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  • COMO SALVAR QUEM NEM SABE QUE PRECISA SER SALVO?

    A Revolta da Vacina foi um movimento popular ocorrido no início do século passado no Rio de Janeiro, capital do país na época. Sua causa principal foi a lei que determinava a obrigatoriedade da vacinação contra a varíola, embora possa também ser associada a causas sociais, como as reformas urbanas que vinham sendo implementadas pelo então prefeito Pereira Passos e as campanhas de saneamento, encabeçadas pelo médico Oswaldo Cruz. Qualquer reforma urbana realizada, seja ela planejada ou não, impacta diretamente na mobilidade local. Mas não é exatamente esse o ponto que quero abordar no texto de hoje, mas a questão da saúde, por isso o exemplo da vacina. Eu gosto de usar essa analogia nas palestras , quando sou questionado sobre as campanhas educativas voltadas ao trânsito (ou a falta delas). Uma campanha de vacinação só tem sucesso se divulgada e se a população entender a sua importância e se sentir parte da mudança. Do contrário, ninguém iria se vacinar por vontade própria! E se hoje já há uma cultura de que as pessoas tomem certas vacinas, é porque foi feito isso há algum tempo atrás. Não dá pra cobrar que a equipe se saúde bata de casa em casa pedindo para as pessoas se vacinarem… tá na hora da Secretaria de Saúde inteira entrar em ação e lançar uma campanha! CALMA LÁ, RODRIGO… O QUE EXATAMENTE UMA CAMPANHA DE VACINAÇÃO TEM A VER COM O TRÂNSITO?! Para explicar a minha analogia eu preciso contextualizar minimamente a situação do trânsito por aqui. Porto Alegre faz parte desde 2011 do Programa Vida no Trânsito (PVT), que foi criado pelo Ministério da Saúde e visa, de forma intersetorial, isso é, envolvendo não só os órgão da área da saúde, mas da segurança pública e da gestão de trânsito, no intuito de melhorar além da captação de dados, o pronto atendimento de vítimas de acidentes de trânsito, bem como conhecer quem está morrendo e porque, para pensar, a partir de dados estatísticos concretos, em campanhas de forma preventiva e não apenas reativa, além de subsidiar os eixos da engenharia e fiscalização. O PVT foi uma das ações realizadas no Brasil para colaborar com as metas propostas pela Década de Ação para Segurança Viária de redução de 50% no número de mortes no trânsito até 2020. Meta a qual Porto Alegre, conforme o gráfico abaixo, já alcançou com dois anos de antecedência. Fonte: https://eptctransparente.com.br/acidentes No entanto, apesar da ótima notícia, o gráfico traz um dado incompleto ou desatualizado: o número de 56 morte referentes ao ano de 2019 provavelmente é parcial, talvez de Janeiro à Setembro, pois, até o dia da publicação desse texto, temos o mesmo número de vítimas fatais de 2018. Esses dados nos levam a triste constatação de que, após 4 anos seguidos de redução, no ano de 2019 essa redução não se manteve. E o pior, esse número ainda pode subir, levando-se em consideração que, desde 2009, Porto Alegre segue a sugestão da Organização Mundial de Saúde de acompanhar as vítimas de acidentes de transito por até 30 dias de hospitalização. Portanto, se uma pessoa que se acidentou em dezembro de 2019 vir a óbito no hospital até de 30 de Janeiro de 2020, esse dado é computado no ano de 2019. Como já mencionei nesse outro artigo , Porto Alegre hoje é considerada a capital do idoso. Por isso, não causa espanto o fato de que aproximadamente 30% das vítimas de acidentes de trânsito fatais na cidade envolvam esse público, sobretudo com o aumento tanto da expectativa quanto da qualidade vida. Segundo dados do PVT, dessas 75 vítimas, 22 eram idosos. O ano de 2020 infelizmente começou seguindo a mesma tendência. A primeira vítima do ano foi uma senhora de 73 anos, atropelada no final da tarde do último sábado, dia 4, numa avenida de grande circulação da zona sul da cidade. O fato deixou as autoridades de trânsito da cidade em alerta, pensando em mais ações que possam ser feitas para atingir o público em questão. E é nesse ponto que quero voltar a campanha de vacinação. Os órgãos gestores de trânsito obviamente têm a responsabilidade de manterem um trânsito seguro e índices de acidentalidade os mais baixos possíveis. Entretanto, assim como em campanhas de vacinação, a população tem de fazer a sua parte e assumir o compromisso e o protagonismo nessa mudança. Já na Revolta da Vacina, a população se posicionou de forma ativa porque não queria ser vacinada. Mas o que fazer quando as pessoas não sabem que precisam ser vacinadas? O que fazer quando morrem 1,3 milhões de pessoas por ano em todo mundo acometidas por um “vírus” que, embora já diagnosticado, poucos parecem ver? A Varíola só foi considerada erradicada pela Organização Mundial da Saúde em 1980 e, entre os sobreviventes da doença, as sequelas mais comuns eram a extensa cicatrizes na pele e cegueira. Talvez isso explique a atual dificuldade para enxergar soluções para a problemática do trânsito… Tem interesse pelo assunto? Gostaria de ler mais textos como esse? Então adquira agora o meu livro!

