QUANDO A PUNIÇÃO É PARA TODOS, MENOS PARA QUEM MERECE SER CORIGIDO
- Rodrigo Vargas
- 18 de jun.
- 2 min de leitura

Durante meus mais de 20 anos de atuação profissional, tive a honra de trabalhar com alguns gestores dignos de serem chamados de líderes. Diversos outros, no entanto, foram apenas chefes. Algo que sempre me chateou profundamente nesses casos é o que, ao longo dos anos, presenciei em inúmeras situações — sobretudo naquelas reuniões (que geralmente poderiam ter sido um e-mail) e que eu apelidei de “mijadas coletivas”.
Imagine a cena: alguém da equipe tem um comportamento inadequado — chegar atrasado, usar o uniforme de forma desleixada, descumprir um procedimento. Em vez de chamar essa pessoa para uma conversa direta e honesta, o gestor prefere levar o problema para a pauta da reunião geral, em tom de sermão coletivo. Ninguém é citado nominalmente, claro. Mas todos são obrigados a escutar um discurso que não lhes diz respeito.
O resultado? O verdadeiro destinatário da bronca se esconde na multidão e segue como antes. Já os demais saem desmotivados, com a sensação de injustiça por serem incluídos num pacote que não lhes pertence.
Pois bem: essa lógica de punição coletiva, tão frequente no ambiente organizacional, também se repete nas ruas. No trânsito brasileiro, bons motoristas são, diariamente, penalizados por medidas pensadas para conter os maus. Um dos exemplos mais óbvios disso é a lombada física — aquela elevação imposta a todos, independente da conduta de cada um.
Se você dirige com prudência, dentro do limite de velocidade, ainda assim será obrigado a reduzir bruscamente, correr o risco de danificar o veículo ou gerar desconforto em passageiros. Tudo isso porque alguém, em algum momento, abusou da velocidade naquele trecho.
É aí que entra uma inspiração vinda da Suécia: o Actibump. Um dispositivo instalado em vias públicas que detecta, por sensores, a velocidade de cada veículo que se aproxima. Se o condutor estiver dentro do limite, a pista permanece plana e nada acontece. Mas se exceder o permitido, uma seção da pista se retrai, gerando um leve rebaixamento que causa desconforto — apenas para ele. Sem “mijadas coletivas”. Sem punição genérica. Apenas uma resposta pontual ao comportamento inadequado.
O Actibump representa o que falta tanto nas ruas quanto nas organizações: a capacidade de distinguir quem age corretamente de quem insiste em não aprender. Ele promove segurança, claro, mas também promove justiça. E talvez isso seja o mais urgente — nas rodovias, nos escritórios e nas lideranças.
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