NENHUM OUTRO BRINQUEDO NOS ACOMPANHA POR TANTOS ANOS
- Rodrigo Vargas

- 16 de ago.
- 2 min de leitura

Quando eu tinha uns seis ou sete anos, ganhei uma miniatura de um Porsche vermelho. Sempre cuidei bem dos meus brinquedos, mas poucos dias depois, a tampa do capô — que abria e fechava — quebrou. Para mim, aquilo foi uma tragédia. Achei que não teria conserto, talvez por ser de metal.
Mas tive outra ideia. E lembremos: estamos falando de uma criança de seis ou sete anos. Decidi fazer uma “chapeação”. Peguei uma colher de chá, um tubo de Durepoxi e tinta para tecido vermelha. Preenchi o buraco com aquela massa cinzenta, alisei com a colher, desenhei os vincos do capô e, depois de horas de secagem, pintei. Duas ou três demãos até esconder o cinza. O carrinho ficou mais pesado que o original, mas aceitável — pelo menos para mim naquela idade.
Anos depois, ouvi alguém comentar sobre ter visitado um país europeu e notado a quantidade de carros amassados nas ruas. Segundo essa pessoa, havia lá menos preocupação com estética automotiva do que no Brasil.
Pode ser. Mas essa percepção também pode ser fruto de diferenças culturais, do comportamento ao volante ou mesmo do tipo de percurso e infraestrutura local. Não há dados sólidos que provem que os europeus ligam menos para a aparência do carro. O que há, sim, é evidência clara de que a segurança viária é melhor por lá — com menos mortes e ferimentos graves do que aqui.
No meu primeiro livro, O Efeito Transformers em Trânsito, que teve o prefácio generoso do amigo Celso Mariano, ele lembra uma frase que ouviu certa vez: “os meninos crescem e o que muda é o preço dos brinquedos”. É verdade. Como costumo dizer, nenhum outro brinquedo nos acompanha por tantos anos durante a vida quanto o automóvel.
E talvez, no fundo, seja isso: cada arranhão, cada amassado — seja no brinquedo da infância ou no da vida adulta — carrega uma história. E histórias, às vezes, valem mais que uma pintura impecável.














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