
Recentemente, fui convidado para ser o mestre de cerimônia do evento que promoveu o sorteio dos pontos fixos de táxi no município de Porto Alegre. Ainda que acostumado com palcos e microfones em função das palestras, como fora a minha primeira vez como cerimonialista, confesso ter sentido um certo receio. Não tanto pela formalidade que o evento suscitava, mas por aquele que deve ser o maior medo não só de cerimonialista, mas apresentadores, locutores e radialistas: sobrenomes.
Quando li no cerimonial que no momento do sorteio, eu deveria ler o número do prefixo do táxi e o nome do permissionário, minha maior preocupação foi "e se me aparece um João Krzysztof ou um Cesar Kieślowski?" Felizmente, vi meu medo se dissolver quando um dos organizadores me informou que não era necessário dizer o nome do permissionário, apenas o número do prefixo sorteado (para a minha sorte).
Tão logo recebi essa informação, enquanto fazia os últimos ajustes no cerimonial incluindo e alterando as autoridades presentes, recebo também um documento que deveria ser lido: a ata de fechamento da urna, assinada pelos três últimos permissionários, garantindo que a mesma fora devidamente lacrada. E para o meu espanto o que eu vejo quando leio os nomes? Não, não se preocupe... Não havia nenhum Krzysztof ou Kieślowski. Mas o último dos três permissionários chamava-se HUBER.
Claramente um nome de origem germânica. No entanto, em função da fonética, é impossível não fazer relação com a famosa empresa de transportes por aplicativo. Isso me pareceu tão irônico quanto alguém da família Bacon se tornasse cardiologista ou um pneumologista chamado Marlboro! O que me fez lembrar de um urologista que consultei certa feita que chamava-se Caio. Lembro de ter comentado com a minha esposa: "Ainda bem que o sobrenome desse médico não é Pinto, pois se fosse ele dificilmente arranjaria pacientes...
No fim das contas, o evento transcorreu sem grandes tropeços – nem nos sobrenomes, nem no cerimonial. Mas ao observar aquele sistema de sorteio, com papeizinhos retirados de uma urna, não pude deixar de pensar no contraste entre o tradicional e o moderno. Enquanto os aplicativos de transporte revolucionaram a mobilidade com algoritmos e inteligência artificial, o sistema de táxi de Porto Alegre ainda define seus pontos fixos com a simplicidade de um sorteio manual.
Não que o método seja necessariamente ruim – há algo de democrático e transparente nesse ritual quase solene. Mas talvez seja também um lembrete de que tradição e inovação não precisam ser opostos. Assim como o nome de um permissionário pode remeter a uma empresa de tecnologia sem que um tenha qualquer relação com o outro, o futuro do táxi pode muito bem abraçar a modernidade sem perder sua essência.
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