedade, a um conjunto de seres que convivem de forma organizada. A palavra vem do Latim societas , que significa “associação amistosa com outros”. Uma sociedade humana é um coletivo de cidadãos de um país, sujeitos à mesma autoridade política, às mesmas leis e normas de conduta, organizados socialmente e governados por entidades que zelam pelo bem-estar desse grupo. Feitas tal considerações, vamos aos fatos. Aqui em casa eu sou o “chato” da família quando o assunto é organização. Sempre gostei das coisas organizadas, mas não chego a ser neurótico e nem tenho nenhum TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) por limpeza. Apenas por pura praticidade. E, a menos que você more sozinho, já deve ter passado por isso. Por que deixar diversos copos espalhados pela casa, por exemplo, para juntá-los todos no final de semana se eu posso usá-lo e já largar na pia? Assim final de semana eu tenho uma coisa a menos para me preocupar. A bagunça em si nem é o que mais me incomoda. O que me tira realmente a paciência é a falta de solidariedade. Usando o exemplo dos copos, é não pensar que alguém pode vir a precisar de um copo e não encontrá-los no lugar, porque estão todos espalhados pela casa. E exemplos como esse eu poderia citar indefinidamente… como a migalha de sabonete que se usa e não se repõe, o papel higiênico que termina e nem o rolinho vazio são capazes de tirar ou, finalmente, a pasta de dentes. Essa, por se tratar de um produto que dura um pouco mais, aproximadamente uns 10 dias aqui em casa, não me incomoda tanto a falta de reposição. No entanto, nesse caso a perturbação é diária, frequentemente mais de uma vez ao dia. Pode parecer algo banal, trivial, até meio bobo, mas eu não entendo como alguém pode ser tão egoísta a ponto de apertar a pasta de dentes na parte de cima, logo na saída do tubo! Esse pra mim é o maior teste de solidariedade… pessoas que fazem isso, na minha opinião, transmitem uma mensagem do tipo “ Haha! Aqui está meu creme dental… quase sem nenhum esforço. O próximo? O próximo que se exploda! ” Aí vem o Rodrigo escovar os dentes e tem que apertar a pasta de dentes desde lá de baixo pra cobrir o espaço que o outro deixou entre a pasta e a saída do tubo… “Mas como esse comportamento se reflete no trânsito?” você pode estar se perguntando… Para mim é muito claro: quando o sujeito estaciona na vaga de deficiente, idoso ou gestante sem estar em nenhum desses estados; quando ele passa o cruzamento no amarelo, mesmo vendo que não conseguirá completar a travessia, trancando todos na outra via; ou quando estaciona em rebaixo de entrada e saída de garagem, tirando dos moradores o direito de acessarem suas próprias casas. Esses, pra mim, são apenas alguns exemplos de como, também no trânsito, as pessoas apertam o creme dental na parte de cima. Na nossa sociedade, o carro ainda carrega consigo uma grande representação de poder, o que me faz lembrar da celebre frase do ex-presidente norte-americano Abraham Lincoln, que diz “ Se quiser pôr à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder. ” Em relação ao trânsito, me atrevo parafraseá-lo dizendo “ Se quiser pôr à prova o caráter de um condutor, dê-lhe uma escova de dentes “.
- DEBATES ÉTICOS SOBRE O (TELE)TRANSPORTE HUMANO
Recentemente, lia uma indicação do grande amigo Professor Carlão, o Livro Apocalipse Motorizado . A partir de uma história contada no capítulo MORTOS E FERIDOS: UM ACIDENTE?, pensei numa analogia que, à primeira vista pode parecer descabida, mas pode gerar alguma reflexão a respeito da quantidade de mortes que toleramos para manter um sistema tecnológico, no qual todos nós nascemos e não temos escolha além de tentar nos adaptar a ele. Receba novas postagens direto no seu WhatsApp. Imagine que um grupo de cientistas pede um encontro com as lideranças políticas mundiais para discutir a introdução de uma nova invenção: o TELETRANSPORTE DE PESSOAS. Os cientistas explicam que os benefícios da tecnologia são incontestáveis, e que a invenção aumentará a eficiência e tornará a vida de todos mais fácil. O único lado negativo, eles alertam, é que para ela funcionar, uma pequena fração da população, aproximadamente 1,5 milhão de pessoas inocentes terão que morrer a cada ano devido à margem de erro no processo que ainda não é totalmente seguro. Se você estivesse entre essas lideranças políticas, concordaria em adotar ou não a nova invenção? Ainda que essa seja uma tecnologia inviável fisicamente a não ser na ficção científica, seria algo que, sem sombra de dúvidas, revolucionaria e ressignificaria por completo a existência humana. Assim como o automóvel um dia já o fez. No entanto, é ético pôr à prova aproximadamente 1,5 milhão de vidas como temos feito anualmente para perpetuar uma tecnologia que, nem de longe, se mostrou a mais eficiente, sustentável e, principalmente, segura? É interessante pensar que o primeiro automóvel do mundo, o Benz Patent-Motorwagen , inventado pelo alemão Karl Benz e patenteado em 1886, foi criado criado a partir de uma busca incansável do homem por liberdade. E apenas dois anos depois, era assinada a abolição da escravidão no Brasil, que ocorreu em 13 de maio de 1888, com a promulgação da Lei Áurea. Ainda hoje, entretanto, o homem cria coisas para servi-lo, mas se torna escravo de suas próprias criações.
