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O GERENTE DE RISCO MORTO POR UM RISCO HÁ MUITO NÃO GRENCIADO

Atualizado: 23 de jun.

O GERENTE DE RISCO MORTO POR UM RISCO HÁ MUITO NÃO GRENCIADO

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Porto Alegre foi uma das cidades pioneiras, ainda nos anos 1980, na adoção de corredores exclusivos de ônibus — herdeira direta das ideias de prioridade ao transporte coletivo que se espalharam pelo país. A proposta era clara: dar fluidez ao deslocamento urbano e tornar o transporte público competitivo frente ao carro particular.



De lá para cá, o que era para ser solução virou, em muitos trechos, cenário de abusos. O respeito às faixas exclusivas foi se diluindo entre exceções: ambulâncias, viaturas, táxis e sempre uma constante, muita pressa. O que era prioridade virou atalho. E o que era segurança virou risco.


Não à toa, os atropelamentos nos corredores da cidade passaram a se repetir com uma frequência incômoda — quase sempre com os mesmos protagonistas. Em 2018, um trabalhador de limpeza foi atropelado por uma viatura da Brigada Militar. Em 2021, um idoso de 76 anos tombou após ser atingido por uma viatura da Polícia Civil. E agora, em 2025, a cidade assiste ao terceiro ato dessa trágica repetição: Gustavo Ferrarin, 30 anos, atropelado também por uma viatura da Polícia Civil na contramão, em pleno corredor da Avenida Carlos Gomes.

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A ironia? Gustavo era gerente de risco. Sim, trabalhava para identificar, mapear e mitigar situações perigosas na empresa da família — um papel que, infelizmente, não o protegeu do maior risco de todos: ser pedestre em Porto Alegre. É irônico, sim. Mas não no sentido cômico. É irônico no sentido fúnebre, na semântica cruel da cidade que já se habituou a ver pedestres tombarem nas ruas sem que ninguém pare de fato para pensar: que tipo de risco estamos mesmo dispostos a gerenciar?


Aparentemente, os corredores são vias rápidas — para a pressa, para o descaso e, com frequência, para a tragédia. A diferença é que, neste último caso, a vítima não era "qualquer um". Era alguém com sobrenome, cargo de liderança e função que beira o trágico simbolismo. O mesmo corredor pensado para proteger vidas virou avenida para desfile da morte. E, como em tragédias bem escritas, a coincidência final parece roteiro: o homem que geria riscos morreu justamente por um risco institucionalizado — o da exceção virando regra, o da pressa vencendo o cuidado, o da autoridade atropelando a cidadania. Tudo isso numa cidade onde faixas exclusivas já não são mais tão exclusivas assim.



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