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  • A PRAGA DO TRÂNSITO

    Andava há algum tempo sem escrever, mas essa semana ouvi algo que não pude deixar passar batido. Trabalho no setor de educação do órgão gestor de trânsito da minha cidade. Nessa semana visitamos uma turma da universidade federal no intuito de convidá-los a participar de um projeto específico para o público universitário. Receba novas postagens direto no seu WhatsApp. Minutos antes do início da aula conversávamos com a professora da disciplina esclarecendo dúvidas sobre o projeto e também falando de outros assuntos relacionados ao trânsito. Foi quando, com ar preocupado, ela perguntou: “O que está acontecendo com o trânsito da cidade nesse ano de 2017?!”. Sem entender direito a pergunta, pedi educadamente que fosse mais clara. Ela explicou que estava cada vez mais difícil o trânsito da cidade em função dos congestionamentos. Bem professora, – respondi- com em torno de 400 novos carros emplacados no estado diariamente isso era de se esperar! E a tendência, se nada a respeito for feito, é piorar… Para meu espanto, ela seguiu: “Tinha que haver uma praga!” (no sentido de diminuir o número de carros nas ruas, creio eu). Professora… infelizmente já temos uma praga! Mas poucas pessoas sabem da sua existência. Uma praga que mata mais de 100 pessoas por dia no Brasil. Uma praga que ceifa a vida de mais de 40 mil brasileiros e deixa outras centenas de milhares com sequelas muitas vezes irreversíveis. Uma praga que, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), dizima anualmente cerca de 1,3 milhões, ultrapassando o número de homicídios e até mesmo de mortes em guerras. E que, segundo a mesma organização, se até 2030 não for contida, matará mais que o HIV. Uma praga responsável por gastar, em média, 2% do PIB dos países em desenvolvimento. Que no país leva todos os anos dos cofres públicos o equivalente a duas copas do mundo semelhantes a de 2014. A praga está aí, juntamente com seus números, para quem quiser ver. Mesmo que alguns seguimentos da sociedade pareçam não se preocupar com isso. Em vista disso, fica o questionamento que sempre procuro levar aonde quer que eu vá, com quem quer que eu fale: A quem serve que as pessoas desconheçam esses fatos? Quem se beneficia com a falta de atenção sobre esses números? Até quando fecharemos nossos olhos a isso é esperaremos que uma “praga” faça nossos problemas magicamente desaparecerem? Tem interesse pelo assunto? Gostaria de ler mais textos como esse? Então adquira agora o meu livro!

  • MOBILIDADE RECICLADA E O BARULHO DAS SOLUÇÕES QUE JÁ DEVIAM TER IDO PRO LIXO

    Quem nunca se viu diante da seguinte situação? Você está dirigindo para algum compromisso (para o qual tem certa pressa), acessa uma via local para fugir do congestionamento da avenida, a via é estreita e permite estacionamento de ambos os lados e, quando você se dá conta, o que está parado diante do seu carro? Um caminhão de coleta do lixo. E lá se vai seu horário... Essa cena, tão comum nas cidades brasileiras, revela um dilema urbano silencioso (ou nem tanto): os impactos do atual modelo de coleta de resíduos sólidos. Se você realmente se dedicou em imaginar a cena acima, pôde até ouvi-la em sua mente, pois, para além dos congestionamentos pontuais, há também o barulho dos caminhões — muitas vezes atuando de madrugada ou nas primeiras horas da manhã —, o risco de acidentes, a dificuldade de circulação em áreas estreitas e os conflitos que surgem entre os trabalhadores da limpeza e os moradores apressados. Refletindo sobre como essa logística urbana, embora essencial, poderia ser pensada de forma mais eficiente e menos invasiva, escrevi sobre isso em outro momento aqui no blog, no texto " Ouça o futuro se aproximando " . E, falando em futuro, eis que, recentemente, me deparei com duas iniciativas que mostram, na prática, como isso já está acontecendo. A primeira delas traz o exemplo de Dubai , que apresenta soluções robóticas para a coleta de lixo. Pequenos veículos elétricos, silenciosos e autônomos, circulam por bairros residenciais recolhendo o lixo com precisão e sem interromper o trânsito. Uma coleta quase imperceptível, que parece saída de um filme futurista, mas que já é realidade — totalmente alinhada com o conceito de cidades inteligentes (Smart City). A segunda é ainda mais impressionante: em Varberg, na Suécia, o lixo é transportado por túneis subterrâneos que utilizam tecnologia de vácuo e inteligência artificial. Nada de caminhões, nada de barulho, nada de riscos à mobilidade urbana. Tudo funcionando sob nossos pés — literalmente. Essas inovações nos mostram que a tecnologia, quando bem utilizada, pode ser uma grande aliada da qualidade de vida nas cidades. A coleta de lixo, afinal, não precisa ser um transtorno para cumprir seu papel. Pode ser integrada de forma harmônica ao cotidiano urbano, respeitando o tempo, o descanso e a segurança das pessoas. No fim das contas, talvez a maior ironia seja essa: enquanto buscamos soluções mirabolantes para melhorar a mobilidade urbana — viadutos, aplicativos, semáforos inteligentes — continuamos empacados atrás de um caminhão de lixo, dia após dia. Literalmente. A cidade se move, as demandas mudam, mas seguimos tentando resolver problemas novos com ideias velhas. E se a mobilidade é, por natureza, dinâmica, não estará na hora de jogarmos algumas dessas soluções ultrapassadas no lixo também?