- ENQUANTO AS MÁQUINAS NÃO CHEGAM...
Entenda os riscos da distração no trânsito enquanto as máquinas não chegam e descubra cursos de trânsito para aprimorar sua direção. Contas atrasadas, problemas de relacionamento, a saúde de um familiar ou mesmo um outdoor com uma promoção do seu restaurante favorito. Não importa qual a razão, seres humanos são suscetíveis a incontáveis fontes de distração enquanto dirigem. Foi o que pensei quando meu gerente chegou no setor há alguns dias contando ter cruzado um sinal vermelho, achando que o mesmo havia aberto. Ele só se deu conta da infração quando, ao olhar pelo retrovisor, notou que nenhum outro veículo tinha arrancado. Felizmente, àquela hora o fluxo da via transversal estava tranquilo e não havia nenhum outro veículo cruzando seu caminho. Essa história me fez lembrar da declaração do CEO da Uber, Dara Khosrowshahi, quando afirmou que dentro de uma década não haverá mais motoristas na empresa. Segundo ele, “ Daqui a 15 ou 20 anos, o veículo autônomo vai dirigir melhor do que qualquer motorista humano ”, previu o executivo, em entrevista ao Wall Street Journal . “ As máquinas serão treinadas em dados equivalentes a uma vida de milhões de pessoas; ninguém consegue ser tão bom assim. Robôs não se distraem ”. Mas nós, humanos, nos distraímos (e como!). E enquanto a tecnologia avança, prometendo um futuro onde os erros humanos seriam substituídos pela precisão algorítmica, seguimos convivendo diariamente com a fragilidade da atenção humana. A verdade é que, até que esse futuro totalmente automatizado chegue (e, sinceramente, ninguém sabe ao certo quando chegará), ainda dependemos uns dos outros. Dependemos da responsabilidade individual de cada motorista ao entrar em seu carro. Dependemos da capacidade de reconhecer que o trânsito não é feito apenas de máquinas e movimentos, mas de vidas, expectativas, medos, pressas e limitações. O que aconteceu com o meu gerente poderia ter terminado de outra forma. Poderia ter se transformado em um acidente, uma lesão, uma perda. Tudo por alguns segundos de desconexão entre o que a mente captava e o que a realidade exigia. Por isso, mais do que nunca, precisamos reforçar aquilo que só a educação e o preparo oferecem: consciência, técnica, prevenção e tomada de decisão. Os robôs não se distraem, mas enquanto eles ainda não tomam conta das ruas, nós precisamos aprender a dirigir com a máxima atenção possível. Fica aqui o meu convite: cuide de você, das pessoas à sua volta e da segurança de todos. Evite distrações ao volante e continue se aperfeiçoando como condutor. Em meu site, você encontra cursos especializados de trânsito e transporte que podem fazer toda a diferença na sua experiência e na sua responsabilidade no trânsito. Enquanto as máquinas não chegam, façamos a nossa parte.
- RELAÇÕES DE SIMBIOSE NO TRÂNSITO
Recentemente, as lembranças do Facebook me alertaram sobre uma frase do meu primeiro livro que havia compartilhado há alguns anos: O carro só pode ser bem compreendido à luz de uma razão simbólica, porque é investido dos valores da civilização dos “homens de quatro rodas” Receba novas postagens direto no seu WhatsApp. Quase que imediatamente a imagem de um ser hibridizado com rodas no lugar dos pés me invadiu a mente. Recorri ao Google na esperança de encontrar alguma imagem que se assemelhasse com aquilo. Após uma breve busca sem sucesso, percebi que aquela seria uma missão quase impossível. Quando me contentei com imagens próximas, encontrei algumas opções de pessoas com meio corpo para fora de tetos solares, como que Centauros com metade do corpo humano e a outra não apenas um, mas centenas de cavalos (de HP). Minha ideia inicial era utilizar a imagem para produzir um Card de divulgação do livro. Durante a confecção, no entanto, enquanto pensava em um texto adequado ao trecho citado, minha mente foi invadida pela expressão SIMBIOSE . Logo, pensei: por que não escrever a respeito disso? Para quem, assim como eu, já está há alguns anos longe da sala de aula (pelo menos na condição de aluno) e, por isso, já não restaram muitas memórias das aulas