  • A TECNOLOGIA ESTÁ NOS DEIXANDO ANTISSOCIAIS. SERÁ?

    Dia destes, enquanto navegava pelo LinkedIn, me deparei com uma postagem de uma Designer de Produto, especialista em Neurociência, chamada Carolina Cruz Perrone. Na postagem , ilustrada pela imagem a seguir, ela aborda de forma extremamente instigante esse que é um debate com o qual sempre me deparo quando o assunto é tecnologia. Ela questiona: Em tempos de demonização do digital, fica a reflexão. A tecnologia molda o comportamento, ou o comportamento molda a tecnologia? (Toda essa tecnologia está nos deixando antissociais) Tal questionamento me remete a um artigo que escrevi há algum tempo sobre Haters , termo muito utilizado nos meios virtuais, ou seja, internet e redes sociais, para definir pessoas que costumam tecer duras críticas a pessoas, instituições ou mesmo situações. No entanto, não foi na Internet que esse tipo de discurso de ódio surgiu. Ela é apenas a ferramenta ou meio utilizado atualmente para a disseminação de uma prática que acompanha a humanidade desde as mais priscas eras! Quem nunca ouviu falar naquela máxima da caneta que pode ser utilizada para furar os olhos do seu inimigo ou para assinar um tratado de paz com o mesmo? Ora, a ferramenta é a mesma. O que difere é o uso que se faz dela. Agora, culpar a caneta pelas intermináveis guerras que a humanidade tem travado ao longo de sua existência me parece, no mínimo, insensato… Seria sensato afirmar que os controles remotos nos deixaram mais preguiçosos? Que a Internet nos fez mais ansiosos? Ou ainda, que os veículos automotores nos tornaram mais sedentários? Isso, para mim, soa como afirmar que se a população mundial está com sobrepeso é por culpa das balanças! Na já tão habitual “ Terceirização da Culpa ” humana, a bola da vez é a tecnologia. Parece que nesse divã de intermináveis negações e conflitos internos, a humanidade precisa começar a aceitar não só suas culpas, mas suas preguiças, suas ansiedades, seus sedentarismos e sobrepesos para, só então, quebrado esse espelho que reflete essa distorcida imagem narcisista de nós mesmos, começarmos a (des)construção do ser humano. Não aquele que queremos, mas aquele que de fato precisamos ser. Tem interesse pelo assunto? Gostaria de ler mais textos como esse? Então adquira agora o meu livro!

  • ENSURDECEDORES OU SILENCIOSOS? COMO SERÁ A MOBILIDADE DO FUTURO?