  • OS MORTOS NÃO CHORAM

    O ser humano tem uma capacidade incrível de se adaptar às mais diversas situações. A morte é uma delas. Foi por volta do 4º semestre do curso de Psicologia, durante uma aula de Neuroanatomia, que me dei conta disso. Receba novas postagens direto no seu WhatsApp. Envolta em um odor perturbador de formol e rodeada de cadáveres humanos, uma das minhas colegas de curso me questionou se já havia atendido algum acidente com vítima fatal ao descobrir que eu trabalhava como agente de trânsito. Enquanto manuseava uma peça (nome usado no meio acadêmico para denominar a parte do corpo a qual se está estudando, no caso o cérebro) respondi que sim, alguns. Sua curiosidade parece ter aumentado com a minha resposta. Ela então quis saber qual era a sensação. Respondi que, tirando o sangue, não era muito diferente da situação em que nos encontrávamos. Nada a mais que pedaços de carne inertes e sem vida. Após alguma crítica do tipo “que horror” ou “você não tem coração?” que não lembro bem, tive que explicar o porquê da minha frieza. O fato é que a gente se acostuma. Assim como a gente se acostuma a abrir o jornal ou ligar a televisão e ver os números de mortes no trânsito e não mais se espantar. A gente simplesmente se acostuma. Na primeira ocorrência rola uma náusea. Na segunda uma certa pena. Lá pela quinta ou sexta você já está comendo um pastel enquanto consulta a placa do veículo com a central… faz parte da sua rotina. Antes que você, amigo leitor, me taxe de desumano, insensível ou algo parecido, aviso: há coisas com as quais é impossível de se acostumar. Como com as unhas de uma condutora embriagada cravadas no meu braço, que, enquanto aguardava a ambulância, implorava para que não a deixasse e chorando dizia que queria apenas ver a filha mais uma vez. Ou como quando o motociclista, já em choque pela perda de sangue, que tentava levantar-se e era contido por outros três familiares. Mal sabia que nem se quisesse conseguiria levantar pois, além da sua potente motocicleta que fora parar apenas após chocar-se contra um poste a aproximadamente 200 metros da queda, uns 20 metros antes do ensanguentado motociclista estava sua perna direita sobre o asfalto. Nem tão pouco com a jovem que gritava pedindo para ser tirada das ferragens de um carro capotado enquanto os bombeiros não chegam. Com esse tipo de coisas não há como se acostumar… Então, essa foi minha resposta. Pra ela e pra quem me pergunta até hoje: “Você não tem problemas em atender ocorrências com vítimas fatais?”. Eu digo um grande e sonoro NÃO. Tenho problemas em atender vítimas presas nas ferragens, amputadas, chorando, gritando, agonizando. Tenho problemas de consolar os familiares que chegam depois e percebem que nunca mais vão poder abraçar um filho, que jamais dirá que ama sua esposa novamente ou que não voltará a ouvir aquelas histórias engraçadas que seu pai costumava contar. Com os mortos não tenho problemas, pois os mortos não gritam, não gemem, não sofrem. Ao contrário dos que ficam, os mortos não choram… Tem interesse pelo assunto? Gostaria de ler mais textos como esse? Então adquira agora o meu livro!