de Biologia, vão aí algumas dicas: Simbiose é uma relação de longo prazo entre duas espécies em que uma ou ambas se beneficiam de alguma forma. Nessa troca, um dos seres pode ser prejudicado ou não. Antes de me ater aos seus diferentes tipos, é importante saber que a simbiose pode ser obrigatória ou facultativa. Quando um ou ambos os seres dependem totalmente do outro para a sobrevivência, seja para buscar pão na padaria da esquina, seja para se deslocar até o trabalho (porque as linhas de ônibus existentes não passam nem perto da sua casa) é obrigatória; já quando eles conseguem viver de maneira independente, ou seja têm a possibilidade de utilizarem outras alternativas como carona, bicicleta ou até mesmo caminhar, é facultativa. As interações simbióticas entre os seres podem ser classificadas em três tipos: Mutualismo: Esse tipo de relação se caracteriza pela interação de seres de diferentes espécies, na qual todos se beneficiam da ligação, que pode ser quando o simbionte abastece o hospedeiro e esse, por sua vez, fornece transporte até o próximo posto de combustível, por exemplo. Comensalismo: Nesse tipo de relação simbiótica, seres de espécies diferentes se relacionam por um longo prazo. A interação acontece normalmente entre um hospedeiro maior, também chamado de anfitrião, e um comensal menor, em que o primeiro não sofre alterações, enquanto o segundo pode passar por uma grande adaptação morfológica, beneficiando-se da associação pela obtenção de nutrientes ou locomoção. É importante entender que o hospedeiro não se beneficia da associação, mas também não é prejudicado por ela. Um ótimo exemplo de comensalismo é quando o simbionte é "transportado" de 8 à 14 horas por dia e se alimenta dos restos que sobram após o abastecimento de seu hospedeiro. Parasitismo: O parasitismo se caracteriza por uma interação entre dois seres vivos em que um se beneficia (parasita) e o outro (o hospedeiro) é prejudicado. Muito comum quando alguns tipos de parasitas se instalam no interior das paredes de cavidades chamadas de garagens, e ficam algumas semanas (podendo em alguns casos chegar a meses) pela espera de peças ou alguma manutenção que, geralmente, seu hospedeiro não tem condições de pagar.
- VOCÊ JÁ TEM (OU VAI TER) UM CARRO CHINÊS E NEM SABIA
Recentemente, conversava com um amigo que há alguns anos trabalha como motorista de aplicativo, dirigindo um Ônix. Falávamos dos custos envolvidos em manter um carro, na possibilidade de ele trocar de carro em breve e acabamos entrando no assunto das novas marcas que estão chegando ao mercado. Não há como entrar nesse assunto sem que se mencione a enxurrada de marcas chinesas que invadiram as ruas. Ao que meu amigo fez questão de frisar como quem defende a própria honra: " Eu jamais teria um carro chinês! ". Ainda é bem comum gente que torce o nariz para “carro chinês”, mas não percebe que o próprio Onix, produzido no Brasil pela GM, por exemplo, é, na essência, um projeto chinês. Ou que o elétrico Spark vem pronto da China. Isso sem contar outros casos mais explícitos: o SUV Territory , da Ford, é importado da China. Não dá para escapar: os chineses já estão no seu carro, mesmo que você pense que não. Isso porque muitos modelos vendidos no Brasil, até por marcas “clássicas”, dependem fortemente de plataformas, tecnologia ou peças vindas lá da Ásia. A verdade é que as parcerias entre montadoras ocidentais e chinesas estão crescendo rapidamente. A Geely , por exemplo, já comanda a Volvo, e as duas marcas compartilham plataformas, projetos e componentes. Tem também a Renault, que já está junto com a Geely; a Stellantis, que se alia à Leap Motor; a Volkswagen com a Xpeng; e a Caoa com a Chery; além da Changan, mostrando que essas conexões não são pontuais, são estratégicas. Ou seja: não é mais só uma questão de marcas chinesas “invadindo” o Brasil, mas de uma integração global onde o “ made in China ” já está presente em muitos carros, direta ou indiretamente. Se você acha que nunca andou em um carro chinês, vale dar uma olhada com mais atenção — porque ele pode estar mais próximo do que você imagina.
