MOBILIDADE RECICLADA E O BARULHO DAS SOLUÇÕES QUE JÁ DEVIAM TER IDO PRO LIXO
- Rodrigo Vargas
- há 5 dias
- 2 min de leitura

Quem nunca se viu diante da seguinte situação? Você está dirigindo para algum compromisso (para o qual tem certa pressa), acessa uma via local para fugir do congestionamento da avenida, a via é estreita e permite estacionamento de ambos os lados e, quando você se dá conta, o que está parado diante do seu carro? Um caminhão de coleta do lixo. E lá se vai seu horário...
Essa cena, tão comum nas cidades brasileiras, revela um dilema urbano silencioso (ou nem tanto): os impactos do atual modelo de coleta de resíduos sólidos. Se você realmente se dedicou em imaginar a cena acima, pôde até ouvi-la em sua mente, pois, para além dos congestionamentos pontuais, há também o barulho dos caminhões — muitas vezes atuando de madrugada ou nas primeiras horas da manhã —, o risco de acidentes, a dificuldade de circulação em áreas estreitas e os conflitos que surgem entre os trabalhadores da limpeza e os moradores apressados.
Refletindo sobre como essa logística urbana, embora essencial, poderia ser pensada de forma mais eficiente e menos invasiva, escrevi sobre isso em outro momento aqui no blog, no texto "Ouça o futuro se aproximando". E, falando em futuro, eis que, recentemente, me deparei com duas iniciativas que mostram, na prática, como isso já está acontecendo.
A primeira delas traz o exemplo de Dubai, que apresenta soluções robóticas para a coleta de lixo. Pequenos veículos elétricos, silenciosos e autônomos, circulam por bairros residenciais recolhendo o lixo com precisão e sem interromper o trânsito. Uma coleta quase imperceptível, que parece saída de um filme futurista, mas que já é realidade — totalmente alinhada com o conceito de cidades inteligentes (Smart City).
A segunda é ainda mais impressionante: em Varberg, na Suécia, o lixo é transportado por túneis subterrâneos que utilizam tecnologia de vácuo e inteligência artificial. Nada de caminhões, nada de barulho, nada de riscos à mobilidade urbana. Tudo funcionando sob nossos pés — literalmente.
Essas inovações nos mostram que a tecnologia, quando bem utilizada, pode ser uma grande aliada da qualidade de vida nas cidades. A coleta de lixo, afinal, não precisa ser um transtorno para cumprir seu papel. Pode ser integrada de forma harmônica ao cotidiano urbano, respeitando o tempo, o descanso e a segurança das pessoas.
No fim das contas, talvez a maior ironia seja essa: enquanto buscamos soluções mirabolantes para melhorar a mobilidade urbana — viadutos, aplicativos, semáforos inteligentes — continuamos empacados atrás de um caminhão de lixo, dia após dia. Literalmente. A cidade se move, as demandas mudam, mas seguimos tentando resolver problemas novos com ideias velhas. E se a mobilidade é, por natureza, dinâmica, não estará na hora de jogarmos algumas dessas soluções ultrapassadas no lixo também?
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