  • OS NOSSOS SUBSTITUTOS

    Com a correria que a vida moderna nos impõe, quem nunca pensou em ter um clone pra ajudar nas rotinas diárias? De forma bem humorada, já tratei do assunto em ESTÁ PRONTO PARA DEIXAR SUA CASA NAS MÃOS DE UM ROBÔ? . O fato é que, em função da quarentena à qual fomos submetidos devido à pandemia do coronavírus, um clone para nos substituir naquela arriscada saidinha não seria uma ideia de todo ruim. Receba novas postagens direto no seu WhatsApp! Esta questão me reporta ao filme de ficção científica Substitutos (Surrogates, 2009), protagonizado por Bruce Willis. Baseado em uma história em quadrinhos, mesmo não sendo um grande filme, traz uma ideia bastante interessante: o enredo se dá no ano de 2054, em uma sociedade em que as pessoas, quase na sua totalidade, trocam sua existência diária presencial por uma virtual. Para tanto, elas se utilizam de androides substitutos, os quais podem ser controlados de uma confortável poltrona instalada na segurança do lar do usuário, bem ao estilo Matrix (1999) ou Avatar (2009). Assim, esses se encontram livres de qualquer tipo de violência ou contaminação, já que nada que aconteça com seus robôs pode afetá-los. E o melhor de tudo: esses robôs substitutos poderiam ter a aparência que seus usuários bem entendessem, podendo até mesmo ser do sexo oposto. Como ver um filme assim e não pensar nos dias de hoje? Guardadas as proporções, já não temos nossos “substitutos” disseminados através da internet? O que dizer do polêmico Second Life (Segunda Vida)? Alguém se lembra desse famoso programa criado em meados dos anos 2000, que para muitos era tratado como um jogo, para outros um simulador e para outros tantos uma rede social, no qual se podia simular uma vida em paralelo? Muitos dos seus usuários acabaram migrando para outras redes sociais, como Facebook, Instagram e Twiter. “Lugar” onde os usuários costumam mostrar a vida que a eles convém mostrar, ou seja, viagens, festas, momentos felizes, conquistas… Exatamente como os robôs da ficção científica, sempre belos, saudáveis e felizes. Mesmo ainda distantes dessa realidade tecnológica, já há algumas décadas buscamos nossos substitutos, não em robôs ou androides, mesmo antes do advento de qualquer rede social virtual já dirigíamos “vidas paralelas”, sentados confortavelmente em bancos de couro climatizados, na segurança de um habitáculo projetado com o que havia de mais avançado na área da engenharia, atrás de vidros escuros que nos protegiam da violência urbana, mas que, ambiguamente, já nos punha sem percebermos em isolamento social. Essas máquinas incríveis, que ganharam as ruas e que aos poucos foram ganhando cada vez mais espaço nas cidades modernas, são as mesmas que, além de nos transportarem para locais onde antes nos eram inalcançáveis, também nos protege dos riscos de cidades que há tempos já não são pensadas para nossa circulação, mas para a deles. Sem mencionar a capacidade que elas têm de nos deixar significativamente mais belos… O único inconveniente que esses substitutos ainda não sanaram é que, diferentemente daqueles do filme, o que acontece a eles nas ruas ainda segue afetando os seus usuários, tanto quanto (ou mais que) a pandemia do coronavírus. Tem interesse pelo assunto? Gostaria de ler mais textos como esse? Então adquira agora o meu livro!

  • HETEROCROMIA URBANA: O TRÂNSITO COMO REFLEXO DE NÓS MESMOS

    Outro dia, parado no trânsito da cidade, um detalhe inusitado me chamou a atenção: o carro ao lado rodava com os faróis assimétricos — um projetava luz branca intensa, o outro, amarelada e suave. Aquela pequena desarmonia visual me fez lembrar, curiosamente, da heterocromia, condição em que uma pessoa apresenta olhos de cores diferentes. Um toque de singularidade na biologia humana. Uma espécie de “poesia genética”. Mas no trânsito, essas pequenas assimetrias nem sempre são poéticas. Heterocromia, etimologicamente, significa “cores diferentes”. E é disso que muitas vezes se trata a mobilidade urbana: de uma colcha de retalhos de intenções, prioridades, posturas e políticas que nem sempre conversam entre si. Assim como o carro com faróis desiguais ilumina o caminho de maneira desigual, nós também, como sociedade, lançamos olhares díspares sobre o trânsito. Enquanto alguns enxergam o espaço público como lugar de pressa e performance, outros o vivem como risco e sobrevivência. Há quem veja no volante um símbolo de poder. Outros, uma arma. A sinalização aponta um caminho; o comportamento insiste em outro. E assim seguimos — com um olho na lei, outro no improviso. Essa “heterocromia social” que marca o trânsito nos revela mais do que gostamos de admitir: as diferenças de percepção, a ausência de empatia, a dificuldade de convergência em torno de valores comuns, como o respeito à vida. No fundo, o problema não está nos faróis, mas em quem os acende. Talvez esteja na hora de pensarmos: que tipo de luz temos emitido quando ocupamos o espaço público? Nossos faróis — simbólicos ou reais — iluminam o coletivo ou apenas o nosso próprio caminho? Enxergamos a mobilidade com clareza ou com os olhos embaçados por hábitos e crenças que perpetuam a violência viária? Se a heterocromia nos olhos pode ser natural e até fascinante, no trânsito ela se torna um alerta. Porque quando cada um enxerga a estrada de um jeito, a chance de colisão — de ideias, de condutas e de vidas — aumenta. Talvez o desafio seja esse: alinhar os faróis. Ou melhor, alinhar os olhares.