    Há aproximadamente uns 15 anos, me dirigia para o trabalho numa ensolarada manhã de domingo. Eis que ao longe escuto um ronco, o qual jamais havia ouvido igual. O som aos poucos parecia aumentar, como se fosse uma besta demoníaca, emergindo das profundezas, prestes a rasgar o solo e me atacar a qualquer momento. Antes mesmo que eu pudesse identificar o ruído e de onde ele vinha, de uma rua transversal surge aquela imponente máquina vermelha, com seu teto conversível recolhido, levando em seu interior um casal de meia idade. Na traseira, há poucos centímetros de mim, reluzia o “Cavallino Rampante” prateado, como a passar uma mensagem de “não se aproxime!”. Receba novas postagens direto no seu WhatsApp. Ainda que, na época, utilizasse um escapamento esportivo na minha motocicleta, seu som fora completamente abafado pelo motor da Ferrari. Rodava majestosa e tranquila a não mais que 60 km/h. E mesmo estando em baixa rotação, em segunda marcha (talvez até primeira!), aquele ronco parecia ecoar dentro do meu capacete, com uma força que dava a impressão que estouraria meus tímpanos mais cedo ou mais tarde. Assim que o fluxo de veículos diminuiu e a via ficou livre, tão inesperadamente quanto surgira, o carro acelerou e em questão de 2 ou 3 segundo eu não mais o via. “Não posso perdê-lo de vista” – pensei, enquanto baixava para uma terceira marcha e fechava o punho. 80, 90, 100 km/h e nada. Nenhum sinal daquela bufante máquina vermelha… Conformado em não mais encontrá-la, reduzi novamente à velocidade condizente com a via. Mas, a 1 km ou 2 mais adiante, num semáforo vermelho, voltei a encontrá-la, tão somente para dizer adeus. No momento em que o sinal ficou verde, ela deu uma guinada à direita e seguimos caminhos diferentes. O som da besta a voltar para as profundezas de onde viera agora ecoava somente na minha memória. É um consenso entre aqueles apaixonados por carros que uma das coisas que mais trazem prazer ao condutor é justamente o ronco do motor. Era um sentimento que eu compartilhava até os meus 20 e poucos anos, enquanto curtia meu “cano esportivo”. Mas é bem verdade que, com o passar do tempo, certos gostos mudam. Como mencionei em outro artigo , recentemente mudei para um bairro mais central da cidade. Nessa região, há pouco mais de um ano, surgiu um serviço de transporte por aplicativo para curtas distâncias chamado Grilo Mobilidade . O diferencial desse serviço está no fato de utilizarem pequenos triciclos elétricos, com cabine fechada, que comportam até dois passageiros e mais o condutor. Dia desses, enquanto dobrava a esquina em direção ao mercado, ouvi um som que me despertou algumas reflexões. Dessa vez não se tratava do ronco de uma Ferrari, mas do suave som emitido pelo motor elétrico de um dos triciclos da Grilo. A primeira imagem que me veio a mente, confesso, foi a daquela imponente Ferrari com seu ronco ensurdecedor. “Quanta diferença…” – pensei comigo mesmo. E quase instantaneamente passei a imaginar uma cidade inteira só com veículos elétricos como aquele e nos impactos que isso teria na vida das pessoas. Não só pela questão da poluição atmosférica, mas, principalmente, pela poluição sonora. O barulho dos motores que anteriormente, enquanto morava em um bairro tranquilo da zona sul da cidade, quase não me perturbavam, agora, morando em uma região central, passaram a ser percebidos. Diversas montadoras que estão migrando para a eletrificação de seus veículos têm discutido essa questão. Algumas, inclusive, têm até equipado seus modelos com som de motor artificial para agradarem a motoristas mais tradicionais e até para alertarem eventuais pedestres desavisados. Confesso que até hoje o ronco de um motor potente ainda me causa certa euforia. Mas, no que diz respeito à mobilidade urbana, estou mais inclinado a esperar por uma cidade não tão veloz, mais sustentável e silenciosa. E você, que cidade espera para o futuro? Tem interesse pelo assunto? Gostaria de ler mais textos como esse? Então adquira agora o meu livro!

  • BICICLETA: QUAL A SUA HISTÓRIA COM ELA?