- O BODE NA SALA DA FAMÍLIA MERCOSUL
Existe uma antiga fábula de origem desconhecida que conta a história de homem que, insatisfeito com a família, fora queixar-se ao padre. Lá chegando, começou a listar os seus problemas. Dentre eles, a desobediência e a bagunça dos filhos pela casa, que viviam a brigar, a gritar e a correr de um lado a outro, frequentemente quebrando algum adorno da casa; a esposa que não parava de esbanjar o pouco dinheiro que conseguiam economizar comprando sempre coisas desnecessárias, mas quanto mais ele trabalhava para pagar as contas mais ela reclamava da sua ausência e, para compensar, ia novamente às compras; sua sogra, que há poucos meses passou a viver com eles por questões de saúde, não parava de criticá-lo e questionar a filha por que motivo havia casado-se com “aquele traste” e, se tudo isso não fosse o suficiente, junto com a sogra havia vindo um cunhado pra lá de folgado que, por estar desempregado (“coitadinho”… diziam elas), acabou contraindo uma depressão (bastante conveniente), que o fazia passar o dia deitado no seu sofá bebendo toda a sua cerveja. Eis que, para resolução de toda aquela problemática, o sábio padre sugeriu que ele conseguisse um bode e amarrasse-o bem no meio da sala. Contrariado, o homem saiu da igreja obstinado a conseguir o animal, não sem antes fazer com que o padre garantisse que isso melhoraria a situação da família. Marcaram de se encontrar após uma semana para discutir o resultado. Passado o período, no horário marcado, os dois se encontraram. Ao questionamento do padre se a situação da família havia melhorado o homem respondeu que não só não tinha melhorado como estava ainda pior! Além de todos os problemas já relatados, agora todos na casa o chamavam de louco por ter trazido aquele animal para dentro de casa. O bode, além de estar destruindo os móveis da sala, ameaçava chifrar cada um que se aproximasse. Sem falar no fedor medonho que se instalara na casa… O padre então, com toda tranquilidade do mundo, sugeriu que retirasse o bode da sua sala e que voltasse em alguns dias. Passados alguns dias, o homem apareceu com um sorriso enorme no rosto e imensamente agradecido ao padre. Segundo ele, sua família nunca estivera tão feliz. Sua esposa parou de fazer compras desnecessárias e voltou mais sua atenção aos cuidados da casa. Com a economia advinda disso ele conseguiu reduzir sua carga horária e ficar mais tempo com a família. Seu cunhado arrumou um serviço e está até ajudando nos gastos com a casa. Até a saúde da sogra melhorara, permitindo-a realizar atividades com os netos, que por sua vez tornaram-se mais obedientes e por vezes, até ajudam a mãe nos afazeres domésticos. Retirar o bode da sua sala foi a melhor coisa que houvera feito nos últimos anos. Há algum tempo acompanhamos uma novela sem fim em torno da implantação das placas no padrão Mercosul. É um tal de aprova, revoga, assina, cancela, marca, desmarca, remarca… Um ciclo que parece não ter fim, capaz de causar inveja a qualquer cão daqueles que gosta de correr atrás do rabo! Mas isso não nos causa mais estranheza, afinal de contas essa não é a primeira vez que assistimos novelas feito essa. Já tivemos o capítulo do kit de primeiros socorros, depois o episódio os extintor ABC, mais recentemente a polêmica em torno da normatização para a fiscalização de pedestres e ciclistas… sem mencionarmos, é claro, as mais de 700 resoluções que desnorteariam até mesmo o mitológico Minotauro e fariam o Labirinto de Creta parecer brincadeira de criança! Enquanto estamos às voltas com as (in)definições acerca da fatídica placa padrão Mercosul, a Década de Ação pela Segurança no Trânsito vai chegando ao fim. Só o que parece não ter fim são as mortes no trânsito, que, além de não estarem diminuindo na maioria das localidades, seguem aumentando. Mas, segundo afirmou o nosso excelentíssimo Ministro das Cidades, Alexandre Baldy, com a assinatura do Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito (PNATRANS) o país conseguirá reduzir nos próximos 10 anos em 50% os índices de mortalidade no trânsito. Não há nenhuma conotação política no que vou dizer aqui, mas o Brasil sempre esperando a meta chegar para dobrar a meta… Enquanto isso, esperamos que alguém surja e tire de uma vez o bode da nossa sala para que possamos, enfim, começar a nos preocupar com os problemas de verdade.
- ESTÁ PRONTO PARA DEIXAR SUA CASA NAS MÃOS DE UM ROBÔ?
Quem me conhece e/ou acompanha meu trabalho sabe que sou completamente aficionado por tecnologia. No entanto, quando minha esposa apareceu com essa ideia achei um certo exagero. Não tanto pela possibilidade. Muito mais pela efetividade e, principalmente, o custo benefício. Mas acalme-se! Não me refiro aqui a um robô de verdade, como aquele dos Jetsons ou de O homem bicentenário , já citados em SEU CARRO JÁ RECEBE SUAS ENCOMENDAS? . Refiro-me a uma tecnologia há pouco trazida ao mercado brasileiro: o robô aspirador. Receba novas postagens direto no seu WhatsApp. As primeiras pesquisas, confesso, me deixaram um tanto quanto desanimado, sobretudo pelos valores dos aparelhos encontrados. Muitos passavam da casa dos quatro dígitos… Entretanto, com mais algumas pesquisas, encontramos outros modelos com valores bem mais atrativos, entre 400 e 500 reais. Embora não fosse um valor exorbitante, seguia cético: “será que esse ‘troço’ limpa de verdade?”