  • QUANDO A IGNORÂNCIA ASSUME O VOLANTE

    Na década de 1920, Sigmund Freud, o famoso criador da psicanálise, criou um modelo o qual chamou de Teoria da Personalidade. Segundo esse modelo, a psique humana seria formada por três instâncias que interagem e se complementam, que se chamam Id , Ego e Superego . Não vou me aprofundar muito nas questões teóricas, mas para exemplificar, tente pensar naquela famosa cena, bastante utilizada em filmes e desenhos animados, onde o personagem, em situação de indecisão, a partir de um diálogo interno se depara com as figuras de um anjinho e um diabinho, cada qual sugerindo tomar uma decisão diferente. Receba novas postagens direto no seu WhatsApp. Embora não seja o mais cientificamente preciso, esse é o exemplo de mais fácil compreensão. Imagine que você é o Ego , e a todo o momento é influenciado nas suas tomadas de decisões por um diabinho ( Id ), que quer saciar seus desejos mais sombrios e incontroláveis a todo custo; e de outro lado um anjinho ( Superego ), que não cansa de tolir cada movimento seu através do seu jeito controlador. Em outras palavras, o Id atende aos desejos, aos instintos. Já o Superego trata de dar conta da moral, do que é certo ou errado. Crianças costumam ser mais impacientes e imediatistas justamente por não terem seu sistema psíquico totalmente formado. É por esse motivo que os pais precisam fazer o papel do Superego, dando limites a elas. Isso é fundamental para um desenvolvimento saudável. Agora, imagine a seguinte situação: Quem tem filho(s) sabe que a hora das compras no mercado com ele(s) pode ser um grande desafio. No que dependesse das crianças, todos os meses deixaríamos nosso salário inteiro no supermercado somente em doces e guloseimas. No entanto, suponhamos que seu filho recebeu uma educação exemplar. Você enquanto figura parental presente, ativa e responsável conseguiu impor limites ao seu filho, ensinando a ele que nem tudo que está na prateleira pode ser simplesmente empurrado para dentro do carrinho como que se suas posses fossem infinitas. Uma vez no mercado, você combina com seu filho que ele pode escolher uma guloseima (dentre as milhares de opções) para levar pra casa. No entanto, seu filho neste dia resolve escolher aquela que é extremamente prejudicial à saúde. Você, talvez desconhecendo essa informação, pode dar o produto ao seu filho. Ou, enquanto pai (ou mãe) zeloso(a) que é, tem algumas alternativas: a primeira é a de, caso não soubesse do que se tratava a guloseima, pesquisar no rótulo do doce sua composição e, para os mais neuróticos, até buscar na internet informações sobre os componentes do produto. De posse dessas informações, você tem a opção de tentar negociar com a criança a troca daquele produto por um mais saudável ou menos prejudicial (pelo menos), ou ainda a opção de dar aquele produto mesmo assim (na minha opinião a opção mais preocupante), a final, se é aquilo que ela quer é melhor dar de uma vez para não criar ainda mais problemas e nem correr o risco de perder o amor dela. Agora você pode estar se questionando “ mas o que toda essa baboseira psicológica, de supermercado, crianças e guloseimas tem a ver com o trânsito a final?! ” Bem, usemos a seguinte analogia: digamos que o Brasil seja a criança, até mesmo porque, em termos de segurança no trânsito, comparado a outros países, estamos ainda engatinhando… O supermercado seja o nosso trânsito e, finalmente, o pai seja o governo. Entenda que esse artigo não tem qualquer viés político. São diversas promessas de guloseimas que certamente têm encantado uma parcela bastante grande (e imatura, por assim dizer) da população: como o aumento do limite de pontuação na CNH de 20 para 40 pontos, o aumento da validade da CNH de 5 para 10 anos e, por fim, o cancelamento dos radares em rodovias federais, como pontuou recentemente de forma magnífica a colega Mércia Gomes, que é especialista em Legislação de Trânsito ( leia mais sobre ). Fico a me perguntar se mais cedo ou mais tarde não vamos nos deparar em frente a estantes de puxa-puxa os agentes de trânsito pra segurança pública, compotas de etilômetros em desuso ou até mesmo quebra-queixo de air-bags desnecessários nesse grande supermercado que é o trânsito . Vejo ultimamente pessoas nas redes sociais defenderem calorosamente tais medidas, assim como se defendessem seus times de futebol. Não podemos esquecer que, quando se trata de futebol, apenas um dos times perde. No trânsito, entretanto, todos perdemos. Não há empates, só derrotas. E não se perdem só partidas, mas vidas. Não tive ainda capacidade de entender em qual das circunstância essas medidas se enquadram: se em uma imatura ignorância ou em um puro e inconsequente populismo (e nem qual seria o pior dos dois…). Enquanto tento entender, deixo aqui uma breve reflexão aos sensatos amigos leitores: O ignorante afirma, o sábio duvida, o sensato reflete . (Aristóteles) Tem interesse pelo assunto? Gostaria de ler mais textos como esse? Então adquira agora o meu livro!