    Envolto em um clima natalino, me pus a pensar que, para muitas crianças, essa é a época na qual, muitas vezes, ganha-se a primeira bicicleta. Comigo não foi diferente. Receba novas postagens direto no seu WhatsApp. Não lembro com que idade especificamente, talvez com uns quatro ou cinco anos. Mas lembro que era um modelo Cross, aro 20 e que ganhei da minha madrinha. Ela já havia sido usada pelo filho dela, que tinha alguns anos a mais que eu e que, por esse motivo, já deveria estar pequena pra ele. Mas lembro que pra mim ela era imensa! Tanto que pra subir nela, lembro que tinha que por um banquinho! E foi assim que eu a utilizei durante algum tempo: encostada na parede, subia num banquinho, montava nela e ficava pedalando pra trás, imaginando longos passeios pelo bairro, já que ainda não sabia pedalar sem rodinhas… Até que, antes mesmo de tentar aprender, meu primeiro tombo aconteceu. Certa feita, enquanto desmontava da bicicleta depois de um dos meus tantos passeios imaginários, enrosquei meu pé no quadro da bicicleta, fazendo com que eu me desequilibrasse e, embora caísse de pé ao lado da bicicleta, não tive tempo para desviar do guidão, que caiu meticulosamente sobre o dedão do meu pé e quebrando minha unha exatamente pela metade. Passado algum tempo (e também o primeiro trauma), brincava na rua com um amigo que me trouxe um presente que havia ganhado do avô: uma Monark Monareta azul, aro 20, muito parecida com a da imagem acima. Aquela bicicleta me marcou, primeiro pelo seu desenho nada usual para a época (início dos anos 90). Mas principalmente porque foi nela em que eu finalmente dei minhas primeiras pedaladas (pedaladas reais, pra frente dessa vez…). Trauma completamente superado e habilidade de pedalar sem rodinhas dominada, fiz as pazes com a minha Cross, que era muito melhor que a Monareta do meu amigo, na qual eu havia aprendido. Entretanto, com o passar dos anos, começaram a aparecer na minha rua as primeiras bicicletas com marchas. A primeira foi de seis. Alguns Natais depois, uma de dezoito. Todas tinham aro 26. Então, a minha velha Cross aro 20 começou a me parecer sem graça e ultrapassada. Foi só no Natal de 1994 que ganhei minha primeira bicicleta nova. Fui o último da rua, mas valeu esperar, pois a minha tinha não 6, nem 18, mas 21 marchas! Por alguns anos ela me acompanhou, alguns tombos caímos juntos. Mas no início da adolescência nossa relação já não era mais tão próxima e ela acabou relegada a algum canto da casa. Até que, aos meus 14 anos, ela virou moeda de troca. Vendida por 50 reais (que acredite, na época era uma quantia considerável), dinheiro que serviu para, junto com outros 50 da venda de alguns cd’s de Rock, pagar a minha primeira tatuagem que, devido à idade, eu obviamente fiz escondido. Desenhei Metallica na parte interna no braço esquerdo, desenho o qual minha mãe foi descobrir apenas 4 ou 5 anos depois. Passados uns 10 anos sem pedalar, com a correria que a vida adulta nos impõe, a bicicleta me pareceu uma maneira viável de fazer algum exercício, que acabara virando raridade na minha rotina. Infelizmente, àquela época, não encontrava condições financeiras favoráveis para investir num modelo melhor, então acabei comprando uma bem simples mesmo (daquelas baratinhas que a gente pode comprar no Walmart com o vale alimentação da empresa!). Atualmente, como já citei nesse outro artigo , depois de uma pequena reforma, ela tem me acompanhado constantemente nos deslocamentos diários para o trabalho. Espero que ainda tenhamos várias histórias e aventuras pra compartilhar. E você, qual a sua história com a bicicleta? Compartilhe com a gente aí nos comentários! Tem interesse pelo assunto? Gostaria de ler mais textos como esse? Então adquira agora o meu livro!

  • A MORTE VISITA A OMS

    Estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgado no dia 7 de dezembro, mostra aumento contínuo das mortes no trânsito. Pelos dados do relatório, 1,35 milhão de pessoas perde a vida todos os anos em decorrência de acidentes de trânsito . Os dados mais alarmantes estão em países da África. Para especialistas, os governos reduziram os esforços na busca por solução para o problema. O Relatório da Situação Global da OMS sobre segurança no trânsito de 2018 destaca que as lesões causadas pelo trânsito são hoje a principal causa de morte de crianças e jovens entre 5 e 29 anos . O documento inclui informações sobre o aumento no número total de mortes e que as taxas de mortalidade da população mundial se estabilizaram nos últimos anos. “Essas mortes são um preço inaceitável a pagar pela mobilidade”, disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus. “Este relatório é um apelo aos governos e parceiros para que tomem medidas muito maiores para executar essas medidas”, acrescentou o especialista. Os relatórios de status global da OMS sobre segurança no trânsito são divulgados a cada dois ou três anos e servem como ferramenta de monitoramento para a Década de Ação para Segurança Viária 2011-2020. Mortes Pelo relatório, o risco no trânsito é três vezes maior nos países de baixa renda do que nos de alta renda. As taxas são mais elevadas em países da África e mais baixas na Europa. Três regiões do mundo relataram um declínio nas taxas de mortalidade no trânsito: Américas, Europa e Pacífico Ocidental. Segundo as informações, os pedestres e ciclistas são responsáveis por 26% de todas as mortes no trânsito, enquanto os motociclistas e passageiros por 28%. De acordo com o relatório, apenas 40 países, representando 1 bilhão de pessoas, implementaram pelo menos sete ou todos os oito padrões de segurança de veículos das Nações Unidas. Avanços De acordo com o estudo, apesar do alerta, houve progressos, pois a legislação de forma geral foi aperfeiçoada, visando à redução de riscos, o excesso de velocidade e vetos à ingestão de bebida alcoólica antes da direção. Também há menção à obrigatoriedade ao uso de cintos de segurança e capacetes. Há ainda citações sobre a preocupação com cuidados relativos às crianças, a adoção de infraestrutura mais segura, como calçadas e pistas exclusivas para ciclistas e motociclistas, melhores padrões de veículos, como os que exigem controle eletrônico de estabilidade e frenagem avançada e aprimoramento dos cuidados pós-colisão. O relatório mostra que essas medidas contribuíram para a redução das mortes no trânsito em 48 países de renda média e alta. O documento informa que não há dados sobre redução no total de mortes nos países de baixa renda. Fonte: DNIT Tem interesse pelo assunto? Gostaria de ler mais textos como esse? Então adquira agora o meu livro ! Saiba mais

