POR QUE É TÃO DIFÍCIL IMITAR O QUE DÁ CERTO NO TRÂNSITO BRASILEIRO?
- Rodrigo Vargas
- 7 de mai.
- 2 min de leitura

O brasileiro é, sem sombra de dúvidas, um dos povos mais criativos que existem (se não o mais!). Foi exatamente o que pensei quando me deparei com a imagem abaixo, ilustrando a notícia de que o Tribunal de Justiça condenou o proprietário de um supermercado do interior de São Paulo a pagar uma indenização de R$ 20 mil ao Grupo Carrefour devido ao uso de nome e logotipo considerados semelhantes aos da rede francesa, configurando concorrência desleal e violação de propriedade industrial.

Muito embora a criatividade seja a capacidade de gerar, avaliar e aprimorar ideias, resultando em soluções originais e úteis num contexto específico, o que não foi exatamente o caso. E, aparentemente, também não foi o caso do Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV) ao criar a campanha do Maio Amarelo desse ano. A iniciativa que conta com apoio de diversas empresas, entidades e também do governo federal, parece imitar outra peça publicitária criada em 2013 pela Associação de Parentes, Amigos e Vitimas de Transito – TRÂNSITOAMIGO.

O plágio é uma prática criminosa segundo consta na Lei nª 9.610/98 que trata dos direitos autorais. No entanto, não quero aqui me ater a processos legais que, no que diz respeito à segurança viária, em nada auxiliariam. Em vez disso, convido o caro leitor a refletir: será que queremos mesmo mudar o trânsito, ou apenas parecer que estamos fazendo algo? Sem um engajamento real com as causas e com a educação transformadora, estaremos sempre só imitando — "mal e porcamente".
No Brasil, diversas barreiras culturais e institucionais dificultam a adoção efetiva de boas práticas de segurança viária inspiradas em países desenvolvidos. Uma delas é a valorização da "esperteza" como traço social, que muitas vezes se sobrepõe à ética coletiva e ao respeito às normas de convivência — o famoso "se der para passar, eu passo", mesmo que isso coloque vidas em risco. Soma-se a isso a fragilidade das políticas públicas, marcadas por ações pontuais e descontinuadas, que frequentemente priorizam a aparência de comprometimento em vez de resultados concretos.
As campanhas educativas, por sua vez, costumam carecer de aprofundamento pedagógico e raramente são avaliadas quanto ao seu impacto real. Além disso, há uma resistência cultural persistente à aceitação de limites, como o respeito às leis de trânsito ou o uso de dispositivos de segurança, vistos muitas vezes como imposições e não como cuidados com a vida. Tudo isso revela que o problema não está apenas na ausência de boas ideias, mas na incapacidade ou indisposição de colocá-las em prática com seriedade e continuidade.
Países que alcançaram altos níveis de segurança viária fizeram isso não apenas com campanhas, mas por meio de políticas consistentes, baseadas em dados, fiscalização rigorosa, investimento em infraestrutura segura e, principalmente, educação contínua. Copiar um vídeo ou um slogan não é o mesmo que entender e internalizar essa cultura. Isso sim é algo que merece ser copiado.
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