  • REDUÇÃO DE VELOCIDADE: PRECISAMOS FALAR SOBRE ISSO

    Velocidade é um assunto que já abordei em outro artigo . Recentemente, me deparei com uma notícia que me deixou positivamente surpreso : um vereador porto-alegrense havia entregado na câmara um projeto que previa a redução da velocidade máxima de 60km/h para 50km/h para veículos leves e de 40km/h para os pesados. No entanto, tão surpreso quanto fiquei com a notícias, fiquei com os comentários das pessoas sobre a proposta do vereador. Negativamente, é claro… Embora grande parte da população desconheça esse fato, esse vereador não está reinventando a roda. A redução de velocidade em perímetros urbanos é uma tendência mundial que já virou realidade em diversos países desenvolvidos, sobretudo da Europa. A OMS (Organização Mundial da Saúde) já tem há alguns anos sugerido essa medida para a redução da mortalidade no trânsito. Receba novas postagens direto no seu WhatsApp. Após quase ser execrado, foi o que eu tentei explicar para um gerente do órgão gestor do trânsito onde trabalho após sugerir a mesma redução durante um workshop como forma de alcançar as metas de redução de acidentes fatais buscada pela empresa no ano de 2019. Mas, infelizmente, não é apenas a sociedade civil que desconhece esses dados. Em 2015 tivemos as experiências da redução de velocidade das marginais paulistas Tietê e Pinheiros, nas quais, após alguns meses de redução drástica nos índices de acidentes fatais e aumento da velocidade média de 13km/h para 17km/h, voltou-se atrás e aumentou-se novamente a velocidade numa manobra política visivelmente populista. E mesmo que a preocupação maior não fosse com os acidente, mas única e simplesmente com a fluidez, ainda assim a redução seria uma boa alternativa. O vídeo a baixo explica como a constância na velocidade é capaz de impedir que os engarrafamentos se formem: Usando a referência do vídeo, enquanto os carros autônomos não tomam as ruas e nós não deixamos de dirigir como macacos, quem sabe podemos esboçar alguma mudança não só no trânsito, mas na sociedade como um todo, nos informando melhor, estudando mais e, assim, abandonando um pouco do senso comum e também deixarmos de votar como macacos? Tem interesse pelo assunto? Gostaria de ler mais textos como esse? Então adquira agora o meu livro!

  • UMA DESCOBERTA EXPLOSIVA SOBRE O TRÂNSITO

    No último final de semana, minha esposa e eu assistimos ao recém lançado filme Oppenheimer. Nele, é contada a história de J. Robert Oppenheimer, um físico teórico americano que desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento da bomba atômica durante a Segunda Guerra Mundial. Ele liderou o Projeto Manhattan, uma iniciativa ultrassecreta dos Estados Unidos para criar a primeira arma nuclear. No entanto, a criação da bomba levantou questões éticas e morais sobre seu uso. Apesar das preocupações, a bomba foi finalmente utilizada em Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945, levando à morte aproximadamente 260 mil pessoas, à rendição do Japão e ao fim da Segunda Guerra Mundial. A contribuição de Oppenheimer foi vital para o sucesso do Projeto Manhattan, mas, após a guerra, ele enfrentou críticas e dilemas pessoais devido ao uso da bomba. Sua história é um exemplo complexo da interseção entre ciência, política e ética. Receba novas postagens direto no seu WhatsApp. Terminado o filme, minha esposa questiona se, na minha opinião, Oppenheimer teve alguma culpa no ataque ao Japão, tendo ele sido um dos maiores responsáveis pela criação da bomba. No meu ponto de vista ele teve tanta culpa quanto Karl Benz tem pelas mortes no trânsito. Não acho razoável, culpar quem criou a ferramenta , ainda que com finalidades bélicas, pelas vidas que ela eventualmente venha a tirar. Além do mais, o Projeto Manhattan não apenas resultou no desenvolvimento da bomba atômica, mas também deixou um legado tecnológico vasto e diversificado. Muitas das tecnologias desenvolvidas originalmente para fins militares encontraram aplicações benéficas em uma variedade de campos, incluindo energia, medicina, ciência dos materiais e pesquisa científica em geral. Ainda que sob protestos da minha esposa, segundo a qual nossas conversas sempre acabam mais cedo ou mais tarde no tema trânsito, não pude deixar de lembrar de uma antiga postagem, onde dois homens das cavernas discutem sobre o potencial da recém descoberta roda de causar mortes no futuro. Não quero aqui de forma alguma minimizar os bombardeios ocorridos em Hiroshima e Nagasaki, um dos episódios, sem sombra de dúvidas, mais lamentáveis da história da humanidade. O fato é que, apenas nos últimos dez anos, o trânsito já ceifou do mundo inteiro uma quantidade de vidas 50 vezes maior. Ou seja, o equivalente à explosão de 100 bombas atômicas! Dessa forma, fica evidente que a descoberta explosiva é que de todas as armas inventadas pelo homem, nenhuma é capaz de tirar tantas vidas de maneira tão natural quanto o automóvel. Tem interesse pelo assunto? Gostaria de ler mais textos como esse? Então adquira agora o meu livro!

