Enquanto esperava o semáforo abrir, observava, no canteiro central de um dos cruzamentos da avenida onde moro, amontoadas as bandeiras dos candidatos a mais uma eleição municipal que ocorrerá em breve. Eis que sou abordado por um rapaz que vem em direção à janela do meu carro com alguns panfletos em mãos. De que candidato deve ser? - penso eu.
E não é que eu estava errado? Contrariando a todas as minhas expectativas (ou falta de), tratava-se apenas de uma propaganda de um novo empreendimento imobiliário que será lançado na região daqui a alguns meses. Mais impressionante do que a sua estrutura, de um verdadeiro "resort ", era um grande balão estampado em letras garrafais sobre o mapa de localização do empreendimento, na contracapa do material, com a mensagem Walk Score 95.
Ainda que a definição parecesse óbvia, até mesmo pela ótima localização do futuro condomínio, decidi pesquisar mais a respeito do tal escore. Após uma busca no Google, acessei o site https://www.walkscore.com no qual você é recepcionado pelo slogan “Live where you love” ou seja, “viva onde você ama”. Trata-se de um programa desenvolvido nos Estado Unidos e amplamente utilizado principalmente pelo mercado imobiliário. Ela utiliza dados coletados em sites abertos e sites oficiais de cada cidade, conferindo pontuações para a classificação da caminhabilidade, representando a facilidade de acesso às atividades cotidianas que um pedestre pode encontrar em tais áreas, como o acesso ao transporte público, facilidades para uso da bicicleta ou comércio próximo.
Para alguém que morava até pouco tempo numa região bem mais central da cidade, confesso ter ficado curioso em saber qual o escore da minha atual residência. Rápida pesquisa pelo endereço e... escore 85. Pesquisa o nosso antigo apartamento! - sugeriu minha esposa. Surpreso, respondi: 99!
Se você ainda não acessou o site e pesquisou pelo seu endereço, tenho certeza que estava pensando em fazer isso agora mesmo, não é? Mas se acalme... espere só mais um minuto. Não saia sem que antes eu possa lhe provocar uma reflexão. Prometo não me alongar...
É interessante pensar que, não só a caminhabilidade, como a mobilidade no geral, assim como o saneamento básico de sua região, a iluminação, o policiamento, a oferta de escolas, de centros de saúde, de comercio, ofertas de emprego, transporte... tudo isso depende de vontade política. Vontade daqueles que, a cada 4 anos, seja no âmbito municipal, estadual ou seja no federal, atrolham nossos canteiros de bandeiras, nossos carros de adesivos e inundam nossas calçadas de santinhos.
Foi nesse momento que me peguei pensando: E para políticos, não deveria existir um escore também? E será que já não existe? Nova pesquisa. Eis que encontro o site https://politicos.org.br/, o qual disponibiliza um raking dos deputados e senadores. E, para a minha total surpresa, os melhores obtiveram notas 8,86 e 8,90, respectivamente.
Ainda que seja a forma mais antiga de locomoção, no Brasil ainda não foi possível, até então, consolidar a cultura da caminhabilidade. Tudo em função da políticas adotadas historicamente. Em contrapartida, na democracia brasileira, que não é tão antiga quanto caminhar, não consolidou-se, até então, a cultura de escolher os políticos por suas ideias e projetos e não "adotá-los" (para não dizer idolatrá-los), como se tem feito historicamente. Não sei ao certo qual será o escore dessa caminhada, mas sem dúvidas será longa, repleta de bandeiras, adesivos e santinhos.
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