. Ao que dependesse do meu voto, a compra seria cancelada. Mas fui voto vencido… E, como se fosse obra do destino, no dia da entrega do produto quem estava em casa para recebê-lo?! Obviamente que a curiosidade não permitiu que eu esperasse minha esposa chegar para abrir o pacote e, uma vez aberto, por que não testá-lo? E, surpreendentemente, não é que o aparelhinho limpa mesmo! Desde então, tornou-se de rotina da casa, duas ou três vezes por semana, logo pela manhã, “alimentar” nosso pequeno amigo eletrônico durante uns 60 minutos no carregador e, antes de sair de casa para o trabalho, deixá-lo “passeando” pelos cômodos da casa. Infelizmente, a ajuda do aparelhinho não nos livra daquela boa e velha faxina semanal, mas ele quebra um belo galho. Isso me fez refletir sobre uma questão já abordada por mim em O MAESTRO DAS CIDADES : o tempo. Na sociedade em que vivemos, o tempo tornou-se um valor. Benjamin Franklin, ainda em meados do século XVIII, em meio à revolução industrial, já dizia “Tempo é dinheiro”. No entanto, você há de concordar, parece que com o passar dos anos, a medida em que as tecnologias evoluem as pessoas parecem ficar cada vez mais sem tempo! Um dia desses li num artigo que esse sentimento contemporâneo é devido justamente à tecnologia, que acaba nos permitindo fazer muito mais coisas do que fazíamos há alguns anos em um mesmo espaço de tempo. Eu tenho a minha própria teoria: a de que os minutos não têm mais 60 segundos, os dias não têm mais 24 horas e, por conseguinte, os anos não têm mais 365 dias (risos). Mas, infelizmente, exatas nunca foram o meu forte. Sendo assim, enquanto não encontro subsídios matemáticos para comprovar minha teoria, sigo tentando entender o que faz das pessoas tão ocupadas na atualidade e, se possível, refutar aquela teoria que responsabiliza a tecnologia por isso. Quem sabe quando a tecnologia nos permitir ter robôs reais nos ajudando nos afazeres diários nossas vidas sejam mais tranquilas e menos corridas… No exato momento em que reflito sobre isso, coincidentemente, sou despertado dos meus devaneios pelo som da minha música favorita: é o despertador do meu celular avisando que está na hora de levantar. Antes mesmo de calçar o chinelo, ouço o “bip” da panificadora na cozinha que espalha pelo apartamento inteiro o cheiro do pão quentinho que acabou de ficar pronto, a qual deixara programada na noite anterior. Juntamente, é óbvio, com a cafeteira, que começa a roncar passando os últimos goles de café. Os “perfumes” do pão quentinho e do café fresco se misturam, irrompendo o corredor e me fazendo pensar em uma extensa e farta mesa de café da manhã, a qual sou imediatamente obrigado a esquecer assim que o celular vibra novamente, avisando que o Uber que eu agendei na véspera está a 10 minutos de distância. “Ah, se eu pudesse ter um clone…” penso comigo mesmo. E antes de sair, entre um malabarismo para calçar o sapato e outro para terminar o último gole de café, tudo isso sem tropeçar no robô aspirador que já circula pela sala, puxo o celular do bolso enquanto fecho a porta e solicito ao Google: “artigos sobre clonagem”. Vai que dou sorte…
- O FIM DAS LOCADORAS DE VEÍCULOS?
O conceito de propriedade vem se transformando com o passar dos anos, fato que já explorei neste outro artigo . E essa tendência possivelmente aumentará com as novas gerações. Isso tem um impacto enorme no setor automotivo. Entendendo essas transformações, as locadoras de veículos passaram a abocanhar uma bela fatia do mercado, sendo responsáveis, no caso de algumas montadoras, pela compra de mais da metade dos veículos vendidos pela marca. Receba novas postagens direto no seu WhatsApp. A Localiza, por exemplo, somente no primeiro semestre do ano, teve uma receita líquida de R$ 2,38 bilhões, representando um crescimento de 36,8% em comparação ao mesmo período do ano anterior, segundo a InfoMoney . Mas o grande “pulo do gato” da empresa foi sua entrada no mercado de usados, a qual foi responsável por quase 60% da receita total da empresa, passando de pouco mais de R$ 0,97 bilhões para incríveis R$ 1,38 bilhões em vendas. Mas, como na vida nem tudo são flores… parece que a “farra” das locadoras está prestes a terminar. A razão disso é que há alguns meses a Toyota resolveu contra atacar, entrando também no mercado de locação de veículos. A ideia dos japoneses é não ser mais apenas uma produtora e revendedora de carros, mas uma uma empresa de “ mobility as a service ”. Através de um aplicativo, hoje já é possível alugar um Etios Sedã automático, por exemplo, por R$ 19 a hora e R$ 99 a diária, diretamente da montadora. E qual o efeito disso? Pode ter certeza que muito em breve, assim como os japoneses, os amiguinhos coreanos também irão querer entrar nessa brincadeira, seguindo pelos chineses, os europeus e até os americanos. Mas, fica a dúvida: o que acontecerá com as locadoras de veículos? No mercado atual, invocação é quase que um pré-requisito para que os negócios, independente da área, mantenham-se vivos. As locadoras de veículos precisam urgentemente reinventarem-se e pensar em um novo modelo de negócios, sob pena de desaparecerem nos próximos anos (talvez meses). Caso elas (e você também) não ache isso possível, deixo a seguir algumas imagens que, talvez, possam refrescar a sua memória…
- PRIVATIZAÇÃO DE ESPAÇOS PÚBLICOS. VOCÊ É A FAVOR?