  • COMPORTAMENTO AUTODESTRUTIVO: VALE A PENA MORRER POR UMA BICICLETA?

    Recentemente, participei como jurado em um julgamento que me deixou um gosto amargo de inquietação. Um rapaz de 27 anos foi alvejado por um bombeiro militar após avançar sobre ele durante uma tentativa de imobilização. O motivo inicial era uma discussão acalorada com o síndico do prédio por conta do furto de sua bicicleta. A abordagem durou longos vinte minutos, com ordens sendo desobedecidas, aproximações constantes e crescente tensão. O primeiro tiro veio pouco antes da chegada da polícia. O segundo, logo em seguida. O rapaz sobreviveu, mas após meses de internação, recusa de tratamento, resistência aos cuidados e episódios de agressividade hospitalar, acabou falecendo em decorrência de uma infecção. O júri foi técnico, dentro dos limites da lei. Mas o silêncio gritante daquela história parecia dizer algo mais: será que aquele jovem estava tentando morrer? Esse episódio me remeteu a tantos outros que escuto, leio ou analiso no campo da psicologia do trânsito. Pessoas que se lançam na frente de carros, que atravessam rodovias movimentadas ignorando passarelas, que caminham entre faixas sem sequer olhar para o lado. Seriam apenas distraídos? Pressa? Imprudência? Às vezes, sim. Mas nem sempre. A psicologia já estuda há algum tempo o fenômeno do suicídio indireto  — aquele que não se anuncia com cartas ou bilhetes, mas com gestos, com omissões, com silêncios. Não é o ato consciente de quem quer morrer, mas o comportamento recorrente de quem já não vê mais sentido em viver . Gente que parece dizer: “Se acontecer, aconteceu.” É o que vemos em muitos acidentes de trânsito — e também fora deles. A pessoa não se mata, mas permite ser morta  pela própria negligência com a própria vida. Ou melhor: pelo excesso de dor, impulsividade, solidão ou desamparo que a impede de zelar por si. Em algumas investigações de atropelamentos fatais, os motoristas relatam: “Ele se jogou na frente.” “Não tentou escapar.” “Olhou pra mim e veio.” Em outros, os pedestres estavam sob efeito de álcool, ou simplesmente ignoraram a sinalização, mesmo com passarelas a poucos metros. A pressa não explica tudo. O sofrimento sim. Seja em avenidas ou corredores hospitalares, o comportamento autodestrutivo, de quem se autossabota, desafia a morte ou recusa o cuidado pode estar sinalizando um pedido desesperado de ajuda. Mas quem escuta esses sinais? Quem lê esses corpos? No tribunal, avalia-se o que está nos autos. Mas na sociedade, no trânsito e na vida, precisamos aprender a ver o invisível : a dor que grita sem voz, os atos que se repetem em ciclos autodestrutivos, os sujeitos que carregam bombas-relógio de sofrimento nas costas. Aquele rapaz, assim como tantos que morrem nos asfaltos da cidade, talvez não quisesse morrer. Mas também não fazia questão de viver . É nesse espaço ambíguo que a psicologia precisa entrar. Não para absolver nem julgar, mas para compreender . E talvez, com isso, prevenir .