  • “SINGELA” FRANQUIA

    Estarrecidos. Assim encontrava-se aquele jovem casal com o olhar distante a analisar o estrago feito naquele tranquilo cruzamento do bairro Menino Deus (Porto Alegre). Essa foi à primeira ocorrência do turno que se estenderia até a manhã seguinte. Num quente final de tarde de sábado, em meados do ano de 2012, encontramos meu colega e eu, os veículos imobilizados junto ao meio-fio, cada qual em uma via. As avarias, à primeira vista, pareciam ser pequenas. Procuramos averiguar, como de costume, se havia em algum dos carros alguém ferido. Nada, apenas danos materiais. Seguimos com os procedimentos habituais como recolhimento dos dados dos veículos e dos condutores, levantamento dos danos de cada veículo e, finalmente, com as explicações acerca das medidas a serem tomadas pelas partes. Receba novas postagens direto no seu WhatsApp. No humilde GM Corsa, que deveria ser de meados da década de 90 e custar menos de 10 mil reais, além do para-choque dianteiro, a grade e faróis quebrados, o capô amassado. Nada que uma boa chapeação e um “martelinho de ouro” não resolvessem. No entanto, no importado Hyundai Azera que, na época, estalava de tão novo e, que muito provavelmente valia mais de 100 mil reais, um extenso e profundo “amassão” percorria toda a lateral esquerda, iniciando no para-lama dianteiro, se estendendo pelas portas dianteira e traseira e findando para além do para-lama traseiro. Procuramos reunir as partes para tratar das últimas orientações. De um lado o aborrecido dono do importado, um senhor com seus 50 e poucos anos, cabelos grisalhos e traje alto esporte. De outro, um jovem e simples casal com seus 20 e poucos anos. Ela, mais comunicativa, tentava encontrar alternativas para resolver o problema. Ele, talvez de posse de seu primeiro carro, se perguntava, perplexo, como havia cometido um erro tão primário, passando sem parar por um cruzamento onde a preferência era do outro veículo. Confesso que a mesma pergunta rondava a minha mente naquele instante. Talvez imprudência, inexperiência ou pura falta de atenção. Não importava. O estrago já estava feito. Foi então que, na ânsia de encontrar alternativas para resolver o impasse de forma amigável e que não envolvesse nenhum processo judiciário, a menina dirigiu a palavra ao dono do Hyundai. Perguntou-lhe se o seu carro tinha seguro e de quanto era a franquia. Antes mesmo de ouvir a resposta, ela se prontificou a pagar a franquia, contanto que o senhor solicitasse ao seguro o conserto de ambos os carros. Para surpresa de todos ali presentes, com um grande ar de indiferença, o proprietário do importado responde: “Ah, nem sei quanto custa a franquia! Acho que uns dez mil…”. Aquela frase ficou por alguns segundos ecoando pelo ar, fazendo com que os dois jovens se olhassem com ar de espanto e desânimo. Parece que só então a menina deu-se conta do tamanho do prejuízo que o companheiro e ela teriam. Inevitavelmente me coloquei no lugar daqueles jovens. Então, me pus a pensar o que faria naquela situação. Para tal circunstância apenas uma alternativa me passou pela cabeça: perguntaria, humildemente, se o senhor aceitaria como forma de pagamento as chaves do meu carro! E para evitar maiores incômodos e dores de cabeça com processos judiciários, perguntaria se ele se importava em receber pelos próximos dois, talvez três anos, uns 100 ou 200 reais por mês para cobrir o saldo da dívida que o valor do meu carro, por si só, nunca cobriria… Tem interesse pelo assunto? Gostaria de ler mais textos como esse? Então adquira agora o meu livro!