Há alguns meses, Porto Alegre passou a fazer parte de um projeto nacional chamado Ruas Completas. Dez vias de dez cidades do país foram escolhidas para servir de modelo à replicação do conceito de Ruas Completas. A rua João Alfredo é uma delas. Essas ruas são desenhadas para dar segurança e conforto a todas as pessoas, de todas as idades, usuários de todos os modos de transporte. O conceito tem como base distribuir o espaço de maneira mais democrática, beneficiando a todos ( saiba mais ). Rua João Alfredo, em Porto Alegre. Antes X Depois No entanto, esse é um conceito novo, ainda mal compreendido por grande parte da população. Foi o que pude perceber durante um evento que participei durante um sábado na rua em questão. Desde a nossa chegada, logo pela manhã, foi possível sentir uma certa animosidade por parte dos comerciantes e moradores que eventualmente passavam pelo local. Mas foi com a chegada do prefeito, mais ao final da manhã, que o clima realmente esquentou. Das janelas e sacadas dos prédios era possível observar moradores que esbravejavam xingamentos de toda a ordem, transeuntes que vociferavam solicitando explicações sobre as mais diversas demandas, e até mesmo um inconveniente bêbado que não parou de soprar a sua “vuvuzela” durante todo o evento. Mas, a solicitação que mais repercutiu naquele evento foi a daquele senhor careca e de chinelos que, não contente com as explicações nem do gerente de operações de trânsito e nem com as do próprio secretário de mobilidade da cidade, não descansou enquanto não foi ouvido pelo próprio prefeito. E lá ficaram, de pé, em meio a uma pequena multidão de curiosos, por aproximadamente uns 30 ou 40 minutos. De longe eu observava a situação e tentava ler através da linguagem corporal dos dois qual seria o desfecho da conversa. E quanto mais um explicava, mais o outro parecia cobrar explicações. Até que o demandante pareceu se dar por convencido e liberou o prefeito para continuar sua peregrinação de cumprimentos e novas explicações. Até chegar, algum tempo depois, onde estávamos um colega e eu. Ao cumprimentar meu colega, proferiu algum comentário carregado de indignação por conta das críticas recebidas durante o evento. Ao cumprimentá-lo, tranquilizei-o dizendo: As pessoas são mesmo engraçadas… Imagino que seja natural que fiquem confusas ou inseguras com a mudança, já que nem mesmo entre nós, que trabalhamos com mobilidade, há um consenso! Mais cedo, durante a montagem do evento, conversava com uma colega que dizia achar uma sacanagem aquele tipo de intervenção na cidade (devido ao espaço de estacionamento “tirado” da rua e transformado em área de convivência), já que, naquela zona, a grande maioria dos edifícios não contavam com garagem devido ao fato de serem antigos. Tirar a única possibilidade de estacionar daqueles moradores (segundo ela) não parecia algo razoável. Perguntei então a ela se, caso ela comprasse um lindo sofá novo que, devido às suas proporções, não coubesse na sua sala, ela acharia razoável deixar o sofá na calçada em frente ao prédio? Ela pareceu surpresa com a pergunta e, sem entender, perguntou o que aquele exemplo tinha a ver com as vagas de estacionamento. Bem, no meu ponto de vista tudo! É simplesmente um espaço público que está sendo utilizado para guardar um bem particular. Mal eu terminei de falar e eles se entreolharam, o prefeito e seu assessor (creio eu), e ele respondeu “É uma boa analogia! Deveria ter dado esse exemplo pra aquele senhor careca…” Em minhas palestras , quando pergunto aos espectadores “ de quem é a rua? ” muitos tendem a responder “de ninguém”; alguns, no entanto, dizem “é da prefeitura”. Mas, dificilmente ouve-se a resposta esperada: a rua é um espaço de todos. Logo, por todos deve ser utilizada. Até quando vamos continuar “privatizando” espaços públicos para alguns usuários em detrimento da grande maioria?