  • O SUV DA FAMÍLIA PRADO: ENTRE FICÇÃO E REALIDADE

    Há algum tempo, escrevi um texto sobre uma família fictícia chamada Prado. Cansados das limitações logísticas para reunirem-se anualmente, decidiram dar um passo além: compraram um ônibus. Nada mais justo, afinal, se o objetivo era transportar todos com conforto e segurança, por que se contentar com pouco? No entanto, aquilo que durante os encontros da família tornou-se um sonho, no restante do ano transformou-se num verdadeiro martírio. As dificuldades iam desde lugar para estacionar até os custos com manutenção e consumo de combustível. O curioso (ou talvez nem tanto) é que, algum tempo depois, minha ficção ganhou um paralelo inesperado na realidade. Meu compadre fez sua própria versão do "Plano Prado". Obviamente ele não adquiriu um ônibus, mas, para acomodar os amigos nas suas frequentes viagens para acampar, optou por um Toyota Prado - um SUV de sete lugares, 4,85 metros de comprimento e mais de duas toneladas. A aquisição trouxe consigo um dilema digno de fábula: o carro simplesmente não cabe na vaga do prédio. Sim, um veículo tão grande que não cabe na própria casa. Resultado? O SUV agora dorme na rua, exposto ao tempo e aos riscos. Essa ironia - do nome, da ficção que virou realidade, da falta de espaço para tanto carro - não é um caso isolado. Como já discuti em outros textos , SUVs são como elefantes de estimação: imponentes, caros e difíceis de acomodar. Sim, oferecem uma sensação de segurança, mas às custas de uma série de problemas que poucos se dão ao trabalho de considerar: maior consumo de combustível, mais poluição, riscos aumentados para pedestres e ciclistas e, claro, a eterna dificuldade de estacionar sem invadir territórios alheios. Mas a fascinação pelos SUVs segue firme. Eles vendem um ideal de poder, aventura e robustez -mesmo que a maior "trilha" que enfrentem seja subir a rua até a padaria. E assim, seguimos nessa curiosa escalada do excesso: saímos dos hatchbacks para os sedãs, dos sedãs para os SUVs compactos, dos compactos para os gigantes de sete lugares, e, quem sabe, daqui a alguns anos, estaremos realmente comprando ônibus para garantir o “conforto” familiar. Se isso acontecer, ao menos minha crônica terá se antecipado à tendência. Até lá, seguimos torcendo para que o próximo passo dessa evolução não exija carteira de motorista categoria D - ou brevê. Tem interesse pelo assunto? Gostaria de ler mais textos como esse? Então adquira agora o meu livro!

  • QUANDO MÁQUINAS VALEM MAIS QUE PESSOAS

    No trânsito das grandes cidades, há imagens que dizem mais do que mil palavras. Uma delas presenciei recentemente enquanto ia para o trabalho de ônibus: o contraste gritante entre um caminhão-cegonha carregado de carros novos e um ônibus lotado de trabalhadores a caminho do serviço. Um reluz, chamando atenção pelo brilho da lataria impecável; o outro segue seu percurso, pesado não apenas pelo excesso de passageiros, mas pelo peso invisível da indiferença social. Sentado num daqueles bancos voltados para trás, pude assistir de camarote o momento exato em que o ônibus, pelo corredor exclusivo, ultrapassou o caminhão cegonha, fazendo uma onda de cabeças girarem para trás. Dezenas de olhos sonhadores acompanharam o caminhão pela janela, como que a assistirem a uma top model na passarela de um desfile de moda. Os carros no alto da cegonha são vistos como tesouros, tratados com extremo cuidado, cobertos por plásticos protetores e, muitas vezes, até segurados contra qualquer dano antes mesmo de rodarem um único quilômetro. Já os trabalhadores espremidos dentro do ônibus são tratados como peças descartáveis do sistema. Sem conforto, sem espaço, sem a dignidade que merecem. Como se fossem menos valiosos que as máquinas que ajudam a produzir e se endividam para consumir. Essa cena nos leva a uma pergunta desconfortável: por que nossa sociedade parece atribuir mais valor a bens materiais do que às pessoas que realmente movem o mundo? Por que a chegada de novos automóveis desperta mais admiração do que a luta diária daqueles que enfrentam horas em transportes públicos precários para garantir o funcionamento da cidade? Não há nada de errado em apreciar carros. O problema está na distorção daquilo que realmente deveria ser valorizado. Investimos bilhões em rodovias para facilitar o trânsito de mercadorias e automóveis, mas relutamos em garantir transporte público decente. Celebramos os lançamentos da indústria automobilística, mas ignoramos o aperto, o cansaço e a exaustão dos que dependem de ônibus e trens superlotados. E se a lógica fosse invertida? Se os trabalhadores fossem tratados com o mesmo zelo dispensado aos veículos novos? Se os ônibus fossem tão bem projetados e confortáveis quanto os carros que nos encantam nas propagandas? Se as pessoas fossem vistas como o verdadeiro motor da sociedade, e não apenas como passageiros invisíveis de um sistema que insiste em colocá-las no banco de trás? No fim das contas, a grande questão não é sobre carros ou ônibus. É sobre o que escolhemos valorizar. Talvez, um dia, possamos olhar para o trânsito e ver menos desigualdade sobre rodas e mais respeito pela dignidade humana. Até lá, seguimos como estamos: admirando a cegonha, ignorando o ônibus e fingindo que não há nada de errado numa sociedade onde máquinas valem mais que pessoas.

