Desde o século II, alguns cristãos já rezavam pelos falecidos, visitando os túmulos dos mártires para rezar pelos que morreram. No século V, a Igreja dedicava um dia do ano para rezar por todos os mortos, pelos quais ninguém rezava e dos quais ninguém lembrava. Mas foi apenas no século XIII que esse dia anual passou a ser comemorado em 2 de novembro, porque no dia 1º de novembro é comemorado o Dia de Todos os Santos.
Da minha infância, trago algumas memórias peculiares do dia de Finados. Passei boa parte dela morando ao lado de um cemitério. Dessa experiência, criei um ditado que costumo repetir a vizinhos e amigos quando enfrentam algum conflito com seus vizinhos: não há vizinhança mais tranquila que a de um cemitério!
Porém, essa máxima não se aplicava aos dias 2 de novembro de cada ano. Aquela que costumava ser uma rua tranquila, de tráfego local, transformava-se completamente. Antes mesmo do amanhecer, um número incontável de vendedores de flores amontoavam-se sobre as calçadas esperando seus clientes que não tardavam a aparecer. E, aos poucos, uma silenciosa e cabisbaixa procissão surgia para prestar suas condolências.
Entretanto, ainda que silenciosa, aquela multidão causava um grande rebuliço no trânsito local, suscitando bloqueios, desvios e sinalizações provisórias. E, no que diz respeito ao trânsito, talvez pouca gente saiba (exceto aqueles que trabalham na área, é claro), mas existe uma espécie de dia dos Finados específico para vítimas de trânsito. Instituído pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 2005, o terceiro domingo de novembro marca o Dia Mundial em Memória das Vítimas de Trânsito.
Sobre esse assunto, o grande mestre J. Pedro Correa escreveu recentemente um ótimo artigo, no qual ele expõe sua frustração diante da inação dos órgãos gestores de trânsito, da banalização das fatalidades no trânsito e da falta de reconhecimento da data em memória daqueles que perderam a vida em tais eventos. Frustração a qual eu compreendo e compartilho fortemente.
Mas, deixando o pessimismo de lado por um momento (ou não), se o dia de reza cristã pelos que ninguém lembrava no século V só no século XIII foi render um feriado que merecesse ser lembrado e reconhecido mundialmente, talvez, na melhor das hipóteses, o Dia Mundial em Memória das Vítimas de Trânsito nos próximos 50 anos receba também algum reconhecimento…
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