RECLAMAR OU COMUNICAR? A TÊNUE LINHA ENTRE O DIREITO E A RESPONSABILIDADE
- Rodrigo Vargas
- 24 de abr.
- 2 min de leitura

Ontem, ao sair do meu apartamento, notei que o botão utilizado para chamar o elevador estava desencaixado da parede, pendurado pelos fios. A cena me chamou atenção. Hoje pela manhã, ao encontrar o botão ainda no mesmo estado, imaginei que a síndica do condomínio talvez nem soubesse da situação. Resolvi avisá-la. De fato, ela não havia sido informada — tampouco pelos moradores dos outros quatro apartamentos do andar.
Lembrei-me então do período em que fui síndico. Em um condomínio com seis torres de onze andares, problemas assim podem facilmente passar despercebidos por 24 horas ou até mais. Ainda assim, não era incomum ver moradores indo às redes sociais para denunciar que “a luz da entrada do bloco C está queimada há dias” ou que “a torneira da pia do quiosque 4 está pingando há semanas”, como se isso bastasse para resolver o problema — ou, talvez, como se o objetivo nem fosse a solução, mas a exposição pública.
Esse episódio me fez pensar nas reclamações que muitas pessoas fazem pelas redes sociais aos órgãos gestores municipais. Quando alguém grava um vídeo mostrando um buraco na rua ou faz um post indignado sobre a coleta de lixo, fico me perguntando: essa pessoa quer mesmo resolver o problema ou quer “causar” nas redes sociais? Será que ela conhece os canais adequados para encaminhar a demanda? Ou será que os próprios órgãos públicos não tornam esse acesso mais difícil do que deveria ser?
Há, sim, um desafio de comunicação entre cidadão e gestão. E ele passa por três questões fundamentais: a responsabilidade do cidadão em comunicar pelos meios certos, a necessidade dos órgãos públicos em tornar esse acesso menos burocrático e mais acolhedor, e, por fim, a cultura digital em que tudo vira post antes de virar providência.
O certo é que, tanto o condômino quanto o cidadão têm não só o direito, mas a obrigação de cobrar. Cobrar quando uma luz do corredor ou do poste está queimada. Cobrar quando o lixo não é recolhido ou quando um horário não é cumprido — seja o do silêncio no condomínio ou o do ônibus que atrasa na parada. Mas cobrar exige algo anterior: comunicar. Comunicar com responsabilidade, empatia e senso de comunidade.
Antes de ir às redes sociais, que tal ir à portaria, ao e-mail da síndica, ao 156 ou ao protocolo digital da prefeitura? Reclamar é legítimo, mas contribuir para a solução é ainda mais poderoso.
Comments