- O TRÂNSITO BRASILEIRO E O COMPLEXO DE VIRA-LATA
A derrota da seleção brasileira de futebol para a seleção uruguaia na final da copa do mundo de 1950, em pleno Maracanã, foi o que motivou o dramaturgo e escritor Nelson Rodrigues a criar a expressão "complexo de vira-lata". Ele usou essa metáfora para descrever o sentimento de inferioridade que alguns brasileiros têm em relação ao seu próprio país, como se vissem o Brasil da mesma forma que muitos veem um vira-lata: como algo sem valor, inferior ou sem pedigree. Assim, o nome ressalta essa percepção negativa e a falta de autoestima associada à própria identidade nacional. Receba novas postagens direto no seu WhatsApp. Para Rodrigues, o fenômeno não se limitava somente ao campo futebolístico: Por "complexo de vira-lata" entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. O brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a autoestima. Esse assunto veio à tona enquanto debatíamos no grupo do WhatsApp do Instituto Zero Morte , quanto à falta de segurança dos veículos fabricados e comercializados no país. Tema que já tratei inclusive em outro artigo . É curioso pensar que os veículos mais vendidos no país, há alguns anos seguidos, são veículos com péssimas avaliações no que se refere à segurança. Ainda Assim, somos um dos países com valores de veículos mais altos do mundo. Essa constatação me fez recordar de uma entrevista para a qual fui convidado recentemente no Podcast em Trânsito , do grande amigo Professor Carlão. Na ocasião, o seu sócio, Paulo Botelho, que também apresenta o Podcast Papo de Motociclista , contou que em determinada ocasião encontrou um representante nacional da Harley Davidson. Durante a conversa, ele questionou o representante sobre a razão do preço das motocicletas da marca ser maior no Brasil em comparação a outros países. Esperando alguma resposta que envolvesse carga tributária do país ou algo do tipo, ele disse ter ficado perplexo quando a resposta recebida foi apenas um "porque vocês pagam!" Ainda assim, o Brasil não é o país onde os carros custam mais caro. Estamos atrás de Uruguai, Colômbia, Argentina e Turquia, onde os carros representam 652,29% do rendimento anual médio de um trabalhador, contra os nossos míseros 441,89%. A pesar disso, caminhamos a passos largos... ou melhor dizendo, avançamos em alta velocidade para superarmos uma marca digna de muito orgulho: O trânsito brasileiro está entre os mais violentos do mundo, sendo o terceiro país com mais mortes em acidentes de trânsito, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). O país está atrás apenas da Índia e da China. Me despeço do amigo leitor, após um texto repleto de pessimismo, crítica, ironia e uma pitada de complexo de vira-lata, algumas das maiores marcas da obra do grande Nelson Rodrigues, com outra reflexão desse fantástico artista: O brasileiro não está preparado para ser o maior do mundo em coisa nenhuma. Ser o maior do mundo em qualquer coisa, mesmo em cuspe à distância, implica uma grave, pesada e sufocante responsabilidade.
- COMO VOCÊ TEM SE COMUNICADO NO TRÂNSITO?
" Se pudessem utilizar apenas uma palavra, como vocês definiriam o trânsito?" É com essa pergunta que eventualmente inicio as minhas palestras , onde, após uma enxurrada de "congestionamento, estresse, caos" e outros tantos adjetivos pejorativos que geralmente surgem, sigo construindo junto ao público um conceito do ato de transitar, que deveria, em tese, ser algo tão natural e inerente a existência humana. Ao longo de tal prática, costumo explanar que trânsito, além de deslocamento e convívio social, é também comunicação . E como você tem se comunicado? Se você tem alguma dúvida disso, aí vai uma dica valiosa, caro leitor, que costumo compartilhar nessas palestras, seja você habilitado ou não: quando você se coloca no assento do condutor de um veículo, terá diante de você um instrumento circular, também conhecido como direção ou volante, que, quando girado, serve para direcionar o automóvel para o lado que se pretende que ele vá (contém ironia). Imediatamente atrás dessa ferramenta, comumente existem duas pequenas alavancas, uma de cada lado. A da esquerda, mais especificamente, quando movida para cima ou para baixo, desencadeia um processo fantástico no lado externo do veículo. Magicamente, umas luzinhas começam a piscar, sinalizando suas intenções aos demais usuários da via, caso esses não estejam em dia com suas funções telepáticas, ou mesmo se seus veículos não venham equipados de fábrica com uma bola de cristal. O fato é que nem sempre nos comunicamos de forma assertiva no nosso dia a dia, por que no trânsito deveria ser diferente? Foi o que me peguei a refletir recentemente quando, ao ministrar uma palestra em uma empresa (de telecomunicações, coincidentemente) junto ao grande amigo e colega Marcelo Madruga, fomos interpelados por um espectador enquanto discorríamos sobre a importância e a correta utilização de equipamentos obrigatórios. Ao mencionarmos o triângulo de sinalização, o rapaz levantou a mão e foi logo relatando: "Um dia desses eu tava indo atender um chamado com o carro da empresa e passei por um cara com o pneu furado..." Essas últimas palavras ficaram ressoando no meu ouvido, me fazendo perder completamente o foco na história que nosso falante espectador trouxera. Sem perceber, acabei lembrando de um trecho do humorista e cartunista Maringoni, que citei em outro artigo , onde ele diz: " Como se sabe, o homem começou andando de quatro, ficou de pé como homo erectus e agora ficou de quatro, novamente. De quatro rodas” . Como é de praxe de um Psicólogo e Neurolinguista, me afundei em meio a uma reflexão semântica que só teve fim quando notei que meu colega, felizmente, havia terminado a explicação para uma pergunta que eu sequer havia ouvido. Um dos maiores benefícios em ministrar palestras em duplas, diga-se passagem... Trabalhando no trânsito, frequentemente me deparo com expressões curiosas, mas com as quais acabamos nos acostumando, como "fiquei sem gasolina", "fui guinchado!", "ele bateu em mim" ou "fiquei sem bateria". A humanização da máquina passa pela corporificação ou até pela incorporação da mesma ao humano. Assim, dirigir parece não ser mais apenas estar em um carro, mas ser o próprio carro. O que me remete a uma frase que compartilhei há algum tempo da grande especialista em trânsito, Márcia Pontes, que diz: Diante disso, peço humildemente licença à amiga Márcia para complementar ligeiramente o seu pensamento: "Eu não sou o meu carro. Eu sou quem dirige esse amontoado de lata e fios e o modo como eu vou dirigir a minha vida e o meu carro é que vai determinar como eu me comunico com as pessoas e valorizo a vida. Eu não sou o meu carro."