  • MONITORAMENTO ELETRÔNICO: QUANDO A MÁQUINA NÃO PODE SUBSTITUIR O HOMEM

    Quem acompanha o meu trabalho e lê os meus textos já pôde perceber que sou completamente aficionado por tecnologia, sobretudo quando se refere ao trânsito. As máquinas possibilitaram ao homem uma vida, dentre outras coisas, mais cômoda e segura. Um exemplo disso diz respeito a questão da velocidade, uma das maiores causas de acidentes fatais, sobre a qual escrevi outro artigo há pouco tempo. Através de tecnologias disponíveis em alguns modelos mais modernos é possível um maior controle desse fator, por meio de dispositivos eletrônicos, que podem emitir avisos sonoros ao condutor quando esse ultrapassa determinada velocidade e até mesmo bloqueadores, que cortam o suprimento de combustível do motor, impedindo que o mesmo siga acelerando. Mas, infelizmente essas tecnologias não estão à disposição de todos. E, mesmo quando estão, não garantem uma condução segura e dentro dos limites de velocidades estabelecidos para a via. É nesses casos que entra em ação uma outra tecnologia que é sempre bastante questionada de monitoramento eletrônico. Não pretendo aqui entrar em discussão sobre isso, pois como agente de trânsito não poderia ser contrário a uma tecnologia que visa salvar vida, mesmo que 50 metros depois do aparelho o condutor volte a acelerar. Ocorre que há cerca de um mês fui questionado por uma vizinha que havia recebido uma autuação no mínimo curiosa. Segundo ela, estava saindo de uma via transversal e acessando uma avenida, na qual, há cerca de um ano, fora instalada à direita da via uma faixa exclusiva para ônibus em determinados horários do dia. Até então tudo bem, ela apenas se limitou a perguntar qual era a distância máxima permitida para rodar por essa faixa caso fosse acessar a via ou mesmo um lote lindeiro ou para fazer uma conversão. A lei em questão não deixa clara esse ponto, o que acaba abrindo espaço para a interpretação do agente. Perguntei onde estava o agente que a autuou. Geralmente o que se costuma praticar é de dar um espaço de uma quadra para que o veículo possa fazer a manobra com antecedência, segurança e sem comprometer a fluidez do trânsito. Foi aí que veio a surpresa: ela disse que não havia agente algum, que ela teria sido autuada por um controlador de velocidade eletrônico que existe no local. Me mostrou até uma foto do auto de infração, na qual estava a imagem do carro dela e, no campo “agente”, a marca e modelo do aparelho. Perguntei se ela estava acima de 60km/h, ela respondeu que não e nem poderia, pois a pouco mais de 20 metros havia acessado a via e que, devido ao fluxo intenso do horário, só conseguiu mudar de faixa após o controlador. No campo “infração” constava trafegar pela faixa exclusiva para ônibus. Relatou ainda que diversos conhecidos dela que moravam em um condomínio próximo estavam sendo autuados diariamente pelo mesmo motivo quando acessavam o condomínio. Recentemente, moradores de um bairro próximo bloquearam uma avenida como forma de protesto por estarem sendo autuados pelo mesmo motivo por um pardal, conforme o vídeo a seguir: Imagine você ser levado pela sinalização até uma rua de mão única, mas sem saída. Ao retornar dessa rua, você se depara com uma câmera de monitoramento que, alguns dias depois, envia diretamente para a sua casa uma autuação por andar na contramão. É mais ou menos o que tem acontecido nesses locais. Não estou sugerindo que voltemos a ter, assim como vemos nos filmes antigos, aquela figura do patrulheiro rodoviário dentro da viatura, escondida atrás de um outdoor, aguardando um condutor passar em alta velocidade para persegui-lo e abordá-lo. Muito pelo contrário… Mas é preciso convir que, nesses casos, nada substitui a percepção e o bom senso do agente ao perceber quando o condutor não estava simplesmente trafegando pela faixa exclusiva, mas estava entrando ou saindo de um estabelecimento, de uma via adjacente ou mesmo realizando um embarque ou desembarque. Nas palestras que eu realizo em empresas, escolas e demais instituições, um dos fatos que eu sempre levava pra refutar as constantes acusações ainda existentes de “indústria da multa” e seus assemelhados, era que, apesar de já haver legislação que permita, a EPTC não utilizava das suas mais de 100 câmeras espalhadas pela cidade para multar. Talvez agora seja melhor eu rever meu repertório de subterfúgios… Tem interesse pelo assunto? Gostaria de ler mais textos como esse? Então adquira agora o meu livro!

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