  • O CARRASCO CONTEMPORÂNEO

    Madrugada da véspera de Natal, em torno de 1:30 da manhã. Estava, na época ainda na fiscalização, em uma operação de blitz num bairro da zona central de Porto Alegre. Abordo um carro popular, não lembro ao certo o modelo, mas lembro que era de um vermelho vívido, como a memória dessa abordagem que, mesmo já tendo passado alguns anos, ainda me provoca um certo nó no estômago. Receba novas postagens direto no seu WhatsApp! No veículo, uma mãe com seus dois filhos. Ao solicitar à condutora os documentos do veículo e a habilitação (naquela época ainda de porte obrigatório) ela me entrega sua CNH e informa já ter pago o licenciamento, mas que ainda não havia recebido o documento do veículo, mostrando inclusive os comprovantes do pagamento. Tive de informá-la sobre as sanções cabíveis àquela época: multa e apreensão do veículo. Assim como que a assistir a uma cena de um filme do qual já conhecemos o final, os próximos minutos se seguiram repletos de justificativas, choro e agressões verbais, as quais o caro amigo leitor já pode imaginar... Pode ser bastante frustrante, em alguns momentos como esse, exercer uma função que não lhe dê o benefício da discricionariedade. Ou seja, na qual você não tenha autonomia para escolher o que e em que momentos fazer algo, incorrendo, inclusive, no crime de prevaricação caso não cumpra com alguma obrigação. Principalmente quando a maior parte da sociedade desconhece essas obrigações, o que acaba lhe rendendo quase sempre a imagem de carrasco. É exatamente essa analogia que o professor Rômulo Tadeu traz, explicando de forma genial porque os agentes de trânsito são uma das profissões mais odiadas pela sociedade no vídeo a seguir, postado no seu canal do YouTube, o Trânsito Livre. Confira: Em terras onde reina a TERCEIRIZAÇÃO DA CULPA E O RELATIVISMO MORAL NO TRÂNSITO, onde a velocidade do condutor autuado não é questionada, mas sim a visibilidade do agente autuador, onde os eleitores brigam com uma paixão futebolística por políticos e não por projetos, fica o questionamento: até quando seguiremos beijando os anéis das mãos erradas? Mãos que deveriam nos dar proteção e vidas dignas, que nos possibilitassem manter nossos bens e não tirá-los cada vez mais. Tem interesse pelo assunto? Gostaria de ler mais textos como esse? Então adquira agora o meu livro!

  • PRÓLOGO

    Da janela de um ônibus, me pus a pensar nos caminhos pelos quais aquela viagem me havia levado. Viagem longa, muitas vezes turbulenta. Mas que trazia consigo memórias de imagens belíssimas. E por alguns minutos, naquela janela, diante de uma manhã cinzenta e abafada de agosto, uma dessas imagens povoou minha mente, tornando pesada minha respiração, me apertando o peito e me enchendo os olhos de lágrimas. Lembranças da minha mais tenra infância. De quando, sozinho ou acompanhado de um ou dois amigos, ao final de um dia repleto de jogos e brincadeiras, sentava-me cansado sobre o meio-fio da calçada e, durante horas, divertia-me fazendo caretas e tentando imitar a “cara” dos carros que passavam pela rua. Muitos me sorriam. Outros tantos me lançavam olhares furiosos, como de feras famintas prontas para dar o bote. E já ao anoitecer, alguns, que por ventura passavam com um dos faróis queimados, pareciam, assim, piscar amigavelmente. Pois sim, embora hoje pareça loucura ou mesmo negligência, sou de uma época em que as crianças podiam se dar ao luxo de ficar até a noite brincando na rua. Ou melhor, podiam se dar ao luxo de BRINCAR NA RUA! Já que hoje a violência urbana, independentemente do horário, fez com que nossas crianças nem se quer conheçam o prazer de jogar taco, brincar de pic-esconde, pega-pega, e etc… No horário de verão então… esperávamos o ano inteiro para termos aquela hora a mais de liberdade diária. Certa feita, na falta dos atuais smartphones e jogos digitais, lembro de convidar um amigo para brincar de, simplesmente, acenar para os carros que passavam. Tal tarefa nos rendeu boas horas de distração, apenas pela esperança de alguma reciprocidade. Então lá ficávamos, da calçada, a acenar para os carros. Minha parca idade, de cerca de seis ou sete anos, não me permitia na época quantificar estatisticamente uma amostra de comportamentos. Mas lembro bem que, para uma via local, obtivemos um bom índice de respostas. Obviamente que a grande maioria sequer nos enxergava. Alguns outros só olhavam sem entender o porquê daquele gesto. E outros poucos buzinavam ou acenavam de volta. A brincadeira só teve fim quando uma resposta bastante inesperada nos fez voltar, bastante envergonhados, cada um para sua casa e procurar outra coisa para fazer. Foi quando, ao acenarmos, o carro subitamente parou, abriu a porta e o condutor questionou: “para onde vai?”. Havíamos acenado para um táxi! Mal sabia eu que, por volta de mais de vinte anos depois, aquilo que por muito tempo fora simples diversão de criança, tornar-se-ia um analisador de tamanha importância em minha vida acadêmica e profissional… Brincadeiras de criança à parte, uma das primeiras reflexões que fiz ao começar a trabalhar no trânsito e estudar Psicologia foi: como pode fazer tanta diferença um aceno com a mão, daqueles sinais de positivo ou também conhecidos como “joinha”; de simplesmente sinalizar com o indicador de direção, ou “pisca”, para pedir passagem ou realizarmos uma manobra. Não sei aí, mas aqui onde moro você mofa até que uma alma caridosa decida lhe dar passagem se você somente ligar o “pisca”. No entanto, é como mágica, quando você abre a janela, um pedacinho que seja, e lasca um “joinha” as pessoas simplesmente param! Parecem lembrar “Opa! Ali dentro tem uma pessoa…” Talvez devêssemos resgatar nossas crianças interiores e lembrá-las que, por mais furiosa que pareça a “cara” daquele carro que passa por nós, lá dentro existe um ser humano, com sonhos, desejos, medos e anseios. Então, não se envergonhe! Manda logo um “joinha” e sigamos com a vida! Para que quando olhemos pela janela na viagem das nossas vidas possamos também ver apenas belíssimas imagens… Tem interesse pelo assunto? Gostaria de ler mais textos como esse? Então adquira agora o meu livro!

