Na física, velocidade diz respeito à variação da posição de um objeto no espaço em relação ao tempo, ou seja, qual a distância percorrida por um corpo num determinado intervalo temporal.
Recentemente a OMS (Organização Mundial da Saúde) sugeriu que os países adotem limites máximos de velocidade em vias urbanas inferiores ou iguais a 50 km/h para tentar reduzir o número de mortes causadas por acidentes de trânsito. No Brasil, no entanto, contrariando a essa tendência mundial de redução de velocidade, alguns gestores públicos ainda são eleitos utilizando promessas que contrariam não só essa tendência, mas as próprias estatísticas acerca dessas reduções.
Sem entrar no mérito da eficácia (já comprovada, diga-se de passagem) da redução de velocidade em perímetro urbano, quero me ater uma questão pouco (ou talvez nunca) debatida na área do trânsito: a falta de percepção do risco em relação à velocidade. Obviamente que se um candidato é eleito com a promessa de aumentar a velocidade máxima de determinada via é porque a maioria das pessoas desejam isso e entende essa medida como sendo segura e até mesmo necessária. Isso se dá porque a maioria das pessoas percebe a velocidade de 60 km/h como uma velocidade relativamente baixa. Mas será que a percepção dessas pessoas está correta?
Bem, para responder a tal questão eu tenho uma teoria. Após apresentá-la, convido a você, caro leitor, a tirar então suas próprias conclusões. Antes de expô-la, entretanto, quero convidá-lo a uma rápida reflexão: o que são 60 km/h? Ou ainda, o que representa 1 km? Todos sabemos que 1 km é o equivalente a 1000 metros, correto? Ok, mas, em termos práticos, de maneira concreta, o que são 1000 metros? Talvez da sua casa até a escola das crianças? Ou até o supermercado? Complicado, não?
E 1 hora? “Ora, essa é fácil, Rodrigo!” você deve ter pensado. Exatamente… 1 hora tem 60 minutos! Daqui onde eu moro, por exemplo, sei que se eu pegar meu carro e sair a uma velocidade de 60 km/h, durante 2 horas, eu chego ao litoral. Isso me dá uma boa noção da relação tempo X distância. Pelo menos na estrada… Mas e na cidade, volto a perguntar, o que significa 60 km/h?
Na minha opinião a velocidade, sobretudo no perímetro urbano, deveria ser mensurada em m/s (metros por segundo). Isso, me parece, daria às pessoas uma noção mais palpável, mais concreta, do que representa a velocidade na qual elas trafegam. Façamos a mesma reflexão: em termos práticos, de maneira concreta, o que é 1 metro? Fácil, não? É um pouco mais que a distância que você está agora para a parede de trás da tela do seu computador… Ou então a distância ente você e seu colega sentado no computador ao lado… Ou simplesmente um passo bem largo de um adulto. E 1 segundo? Ora, pouco mais que o tempo que você gasta para estalar os dedos ou piscar os olhos! Sendo assim, poderíamos inferir que um carro que roda a 3 m/s, por exemplo, roda, em 1 piscar de olhos, a distância de 3 passos largos. Bem mais fácil, não?
“Mas Rodrigo, como eu faço para saber a velocidade que o carro está em m/s?”. Para fazer a conversão de km/h para m/s basta realizar um simples cálculo que, mesmo eu, que não sou lá muito afeiçoado à matemática, consigo fazer: bastar dividir a velocidade do seu velocímetro por 3,6 que você terá a velocidade do seu veículo em metros por segundo. Sendo assim, um veículo que roda a 60 km/h percorre, aproximadamente, 17 m/s, o que, em termos práticos, dá, mais ou menos, a distância do seu portão até o do vizinho do outro lado da rua. Percebe a diferença?
Aqui você pode estar se perguntando “Mas Rodrigo, onde está o risco a ser percebido nisso?” Eu lhe convido a fazer uma nova reflexão: imagine uma avenida aí na sua cidade, de preferência uma com um grande fluxo de pedestres. Nada? Ok, eu lhe ajudo… Tente lembrar de algum hospital, uma escola bem grande, um shopping ou centro comercial… lembrou? Então, naquela grande avenida que passa em frente a esse estabelecimento estão passando dezenas e dezenas de carros por minuto, todos a uma velocidade de 60 km/h, ou melhor… 17 m/s (em tese, pelo menos!). Especialistas afirmam que o tempo de reação de um condutor em condições normais é de 1 segundo aproximadamente. Ou seja, na eventualidade de uma situação de risco, o condutor leva em média 1 segundo para começar a frear. Lá se vão 17 metros… Soma-se a isso a distância necessária até que o veículo pare completamente, que, em um carro de passeio, com cerca de 1 tonelada e em condições normais, a essa velocidade, varia em torno de 25 metros. Isto é, somando-se o tempo de reação + a distância de parada, teríamos percorrido mais de 40 metros até o carro parar completamente!
Perceba que eu sempre frisei “em condições normais”, seja para o veículo, seja para a via ou seja para o condutor. Imagine isso tudo ao contrário… Um veículo maior, sem as devidas manutenções realizadas, com pneus “carecas”, com o sistema de freio ineficiente e acima da velocidade permitida. Assim como uma via mal pavimentada, com água, óleo ou areia. E, para completar, um condutor desatento, cansado, com sono ou sob influência de algum medicamento ou droga.
“Mas aí você tá sendo muito pessimista, Rodrigo…”. Ok, minha reflexão pode não ter sido o suficiente para alertá-lo dos riscos da velocidade no trânsito. Se esse é o seu caso, peço que, um última vez, faça outra rápida reflexão: Imagine agora, nessa mesma avenida, nas mesmas condições acima, venha um carro a 60 km/h… ou 17 m/s, enquanto sua mãe, esposa ou filhos atravessassem. Você iria querer que ele mantivesse a mesma velocidade ou que a reduzisse?
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