- CONHECI O "HOMEM DE FERRO". E VOCÊ, JÁ CONHECEU ALGUM SUPER-HERÓI?
No dia 12 de novembro de 2018, morreu aos 95 anos o escritor norte-americano Stan Lee, em decorrência de complicações relacionadas a um AVC. Lee foi um dos grandes nomes dos quadrinhos à frente da Marvel Comics, na qual foi o responsável pela criação de diversos personagens, dentre eles o Homem de Ferro, que fez muito sucesso nas telonas interpretado por Robert Downey Jr. Assim que recebi essa lamentável notícia, lembrei que já conheci o homem de ferro pessoalmente. Obviamente que não se trata do personagem fictício de Stan Lee. Esse encontro ocorreu há pouco mais de 15 anos. Passei minha adolescência em um subúrbio de uma cidade na região metropolitana de Porto Alegre. Naquela época ainda era possível voltar para casa de festas a pé, mesmo madrugada adentro. E quando não houvesse nenhuma, fazíamos na rua mesmo. Para isso não precisava muito: alguns amigos, um violão e uma garrafa de vinho. Pronto. Assim passamos boas horas da nossa juventude. Porém, uma noite em especial me marcou permanentemente: exatamente a noite em que conheci esse ícone (ou, pelo menos, a noite em que ele recebera tal alcunha). Cunha, como era conhecido no bairro, era da turma do skate e, naquela noite, fazia algumas manobras na esquina do outro lado da rua. Como não tinha habilidade para sequer parar de pé sobre um skate, me atinha a ficar junto à turma do violão (e do vinho, é claro). Essas reuniões ocorriam na via principal do local, conhecida como rua 24, na qual concentravam-se os principais mercados e comércios, muito em função de ser a principal via de acesso ao bairro. Estava sentado com mais uns três ou quatro amigos nas escadas de uma loja que, àquela hora da madrugada, já se encontrava fechada. De repente, um som alto de aceleração rompe a noite fazendo a música e a cantoria cessar. Um carro branco sobe a rua numa velocidade desproporcional à via. Um som ainda mais alto dos pneus freando faz chamar a atenção daqueles que ainda não tinham percebido a aproximação do veículo. Dentre eles, o distraído skatista, concentrado nas suas manobras. Mas, infelizmente, fora tarde demais. O silêncio que se fez durante aquele milésimo de segundo entre a frenagem e o impacto foi abruptamente interrompido por dois baques secos. O primeiro das rodas subindo com violência o meio fio. O segundo do corpo do Cunha sendo arremessado sobre o capô, seguido do barulho estridente do para-brisa se partindo em milhares de pedaços. Assim que a energia do impacto foi toda dissipada, destruindo quase que completamente a frente do veículo, seu corpo, puxado pela gravidade, percorreu o caminho inverso, rolando capô a baixo e esparramando-se inerte no chão. “Matou”, pensei eu. E, pela cinemática, provavelmente os outros ali também pensaram. Atônitos, todos se entreolharam e correram até o outro lado da rua para tentar ajudar. No mesmo intuito, o motorista pulou para fora do veículo, surpreendendo a todos. Se tratava do “Zóio”, rapaz um pouco mais velho que a nossa “gurizada” e que também morava ali naquela região, uma ou duas ruas dali. Mas o mais surpreendente ainda estava por vir: antes mesmo de chegarmos ao outro lado da rua, repentinamente, num pulo o Cunha estava de pé e, com ar confuso, como o famoso meme do John Travolta, se pôs a olhar para os lados, como a procurar por algo. Milagrosamente ele encontrava-se ileso, sem sequer um corte, hematoma ou arranhão. E, aos nossos questionamentos sobre se estava bem, ele apenas se limitava a responder “Tô, mas cadê meu skate?”. Desde esse dia, seja nas ruas do bairro, seja na escola, o Cunha recebeu a alcunha de “Homem de Ferro”, dentre outras é claro. E esse foi o primeiro acidente que eu presenciei na minha vida. Não sei se por isso tenha me marcado tanto, ou pelo fato de a vítima do atropelamento ter saído ilesa. Nem o quanto isso influenciou na minha escolha profissional. Procuro pensar que nada na nossa vida ocorre por acaso. E se existe um Deus, ele quis que aquelas três pessoas estivessem ali, naquele exato momento: o Cunha, para aprender a valorizar a vida e acreditar em segundas chances; o “Zóio”, para aprender uma lição sobre alta velocidade (espero que tenha aprendido algo…); e, finalmente, eu, para me acostumar com as dezenas de super heróis que eu viria a ver no futuro, embora a grande maioria desses não mais levantariam do chão.



