  • UMA SAÍDA À FRANCESA

    Ninguém sabe ao certo a origem da expressão “saída à francesa”, que popularmente nos é equivalente à expressão “sair de fininho”, discretamente, sem ser percebido ou sem fazer alarde. Há historiadores que acreditam que essa expressão tenha sido criada pelos ingleses e seja tão antiga quanto a rivalidade entre os dois países. Ainda que não tenha descendência nem inglesa ou tampouco francesa, essa sempre foi uma característica minha, no entanto. Minha esposa, inclusive, costuma brincar me chamando de “amigo do fim”, devido ao meu hábito de sair cedo de eventos sociais e, quase sempre, procurando não ser notado. “Mas onde você quer chegar com toda essa história, Rodrigo?” – você pode estar se perguntando. Não se preocupe… Antes que você pense em “sair à francesa” desta página eu explicarei. Prometo! Mas antes, é curioso pensar que no Brasil, como já mencionei em outro artigo , temos o registro de que o primeiro veículo a pisar… ou melhor, a rodar no nosso solo tenha sido trazido da França por Santos Dumont, conhecido como o “Pai da Aviação”, que desde muito jovem tinha muito interesse pelas “fascinantes máquinas modernas”. Por isso, em 1890, ele adquiriu seu primeiro carro, um Peugeot, que foi desembarcado no porto de Santos no ano posterior. Acontecimento que causou um enorme alvoroço. O emblema da Peugeot, segundo o Jornal do Carro , surgiu em meados do século XVIII, bem antes de a francesa produzir automóveis. Por volta de 1850, a empresa precisou criar um logotipo para identificar seus produtos. Assim, foram feitos três escudos para diferentes categorias: uma mão, uma lua crescente e um leão. Depois de algum tempo, o leão passou a identificar os produtos da marca, e foi evoluindo as formas desde então. Ele já existia quando a Peugeot lançou seu primeiro motor a combustão, no fim do século XIX. O leão foi o escolhido desde sempre por transmitir força e nobreza. Contudo, entre os mecânicos e aficionados por carros, é comum ouvir aqueles que criticam duramente veículos de montadoras francesas, seja pelo custo de manutenção, seja pela desvalorização ou seja pela dificuldade na hora da revenda. Sem carro por opção desde 2018, como já contei nesse artigo , é comum em situações onde o transporte público ou por aplicativo não me atendam, alugar carros. Isso me permite experimentar diferentes marcas e modelos, conforme a minha necessidade e conveniência. De lá pra cá, fora um amor de verão ou outro, nenhum fora capaz de me fazer esquecer aquela antiga paixão . Até agora… Durante as últimas férias de inverno, aluguei um veículo por apenas um dia para um compromisso breve. Por não se tratar de nenhuma viagem longa que justificasse um carro maior, optei por um modelo compacto, como de costume. Porém, na hora da retirada do veículo no balcão da locadora, me foi ofertada a possibilidade de um upgrade para um veículo de melhor motorização. Como ficaria apenas uma diária e a diferença era consideravelmente baixa, resolvi aceitar. Foi só quando a atendente voltou ao balcão de posse da chave do carro que a curiosidade acabou. Assim que ela deixou a chave sobre o balcão, fazendo reluzir aquele leão prateado no seu verso, foi que tive a certeza que apenas foi reforçada pela sua voz dizendo essas duas palavras: Peugeot 208. Nunca imaginei que sentiria algo parecido com o que senti ao entrar naquele carro. Aquela diária me transportou não apenas para os destinos que eu havia planejado, mas para outros sequer imaginados. A sensação de ter nas mãos aquela direção tão pequena me remeteu à minha infância, quando me imaginava no cockpit de um carro de formula 1. Chegou a hora de dormir e minha vontade era reclinar o banco e ficar por ali mesmo… Quando acordei no dia seguinte, a primeira coisa que pensei foi em entrar naquele carro e sair dirigindo sem rumo, até que chegasse a hora de entregá-lo de volta à locadora. E quando dei por mim estava na serra gaúcha, em um passeio que não estava nem perto do meu roteiro original. Chegando de volta à locadora no entardecer de um domingo ensolarado, enquanto o atendente recebia o veículo e fazia o checklist , lembro dele ter perguntado “E então senhor, gostou do carro?”. A primeira resposta que passou pela minha cabeça foi um “NOSSA… ADOREI!”. Mas me limitei a um simples “Eh, até que é bom…”. Mais para convencer a mim mesmo do que a ele. Assim que o atendente me liberou, saquei o celular e fui logo chamando um aplicativo para voltar para casa. E sem sequer olhar para trás (antes que eu me arrependesse), saí da loja e, como de praxe, fiz uma nova “saída a francesa”. No mais amplo sentido do termo…

  • DIREITOS DEMAIS, DEVERES… NEM TANTO

    Minha vida profissional começou bastante cedo e, muitas vezes, seguiu por caminhos um tanto quanto diversificados (digamos assim…). Meu primeiro emprego de carteira assinada foi como “office-boy”. Mas, antes disso já havia tido experiências que iam de cuidador de cães (ou dog sitter, como eu costumava chamar) até atendente em vídeo locadora. Uma das minhas experiências mais atuais foi no transporte público, como cobrador de ônibus em uma empresa pública de Porto Alegre, na qual trabalhei durante uns quatro anos aproximadamente. Desses, guardo na memória diversas histórias, suficientes para escrever um livro. Uma delas, no entanto, me segue nítida como se tivesse ocorrido ontem, sobretudo quando o assunto gira em torno de direitos e deveres. Estava eu sentado na minha roleta, naquele que parecia ser mais um dia comum de trabalho. A tabela em questão era em uma linha que, historicamente, é conhecida pela quantidade relativamente grande de idosos que transporta. Isso muito em função dos bairros pelos quais passava. Não raro o ônibus encontrava-se cheio na parte da frente, onde ficam os assentos exclusivos para idosos, gestantes e pessoas com alguma deficiência, mas vazio depois da roleta. Em uma parada, uma senhora de meia idade embarca, caminhando com dificuldade e segurando duas muletas. Ela parecia não ter idade suficiente para utilizar os assentos para idosos, mas pela sua condição física, compreensivelmente, ficou na parte da frente do ônibus. No entanto, pela falta de assentos vagos naquela parte no coletivo, manteve-se de pé, próxima ao motorista, assim como diversos outros passageiros. Inesperadamente o ônibus para. O motorista puxa o freio estacionário e se põe de pé. “Estragou o ônibus”, pensei. Em tom altivo ele diz: “Pessoal, o negócio é o seguinte: essa senhora aqui embarcou no ônibus e veio me dizer que passou por uma cirurgia e que não pode ficar de pé. Mas eu expliquei que o ônibus tá cheio, que se ela quisesse se sentar, que podia passar a roleta que tinha mais assentos no fundo do ônibus. Mas ela diz que não pode fazer esforço e que se ela cair vai me processar. Então eu não vou seguir viagem! “ Conclusão da história: quase que instantaneamente diversos passageiros levantaram-se cedendo seus lugares à senhora de muletas. Preocupados, obviamente, muito mais com a continuidade de suas viagens e com o cumprimento de seus compromisso que com o bem estar da senhora ou com a ameaça ao trabalho do motorista. Constrangida, ela limitou-se a agradecer a gentileza e sentar-se sem mais espalhafato. Esse episódio suscita algumas reflexões, algumas mais razoáveis, outras nem tanto. Mas, dessa vez, antes de emitir as minhas opiniões sobre o fato, queria propor a você, caro leitor, uma dinâmica diferente: gostaria de debater a cerca das SUAS REFLEXÕES. O que você pensa sobre esse episódio? Acha que o motorista fez certo? Você teria tomado outra atitude? Que implicações a qualidade do transporte público tem sobre acontecimentos como esse? Tem interesse pelo assunto? Gostaria de ler mais textos como esse? Então adquira agora o meu livro!

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